Barra por Barra: Ogoin & Linguini (TV Show)

Uma entrevista com a dupla que lançou seu disco de estreia hoje (08/12)

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Fotos: Bruno Queiroz / Marina Reis

 

Barra por Barra é o espaço no qual o João aparece por aqui às sextas-feiras para falar de hip hop e de tantas outras coisas que vêm junto com a (enganosamente simples e definitivamente sedutora) ideia de “falar de hip hop”. Ritmo, poesia e opinião – com o João.

 

 

Ogoin e Linguini parecem feitos um pro outro. Como personagens de sitcoms, a química entre ambos existe na interseção específica do arquétipo dos opostos complementares. É sob essa tônica que surge Ogoin & Linguini TV Show (2023), o álbum de estreia da dupla, lançado hoje. Em 18 faixas que se conectam por meio de interlúdios — aqui, intervalos comerciais de uma série de comédia — a dupla se transforma em anfitriã de um baile que coloca o tradicional soul de BH e as baterias eletrônicas do rap na mesma pista de dança.

Nós podemos nunca saber como Kenan & Kel se conheceram, mas a história de Ogoin & Linguini tem um episódio prequel costurado pela internet. Principalmente produtor e beatmaker, Linguini é também MC e DJ. Como muitos, seu interesse pela produção veio da necessidade de ter as próprias batidas: “Um amigo meu via que eu sempre dava pitaco quando ele fazia os beats para mim. Eu não sabia o manuseio do Fruity Loops, mas eu falava para ele o que fazer”. Enquanto isso, Ogoin, que é MC e cantor, estava fazendo a transição de líder de louvor de igreja para membro de banda adolescente em Itabira, na região Metropolitana de Belo Horizonte. “Nessa época [da banda] eu passei a querer compor mais e esse foi o meu processo de amadurecer composição. Eu criei o Ogoin por volta de 2018, porque a banda não tinha nada a ver comigo, pessoalmente”.

Pouco tempo depois Ogoin se mudou para Belo Horizonte, mais com o objetivo de estudar do que de viver de música. Durante a pandemia, ele decidiu dar uma nova chance pro seu próprio som: fez um álbum carregado com toda a energia daquele momento, mas logo quis testar coisas novas, versões, remixes… Numa dessas, ambos se esbarraram ciberneticamente.

Linguini, que considerava interromper as investidas na música, mandou umas batidas para Ogoin, que retornou em 15 minutos com o que viria a ser “Sem Propósito”, primeiro som da dupla. Desde então, não se desgrudaram.

Foi com “Good Times”, premiada como Música do Ano no 1º Prêmio RAP Brasil, que os dois sentiram que tinha algo especial rolando. “Essa batida originalmente era pro Maui, eu atropelei ele (risos)”, conta Ogoin. Seu parceiro complementa: “Muitas vezes, nós beatmakers temos a visão de que a oportunidade que tem que ser dada pra gente [por um MC famoso]. Eu dei uma oportunidade para ele [Ogoin] e ele deu uma oportunidade para mim, e hoje o melhor trampo da minha vida vai sair”.

Abaixo, a entrevista exclusiva com a dupla, que lançou hoje seu álbum de estreia, Ogoin & Linguini: TV Show.

 

Como vocês definem o som que vocês fazem?

Linguini: O Ogoin me convenceu de que esse era um álbum de música pop. Quanto à descrição do som, eu descrevo como um som que evoca memórias.

Ogoin: A gente construiu um projeto com essa ideia em base. Era trazer coisas que faziam parte do nosso processo referencial, sem cair nessa ideia de que a gente vai revolucionar, mas contextualizando pro atual. E criar histórias, porque é o que eu sei fazer de melhor.

Linguini: É o desconhecido e o conhecido na pista de dança.

Em qual universo se passa a história de vocês? É uma comédia?

Linguini: O universo é Belo Horizonte, porém com uma visão um pouco distópica. A partir do momento em que a gente criou essa linha narrativa no sequenciamento das músicas do álbum, pensamos as participações como personagens.

Ogoin: A gente divide o álbum em blocos, que aí nasceu a ideia das interlúdios comerciais… Não é tão bobo quanto Kenan e Kel, mas talvez Todo Mundo Odeia o Chris. É palpável a realidade, mas que ao mesmo tempo você sabe que existe um exagero em alguns pontos.

Linguini: Cê não pode ver um episódio tão solto do outro só pela piada, porque não é só a piada.

Qual a importância dos baixos e sintetizadores em um álbum que é também uma sitcom?

Linguini: É importante realmente entender como a música era produzida numa determinada época. Nos anos 2000, por exemplo, o Timbaland, Pharrell usavam muito o Triton, um teclado da Korg que é famosíssimo na produção de R&B e hip hop dos anos 2000. E a forma do baixo é a mesma coisa também, tipo, o slap bass é uma coisa muito de sitcom, Seinfield… Parece às vezes que é um teclado com timbre de slap bass, aquela coisa meio tosca. Mas às vezes o tosco também é preciso. Porque é tudo sobre a estética.

Você comentou de Timbaland, Pharrell, e na faixa 9 temos praticamente uma homenagem para The Neptunes. Podemos considerar dessa maneira?

Linguini: Sim, podemos. Muitos sons são homenagens. “Brisa Nova”, por exemplo, é uma homenagem pura ao Tyler.

Ogoin: “Coisas Leves” é uma homenagem ao The Neptunes, “Sideral”, uma homenagem ao Timbaland… “Sensacional”, por exemplo, funciona como homenagem a certas músicas do Michael Jackson que eu sempre quis fazer, mas ela soa também como Fat Family…

Linguini, você produziu todas as batidas?

Linguini: Todas, excetos os comerciais que são beats de amigos, mas que eu fiz o direcionamento, com esse olhar de produtor. O lance da produção também é entender o quanto que precisa mudar, o quanto que precisa não mudar também…

E quais as coisas que vocês ouvem que ninguém imagina que vocês ouvem?

Ogoin: Rafaella Santos, da Banda Favorita. Teve um vídeo recente que viralizou no TikTok, de uma criança ouvindo a versão dela de “Amor, Doce Amor”, do KLB.

Linguini: Pois é, comigo é difícil, porque como eu faço vários estilos de beats, eu acho difícil eu falar algo que ninguém imagina que eu ouviria. Tô pensando.

No disco ainda temos “Bad Times”, um lado B de “Good Times”, a música mais conhecida de vocês até o momento. Como foi a criação dela?

Ogoin: Era numa fase em que a gente ainda estava compondo muito sem a presença do estúdio, que foi o que fez a gente compor de forma mais conjunta. Eu já tinha conversado com Linguini sobre a possibilidade de ele me mandar algum beat com uma temática mais triste, e eu escrevi rapidão. Nossa dinâmica era essa. Era dar um caderno em branco para um desenhista. Foi um dos sons que a gente fez nesse processo de pré-álbum e que depois a gente resgatou.

Linguini: “Bad Times” é como se fosse um drill feito na lógica dos anos 1980. Com sintetizadores dos anos 1980, timbres de baterias dos anos 1980, tudo.

E como foi cantar “Good Times” na Baile Room, com tanta gente cantando junto?

Ogoin: Tudo isso para mim ainda é meio misto. “Tô emocionando demais ou já dá pra ficar feliz?”. Por mais que eu saiba que já dá pra ficar feliz [risos].

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Honestamente, eu não gosto de nenhuma lista de final de ano que não seja extremamente pessoal. Zero interesse numa lista de Melhores do Ano que não esteja além das limitações e investimentos dos gigantes do streaming e de seu ecossistema dominado por gravadoras. Não precisamos disso. Precisamos de pessoas com uma profunda obsessão em sons específicos, a ponto de tirar o celular no meio de um primeiro date e dizer: “cara, você já ouviu isso?”, com a disposição de (talvez) assustar a possível pretendente.

Então, aqui vão minhas recomendações, sem ordem de melhor ou pior, de discos que sinto que mereciam mais atenção este ano.

Veeze – Ganger

Gabe Nandez – H. T. III

Cool-Aid – Leather Blvd.

YL – Don’t Feed The Pigeons

Kari Faux – Real B*tches Don’t Die!

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