Barra por Barra: som, velocidade e fúria

A audição de “Garcia”, recém-lançado disco de Victor Xamã; e por que a franquia “Velozes e Furiosos” é diáspora afro-latina

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Fotos: Reprodução

 

Barra por Barra é o espaço no qual o João aparece por aqui às sextas-feiras para falar de hip hop e de tantas outras coisas que vêm junto com a (enganosamente simples e definitivamente sedutora) ideia de “falar de hip hop”. Ritmo, poesia e opinião – com o João.

 

 

Na última quarta-feira (29/03), fui a uma audição de disco pela primeira vez na vida. À véspera do lançamento de seu terceiro álbum, Garcia (2023), Victor Xamã (não confundir com Xamã, o carioca de “Malvadão 3”) fez um pequeno evento na Audio, em São Paulo, para apresentar o trabalho — principalmente para seus amigos.

Para a jornalista Lauren Schwartzberg, quando o digital passou a ser a principal forma de consumo de música, audições de discos cumpriam o papel de apresentar um trabalho de maneira antecipada para a imprensa, sem que o mesmo corresse o risco de ser vazado. Portanto, as listening parties cumpriam uma função muito objetiva, com a imprensa sendo o principal público.

Quando eu cheguei à Audio por volta de 20h, quase não vi ninguém da imprensa. A sensação que tive foi que a audição do disco Garcia era mais a celebração de uma conquista: o terceiro disco de um rapper manauara e retirante, na definição do próprio Victor Xamã, feito de maneira completamente independente em São Paulo. Uma missão nada fácil de se executar, feita por muitas mãos e sustentada por um forte senso de comunidade. O evento não tinha uma sensação de festa, mas realmente uma reunião de família, modesta, mas sincera.

O público era composto principalmente por amigos do artista e pessoas envolvidas no trabalho — produtores, instrumentistas, pessoal que fez segundas vozes, etc.. Entre a discotecagem de Deejay Rasul, Victor Xamã tocou seu disco duas vezes, comentando brevemente as faixas na primeira audição. Foi legal estar lá, mas acho que audições são ocasiões mais celebratórias do que de fato para ouvir um trabalho. O som acaba disputando com a conversa das pessoas, tem a questão da acústica, é difícil de se concentrar.

Êxodo é o tema predominante no trabalho (destaque para “Vigésimo Andar”, com participação de Luedji Luna), mas o assunto que Victor mais tocou durante a apresentação das músicas foi a ajuda que teve das pessoas a seu redor: amigos rappers, sua namorada e produtora executiva Maria Fernanda, o produtor musical Duda Raulp, etc. Segundo Victor Xamã, Garcia é o seu disco mais pessoal, o que mais conta sua história. Na capa, a foto da mãe como uma deusa amazônica. Talvez a verdadeira audição foram os amigos que fizemos pelo caminho.

Velozes e Furiosos é diáspora afro-latina

Daqui a algumas semanas, um amigo meu vai passar férias em Tóquio. Para prepará-lo, decidimos assistir Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio, o que me levou a assistir aos dois primeiros filmes da franquia, formando essa trilogia não oficial, mas que é o verdadeiro auge estético e cinematográfico da franquia.

Eu sempre gostei de como Velozes e Furiosos é influenciado pela cultura negra e pela cultura latina de Los Angeles, principalmente no primeiro filme. Logo no começo, um carro vermelho adesivado estaciona em uma vizinhança com toda a cara de GTA San Andreas. A câmera faz um plano detalhe que começa em uma bota preta com desenhos que simulam fogo e faz um movimento vertical revelando uma jovem, de calça baixa e umbigo à mostra, cordão prateado fino repousando sobre o colo marrom cor de jambo, cabelos pretos com uma pequena franja caindo à frente dos óculos escuros.

Era a primeira aparição de Letty, namorada do nosso protagonista Dominic Toretto, em uma imagem que foi inspiração para muitas meninas latino-americanas e primeiro crush e definidor de atração e tipo para muitos garotos. A trilha sonora tinha drum n’ bass e hip hop e Ja Rule entra em depressão apostar perder um racha — e por consequência, a namorada. Família e lealdade são temas muito presentes, e dois fatores essenciais na manutenção da cultura de qualquer povo imigrante. Se você não gosta desse filme, eu aposto que você não faz parte da diáspora afro-latina. Frase de destaque: “Eu vivo minha vida 400 metros de cada vez” — Dominic Toretto

Narrativamente, Mais Velozes e Mais Furiosos talvez seja o mais fraco da série. Porém, com direção de Jon Singleton (Boyz In The Hood), é também o filme com mais apelo estético. É o filme que introduz o cantor Tyrese e o rapper Ludacris como personagens, com “Act a Fool”, um dos seus maiores hits, como música tema. Frase de destaque: não tem, é o filme com menos tom sério da franquia e por isso mesmo o mais divertido. Completamente comfort movie.

Velozes e Furiosos: Desafio em Tokyo (2006) se desloca um pouco da linha do tempo da franquia, com seus personagens principais retornando como breves aparições apenas em Velozes e Furiosos 9 (2021). Falando de som, é o que tem a melhor trilha sonora: curada por Pharrell Williams, que produziu a música tema “Tokyo Drift”, do Teriyaki Boyz, o filme dialoga com o movimento BAPESTA que rolava na época. Bow Wow interpreta um personagem chamado Twinkie e todo mundo chama ele de Twink. Se isso não for convincente, eu não sei o que é. Frase de destaque: “Quem você escolhe para estar perto de você, diz quem você é” — Han Seoul

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