The Allman Brothers Band: 40 anos de “Brothers and Sisters”

Disco clássico da banda ganha edição especial em comemoração aos seus 40 anos

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A banda de rock mais influente dos Estados Unidos do início da década de 1970 atendia pelo nome de Allman Brothers. Mais que qualquer formação vinda de fora, mais que Beach Boys, mais que tantos outros nomes mais familiares ao ouvinte médio de rock. Os Allmann eram monstruosos ao vivo, promoviam verdadeiras epifanias de longa duração e aliavam um histórico de bicho-grilice americana egressa dos hippies, com o ataque blues/country adquirido em inúmeras idas e vindas na estrada. Aliás, a estrada era o lugar favorito dos caras, sempre promovendo suas antológicas apresentações por toda a América. Gregg Allman (órgão,voz), Dickey Betts (guitarras), Duane Allman (guitarra), Berry Oakley (baixo) e a dupla de bateristas, Butch Trucks e Jaimoe Johnson.

Brothers And Sisters foi o quinto disco lançado pela banda e o último de uma série de sucessos de venda e crítica. Começaram em 1969 com um álbum homônimo, seguido pelo bluesy Idlewild no ano seguinte. O terceiro trabalho é antológico e obrigatório em qualquer discoteca rock: Live At Fillmore East, lançado em 1971. Esse disco duplo ao vivo colocou o grupo nos píncaros do sucesso. Duane Allman, no entanto, não chegou a ver isso. Nada menos que 14 dias após a gravação do set no Fillmore East, ele morreria num acidente de moto. A banda, que já estava preparando o novo disco de estúdio, Eat A Peach, sofreu um enorme baque. Dickey Betts gravou todas as participações que estavam destinadas a Duane e a banda novamente voltou para a estrada.

Quando entraram em estúdio para gravar o sucessor de Eat A Peach, já com a adição do pianista Chuck Leavell (a idéia era substituir as guitarras gêmeas de Duane e Dickey por um constraste de piano/guitarra), a banda sofre nova e terrível perda. Dessa vez o baixista Berry Oakley perde a vida, também num acidente de moto, ocorrido a poucas quadras do desastre que vitimou Duane um ano antes. Em seu lugar foi recrutado Lamar Williams, que terminou as partes destinadas a Oakley. Como a ordem de canções do disco seguiu a ordem de gravação, é possível ouvir Oakley nas três primeiras faixas, Wasted Words, Ramblin’ Man e Come And Go Blues.

A edição comemorativa do 40º aniversário do lançamento de Brothers And Sister é um prato cheio para os fãs. São nada menos que 4 CD’s. O disco volta totalmente remasterizado – o que é ótimo, tendo em vista que o original tem uma sonoridade abafada, consideravelmente melhorada agora. O segundo CD traz uma série de demos que estão bem longe dos rascunhos sonoros que esse tipo de lançamento geralmente traz. Em termos de Allman Brothers, temos ensaios, versões instrumentais e outtakes, partindo dos 3:58 de Trouble No More, chegando aos 11:14 de I’m Gonna Move To The Outskirts Of Town e aos impressionantes 16:29 de A Minor Jam.

O grande filé, no entanto, está nos CD’s 3 e 4, que trazem a totalidade de um show da banda no Winterland, em San Francisco, 1973. São dezesseis músicas, das quais onze são inéditas. Versões incendiárias de clássicos do repertório dos sujeitos, como Stormy Monday, Midnight Rider, além da majestade de Statesboro Blues, original de Blind Willie McTell, com performance estelar de Betts na slide guitar.Come And Go Blues e Jessica também surgem em versões irretocáveis ao vivo. A maratona de 25 minutos de Les Brers In A Minor, com direito a solo de baixo/bateria de nove minutos, é imperdível. O piano de Leavell brilha em Blue Sky e o final apoteótico com Whipping Post coloca esse set ao vivo como um dos melhores já registrados em disco pelos Allmans.

Mesmo que a sonoridade de Brothers And Sisters apresente uma mudança em direção ao country, abdicando um pouco do ataque incendiário dos quatro primeiros discos, ele pode ser considerado com um dos grandes trabalhos do que ficou conhecido como Southern Rock. De Macon, Georgia, para o mundo, várias vezes. Até hoje, os membros remanescentes dos Allman Brothers estão em atividade e, claro, na estrada. Gregg Allman e os bateristas Butch Trucks e Jaimoe, com as presenças ilustres de Derek Trucks e Warren Haynes (guitarras) e o baixista extraordinaire Oteil Burbridge, ainda podem ser vistos com frequência. Se um show dessa gente passar perto de você, não hesite.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.