Blues Rock: A história e o revival

A temática sofrida e as guitarras choradas do Blues encontram a energia e a jovialidade do Rock, resultando em um estilo que influenciou várias bandas ao longo das décadas

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Misturar um estilo tão carregado de emoção com a rebeldia de uma juventude só poderia resultar em um produto final incrível. O tradicional Blues americano, com sua guitarra sofrida, temas melancólicos e uma voz marcante e que te leva junto na história cantada, encontrava a energia das guitarras, agora agressivas, do clima dançante e das letras que falavam do lado bom de ser jovem e curtir a vida intensamente.

O Blues marcou o a primeira metade do século 20, tradicionalmente de origem ainda interiorana, sendo um dos primeiros artistas o lendário e místico Robert Johnson. Apenas no início da década de 40 e 50 é que, com a urbanização da população estadunidense, o gênero ganha uma roupagem mais energética e dançante, se tornando o Rhythm and Blues, ou R&B, e que viria a ser a base para o Rock ‘n’ Roll poucos anos depois.

O sul dos Estados Unidos foi o berço do Blues, onde os mestres como B.B. King, Howlin’ Wolf, Junior Kimbrough, Bo Diddley e Chuck Berry soaram seus primeiros acordes em suas guitarras elétricas. A genialidade em tirar o máximo de seu instrumento, o fazendo gritar e chorar quando se queria põr para fora a tristeza, era tamanha. E essa característica veio graças a influência do Rock na musicalidade blueseira, marcando o cenário musical dos EUA e se tornando uma marca registrada da cultura do país até hoje.

A década do Rock chegava nos anos 50 e 60 e era notável a influência do Blues ritmado em suas composições. Bandas como Cream, Animals e Rolling Stones (em seu começo de carreira) apresentavam um Rock com foco nas guitarras e seus power chords, mas com um aumento no tempo, até então mais lento do Blues. Dava-se a “fórmula” do Blues Rock.

Nos anos 70, o Blue Rock seria a inspiração para o Hard Rock de Led Zeppelin, Aerosmith, ZZ Top e Lynyrkd Skynyrd, esse último com um som mais sulista. Porém, bandas de Glam viriam a matar o que o Hard Rock trazia e dava-se assim o declínio do Blues Rock seja ele em sua essência ou em inspiração. Por se tratar de um estilo marcante e intrínseco na alma musical e cutural do povo dos Estados Unidos, o Blues Rock ainda pulsava na veia artística de músicos que estava criando suas primeiras canções e iam aparecer no cenário musical.

Um ano antes da virada do milênio, uma dupla de Detroit munida de guitarra, bateria e vestindo vermelho, branco e preto lançariam seu disco de estréia. The White Stripes foi um dos, se não o, responsável pelo revival do Blues Rock e o trouxe de volta com um arranjo garageiro que estava vigente na época. Com a guitarra afinada em ré e a bateria simplificada servindo de base para Jack White surtar nas cordas, o som da dupla nos remetia ao passado, trazendo um Blues Rock agora com uma energia ainda maior.

Mesmo com o fim da banda em 2010, Jack White ainda transmitia a mensagem blueseira através de suas outras bandas, como é o caso do The Dead Weather, banda a qual White se dedica à bateria e junto com outros músicos, incluindo Alison do The Kills, traz um Blues Rock mais obscuro e denso saindo um pouco do ritmo mais Garage Rock dançante dos Stripes.

O revival vinha num ritmo alucinado com discos sendo lançados constantemente. Em 2002, outra dupla surgia: The Black Keys. Como o próprio nome diz, The Big Come Up, disco de estreia da dupla, veio como um forte e grande nome para compor a revitalização do estilo. Dan e Patrick compunham seus som bem baseados na origem do Blues misturando-o com o peso mais moderno do Rock da época. A banda viria a lançar em 2003 o que para muitos é o melhor álbum de sua carreira: Thickfreakness, um álbum que mistura o Blues Rock com o Rock Clássico. A banda viria a sofrer uma alteração em seu som nos dois últimos álbuns, principalmente no último, El Camino, que traz uma mistura de Blues Rock com Indie Rock que dividiu opiniões de fãs mais antigos da banda.

Mais recentemente, outra banda que misturou o Blues Rock com algum outro estilo foi o trio inglês Band of Skulls. Com uma pegada bem Garage Rock, a banda lançou seu primeiro álbum há pouco tempo, em 2009, e possui apenas mais um em sua discografia, o recém lançado Sweet Sour. Mesmo com pouca idade, o grupo ganha destaque o suficiente para ser convidado para tocar em festivais como o Coachella desse ano.

É comum, com o passar do tempo, novas influências se misturarem a estilos antigos. Porém, há sempre aqueles artistas que trazem de volta a essência em sua primazia. É o caso de Gary Clark Jr.. O texano, que assim como The Black Keys é atração do Lollapalooza Brasil 2013, resgata brilhantemente o Blues Rock tradicional ao longo de seus oito anos de carreira.

O Blues pode ser considerado facilmente um das mais belas obras da humanidade. Sua essência e temática são belas e serviu de base para muito do que ouvimos hoje no quesito Rock. Com isso, o Blues Rock veio como sua cria e conseguiu juntar outro estilo primoroso a seu som resultando em um som completo, recheado de técnica e emoção. Um estilo que caminha aos seus 60 anos, andando de braço dado com seu irmão Rock ‘n’ Roll. Uma dupla que não tem hora para descansar.

Discografia Básica:

Robert JohnsonKing Of The Delta Blues Singers Bo DiddleyBo Diddley B.B. King feat Eric ClaptonRinding With The King Howlin’ WolfHowlin the Blues

Discografia Intermediária

CreamFresh Cream The Rolling StonesThe Rolling Stones, Now! The AnimalsAnimalism

Discografia Atual

The White StripesThe White Stripes The Black KeysThickfreakness Gary Clark Jr.Gary Clark Jr. Band of SkullsBaby Darling Doll Face Honey The Dead WheaterHorehound

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Autor:

Marketeiro, baixista, e sempre ouvindo música. Precisa comer toneladas de arroz com feijão para chegar a ser um Thunderbird (mas faz o que pode).