O Futuro Do Passado Na Trilha Sonora de Guardiões da Galáxia

Novo filme da Marvel soa atual, mesmo com sucessos de antigamente

Loading

A esta altura, muita gente já viu o novo longa dos Estúdios Marvel, Guardiões da Galáxia. Se você, leitor/a do Monkeybuzz, adentrou alguma sala de exibição neste país para se esbaldar com as aventuras do grupo de (anti) heróis marvelianos pelo universo e além, certamente ficou bolado/a com a sucessão de canções executadas ao longo do filme. E não é para menos, afinal de contas, os produtores capricharam na seleção e no conceito das escolhas, para os quais é necessária uma pequena explicação/spoiler. Sendo assim, se você ainda não viu o filme, talvez esta informação possa comprometer algum fio condutor, apesar de acharmos que isso só vai valorizar o aspecto musical do longa.

Seguinte: quando a história começa, estamos em 1988 e o jovem Peter Quail está na sala de espera de um hospital. O jovem está tristíssimo, mas parece relativamente confortado por conta do som que sai dos fones de ouvido de seu Walkman, a saber, I’m Not In Love, sucesso da banda inglesa 10 cc, de 1976. Logo descobriremos que sua mãe está no leito, à beira da morte, provavelmente por câncer e Peter é chamado para despedir-se dela. Pois bem, o que você precisa saber é que as músicas que ouviremos por toda aventura estão contidas numa fita cassete, que leva o nome de Awesome Mix vol.1, que Peter ouvia no Walkman no início do filme e que permaneceu funcionando por um bom tempo e em lugares muito distantes da Terra. Sendo assim, Peter viaja pelo espaço ouvindo as mesmas canções que fizeram sua cabeça quando criança e que foram gravadas por sua mãe. Esta é a informação spoiler, a escolha das canções se dá com a ideia de uma mãe mostrando músicas para o filho pequeno e que vão acompanhá-lo por toda a vida.

Para quem está acostumado com a lógica das músicas do ano 2014, a escolha de velhos hits setentistas parece tão nova e cheia de frescor como canções Indie atuais o seriam para gente com seus 50 anos de idade. Passado, presente e a ação ambientada num futuro colorido e fantasioso parecem habitar a mesma perspectiva. Tudo soa natural e familiar. É uma espécie de looping temporal em que o novo não se mostra cronológico, mas inédito. Boa parte do pessoal que não atingiu a casa dos 20 anos de idade jamais se deparou com estas canções e Monkeybuzz resolveu dar algumas explicações sobre elas para vocês.

– Blue Swede – Hooked On A Feeling

Banda sueca que fez sucesso nos anos 1970 com versões de gente conhecida como B.J Thomas (autor da canção), Burt Bacharach e Jose Feliciano, mas que também tinha trabalho autoral. Uma doideira total.

– Raspberries – Go All The Way

Um dos pais do grupo Teenage Fanclub, Raspberries é responsável por uma respeitabilíssima obra nos terrenos sagrados do Powerpop setentista. Com os vocais marcantes de Eric Carmen e a saudável mania de confeccionar melodias celestiais. Go All The Way é a primeira faixa do primeiro disco da banda de Ohio, lançado em 1972.

– Norman Greenbaum – Spirit In The Sky

Integrante da cena de Boston no fim dos anos 1960, Greenbaum é um daqueles típicos artistas “one hit wonder”, ou seja, fica famoso por um hit massivo e não consegue lançar nada tão relevante na carreira. Neste caso, Spirit In The Sky foi justamente este sucesso contagiante, lançada em 1970.

– David Bowie – Moonage Daydream

Uma das canções mais conhecidas da trilha, contida no sensacional e indispensável álbum Ziggy Stardust, lançado por Bowie em 1972. Em termos de visão retrô, romântica e amalucada do espaço, o velho David ainda não foi igualado.

– Elvin Bishop – Fooled Around And Fell In Love

Cantor e guitarrista californiano frequentador da segunda divisão do Rock e do Pop. Teve hits esparsos ao longo da carreira e este foi um de seus maiores, lançado em 1976, com seu sexto disco Struttin’ My Struff, chegando ao terceiro lugar da parada Billboard.

– 10 cc – I’m Not In Love

Trio de Manchester, formado por Lol Creme, Graham Gouldman e Eric Stewart, responsável por este grande hit da década de 1970. Certamente você já ouviu, seja o original de 1976 ou a versão bonitinha de The Pretenders.

– Jackson 5 – I Want You Back

Clássico atemporal e absoluto da Motown e primeiro sucesso da banda dos irmãos Jackson, direto do ano de 1969, quando lançaram sua sensacional estreia, Diana Ross Presents The Jackson 5. Qualquer adjetivo é pouco.

– Redbone – Come And Get Your Love

Banda de Los Angeles, liderada pelos indígenas Pat e Lolly Vegas, responsável por este grande sucesso mundial de 1974, contido em seu álbum Wovoka.

– The Runaways – Cherry Bomb

Hit clássico das maravilhosas Runaways https://monkeybuzz.com.br/artistas/the-runaways/, lançado em 1976. A banda formou-se em Los Angeles e teve vida curta, entre 1975 e 1979, com destaque para os dois primeiros álbuns, The Runaways (1975) (que abre com esta belezura de pouco mais de dois minutos) e Queens Of Noise (1976).

– Rupert Holmes – Escape (The Pina Colada Song)

Pequena joia do chamado AOR, o Adult Oriented Rock, aquela sonoridade bem tocada, bem feita, bem gravada, cujo ápice foi a virada da década de 1970/80. Rupert é inglês e este foi seu maior hit, do álbum Partners In Crime, de 1979.

– Five Stairsteps – Ooh Child

Grupo formado em Chicago, 1965 sob a batuta de Curtis Mayfield, lançando sete álbuns entre 1967 e 1976, com destaque absoluto para esta canção, seu maior sucesso, de 1970. No filme, ela tem um papel bastante importante, perto do final.

– Marvin Gaye e Tammi Terrell – Ain’t No Mountain High Enough

Talvez, este seja o maior dueto da história da música Pop desde sempre. Marvin no topo da forma, Tammi, sua melhor parceira, ainda bem de saúde (ela morreira pouco tempo depois, mudando para sempre a carreira de Marvin). Esta música é capaz de dar ânimo e força para o mais cético dos seres. Direto de 1968 para a trilha.

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.