Barra por Barra: MC Cabelinho e o pretoguês

O que a temporada de MC Cabelinho no comando do programa “TVZ” nos ensina sobre a língua enquanto organismo vivo

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Fotos: Divulgação

Barra por Barra é o espaço no qual o João aparece por aqui às sextas-feiras para falar de hip hop e de tantas outras coisas que vêm junto com a (enganosamente simples e definitivamente sedutora) ideia de “falar de hip hop”. Ritmo, poesia e opinião – com o João.

 

MC Cabelinho pode fazer tudo. “Favelado, empresário, MC, ator e agora apresentador”, o MC do Cantagalo-Pavão-Pavãozinho no Rio de Janeiro estreou no dia 11 de setembro a sua temporada como apresentador do TVZ, no Multishow. De segunda a sexta, com edições ao vivo toda segunda e quinta, o cantor recebe contemporâneos do rap e do trap, além de artistas de outros gêneros, como Marina Sena.

Uma das coisas mais legais do Cabelinho é que ele é, de maneira impenitente, ele mesmo — coisa que transborda no seu comportamento, mas principalmente, na sua fala. “Por cadiquê”, “Nós vai tá lá, nós”, “Felizão de tá aqui na Grobo”. Toda língua é um organismo vivo, que se desenvolve conforme as pressões do ambiente em que é falada. Como forma de se referir à presença do tronco linguístico banto no nosso português, a intelectual Lélia Gonzales criou o termo “pretoguês”. Muitas das línguas faladas nesse idioma não possuem a consoante L, substituída pelo R — exatamente como Cabelinho fala, sem culpa nenhuma.

O TVZ Temporada MC Cabelinho tem um quadro fixo que se propõe a explicar gírias. Em um dos episódios, Djonga explica gírias mineiras (inclusive o “fraga”, versão pretoguesa de “flagra”), mas pontua no final: “Explicar gíria é um dos bagulho mais difícil do mundo. A gíria tem muito mais a ver com vivência, momento, é uma parada que você pega no ar”. Estando no Multishow, talvez a intenção desse quadro seja aproximar Cabelinho de uma audiência que não tenha a mesma vivência que a dele, o que é compreensível. Mas um dos melhores momentos é quando o carioca Oruam é solicitado a explicar o que significa “tá mec” e responde com outra gíria: “tá tega”. Como bem pontua Djonga, gíria, assim como a língua, é algo que se vive.

Carismático, MC Cabelinho entrega entretenimento mesmo com um programa repleto de silêncios esquisitos. O highlight da temporada até aqui é o dueto com Oruam, em que eles cantam “Dormi na Praça” enquanto o microfone de lapela capta o som de todos os adereços de cabelo do convidado. Isso sem contar no sotaque extremamente carioca de Cabelinho cantando sertanejo.

Além disso, a temporada de MC Cabelinho mostra para uma audiência muitas vezes não familiar com o gênero como o rap pode ser divertido, sem a necessidade de humoristas rindo do rap. Cabelinho ri com os rappers – e não dos rappers. Afinal, ele também é um.

Calma, Igão, nem tudo é pessoal

Na última semana, Igão, apresentador do PodPah, postou a prévia de “X6”, som autoral que soa como se tivesse sido escrito pelo Lil Gabi, persona trapper do atacante Gabigol. De Leve aproveitou o lançamento para dar seu panorama sobre o mercado musical atual.

Ainda que De Leve tenha sido meio fatalista, meio generalista, casos como de Whindersson Nunes e Juliette atestam a seu favor, e réplica do host do PodPah acabou sendo mais um exemplo direto do apontamento do De Leve.

O som do Igão nem foi lançado, e eu não duvido que ele era e é um cara sonhador e batalhador, mas sua reação foi a mesma de personalidades como Luísa Sonza, que acreditam ser incólumes a crítica. Com todos os recursos que ele dispõe, dá para fazer melhor. E calma, Igão, nem tudo é pessoal.

Pergunta da semana: jantar com JAY Z ou 500 mil reais

500 mil reais. Próxima.

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