Documentário: Paul McCartney And Wings – Rockshow

Lendário registro do ex-Beatle é parada obrigatória para todos os fãs de sua obra

Loading

Ir ao cinema para ver shows de rock está cada vez mais comum. Há uns dois anos os (pouquíssimos, é verdade) cinemas brasileiros são incluídos nas listas de estréias e exibições antecipadas de concertos e documentários que serão lançados no mercado de Blu Ray e DVD poucos meses depois. O brasileiro ainda não se deu conta dessa oportunidade, uma vez que as sessões não chegam a lotar. Imagino que seja uma questão de tempo até isso acontecer. Ou não.

Elocubrações à parte, Rockshow, o antológico filme-concerto da outra banda de Paul McCartney, os Wings, ganha as telas brasileiras, pouco mais de um mês após seu lançamento no mercado internacional. Lá fora as pessoas já podem ver o restaurado documento audiovisual no conforto de seus lares – algo que deve acontecer em pouco tempo por aqui. O fato é que, Rockshow tem vários atrativos e poucos erros, o que configura uma experiência bem legal para iniciados em Beatles/carreira solo de Paul McCartney e para o público em geral.

Os Wings empreenderam a turnê Wings Over The World em 1975 e, como o nome já diz, tocaram em vários lugares. Era a encarnação mais talentosa da banda, com o guitarrista Jimmy McCulloch e o baterista Joe English, além de Paul (baixo, piano e vocais), Denny Laine (guitarra, baixo, piano e vocais) e Linda McCartney (teclados, vocais). Para os shows, o Wings foi encorpado por um naipe de quatro sopros e aproveitou a ocasião para divulgar o seu quinto disco, Wings At The Speed Of Sound, o sexto lançado por Paul após o fim dos Beatles. Fica evidente a necessidade que ele tinha/tem de estar em uma banda. Os Wings eram tudo, menos uma formação de acompanhantes para Macca soltar suas músicas. Laine canta em vários momentos e McCulloch também empresta sua voz, sobretudo no sucesso Medicine Jar.

Rockshow em sua versão 2013, após restauração meticulosa do negativo filmado em 1976 em Seattle e exibido na televisão quatro anos depois, começa com Sir Paul recordando a época, fazendo considerações bem sóbrias a respeito da banda e do show. Também elogia o trabalho feito na atualização das imagens e som. Logo esperamos que a nitidez audiovisual impere durante a transmissão mas isso não ocorre em nenhum momento. Parece que apenas a voz e o baixo de Macca foram restaurados e chega a dar nervoso vermos English fazendo grandes viradas (era um excelente baterista, mas teve sua carreira interrompida nos anos 90 por conta de problemas físicos) e o naipe de metais em ação e não ouvirmos absolutamente nada disso. Parece que os instrumentos estão tocando sob a água, tamanho o abafamento da mixagem. Para entrar no clima é preciso duas, três músicas. Depois, o prazer se estabelece.

As imagens são ok, é legal ver um sujeito como Paul – sempre visto como um pós-adolescente ou um senhor de respeito – em seus 34 anos de idade, já maduro, já pai de família, mas ainda longe de ser o que é hoje. Era um ex-beatle, carregava grande pressão em cima do palco por conta do que já fizera no passado mas, com humildade surpreendente, o Wings está em seu primeiro grande itinerário de shows mundial. Paul sempre fez questão de ser apenas um integrante da banda, certamente o mais importante ou o mais visado, nunca o único. Há espaço para todos aparecerem e a sonoridade que o quinteto principal apresenta é bem distante do que os Beatles faziam no fim da carreira. Mesmo assim, Macca estava decidido a assumir sua carga na ex-banda e proporciona momentos emocionantes ao rever algumas canções dos Fab Four como I’ve Just Seen A Face, Yesterday e as inéditas em solo americano até então, Lady Madonna, The Long And Winding Road e Blackbird.

Seria injusto dizer que o destaque de Rockshow reside nas canções dos Beatles. O repertório dos cinco discos dos Wings é revisitado com gosto, desde a canção-título na abertura do concerto, passando por belas versões ao vivo de Let Me Roll It, Listen To What The Man Said, Silly Love Songs, Picasso’s Last Words, Bluebird, Live And Let Die, My Love, Maybe I’m Amazed, You Gave Me The Answer (dedicada a Fred Astaire) e pequenas maravilhas semi-glam como o encerramento a cargo de Hi, Hi, Hi e Soily, com um Macca que poucos já viram em ação.

Rockshow é legal, documenta uma importante transição na carreira de um astro maior do pop em todos os tempos, flagrando-o num momento de humildade e integração, além de resgatar os Wings, relevantes e importantes até seu fim em 1979. Pena que o pessoal da restauração sonora pisou clamorosamente na bola.

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.