O Trap Nunca Esteve Tão Forte

Gênero ganhou força e criou identidade própria apoderando-se de elementos de outros estilos

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Lá em 2012, um gênero chamava atenção de todo o mundo, inclusive nós aqui pontuamos que seria tendência no ano seguinte. Algo que veio quase que por acaso, viralizou e chegou no ouvido da maioria que se diz antenada nas redes sociais. Todo mundo se viu, em algum momento, vendo ou dançando uma estrutura que vinha com uma quebra após uma progressão, algo que posteriormente se difundiria como Trap. Pra quem não sabe, o estilo surgiu em 2000, mas estourou após vídeos que muitos fizeram do hit de Baauer, Harlem Shake. O gênero vem como um “Post-Dubstep”, não o estilo, mas o subgênero do mesmo, focando muito nos agudos e no BPM arrastado, bem similar ao de Hip Hop.

Nesse “boom”, alguns bons produtores chamaram atenção – entre eles Dillon Francis e Munchi – mas perceberam que estavam só reaplicando a mesma fórmula: Muita base instrumental igual, somente pacote de sintetizadores e samples diferentes. Sabemos que essa é uma cultura normal para descobrimento de novos sons, inclusive produtores calouros tem suas primeiras faixas pautadas sempre no experimental, muito focada em cortes de vocal e nas bases. Após um tempo que aquilo ficou martelando nossos ouvidos, os sons cairam um pouco em desuso e o que era uma febre se tornava algo somente momentâneo. Parecia não tem mais onde ir, o Dutch já havia sido usado previamente no Moombahtoon, que também já havia sumido, alguns remixes ainda pipocavam nos fóruns – como quando Clarity, de Zedd, foi lançado pelo Brillz, ou até D. Shiggy Beats.

O que era improvável de acontecer veio como se fluisse outro estilo, bem mais maduro e independente de terceiros. O Pop, o Dancehall e o Hip Hop, desgastados de suas fórmulas, se apoderaram do Trap usando vocais específicos para trazer uma nova geração desses estilos. Já não cabiam mais tentativas, o Trap vinha não somente como uma estrutura e sim como uma nova forma de fazer esses sons. Kanye West explodiu com Mercy, 2 Chainz com Birthday Song e até Dark Horse. Posteriormente, uma coletânea de Major Lazer com muito Dancehall em Free the Universe e Apocalypse Soon. Mas não é só Hip Hop, R&B e Pop que entra nessa lista. O Trap criou uma cena própria dentro do EDM, arrastando fãs e gerando um mercado variado que consome bastante. Esse fenômeno foi reflexo da tendência que vemos da inserção da Electronic Dance Music nos outros gêneros.

Foi isso que tornou o Trap um dos estilos mais quentes da temporada. Os produtores se esforçaram para expandir o Trap e diversificar a melodia fora do próprio gênero. Pegaram aquela batida progressiva de uma ou duas notas – 808 beats – e trouxeram o Soul, o Hip Hop, o Rap, o Reggae, o Pop. O Dubstep, em 2011, tentou roubar todos os estilos para si e afundou em falta de criatividade dois anos depois. O Trap, em contra partida, cedeu sua estrutura aos gêneros. Cada um fez de seu som uma identidade própria, espalhando ainda mais a cultura e viralizando a proposta. O Trap “popeou”, mas nunca esteve tão perto de seu conceito. Estranho, não?

A incorporação de elementos do Trap em tantas identidades diferentes, em tantos estilos diferentes, deu uma característica muito peculiar ao gênero. Trouxe coragem e resistência a furar limites e ir adiante na inovação. Produtores criam novas referências e desenham o underground com cores completamente inusitadas. Isso deu oxigênio suficiente para que o estilo se reforçasse na indústria e tivesse tamanha credibilidade diante dos maiores produtores de música, seja qual gênero estivermos falando. E não existe nada melhor que isso. Música que respira, que tem vida e que se muta de acordo com o tempo.

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Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King