Greentea Peng pronta para voar

Cantora londrina fala sobre suas influências, a parceria com The Streets, a indicação ao “BBC Sound Of 2021” e dá detalhes de seu aguardado álbum de estreia

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Fotos: Stefy Pocket

Muita gente acha importante, durante o primeiro encontro, saber qual é o signo da pessoa em que se está interessada – e, para o papo com Greentea Peng, essa questão também cai bem. “Sou sagitário” conta a artista britânica, em entrevista ao Monkeybuzz. Sagitário é classificado como um signo livre e com um apurado senso de justiça. Guarde essa informação. “Eu acredito 100% em astrologia, astronomia. Não sei muito, mas me fascina. Acredito nos arquétipos, não tipo 100% e que seja talhado na pedra, sabe? Eu acredito em como você vive e como essas tendências vão aparecendo, se manifestando”. Ok, podemos começar.

Greentea Peng é o nome do projeto musical, ou melhor dizendo, da persona que Aria Wells, assume para colocar sua música no mundo. Nascida na região sul de Londres, ela escolheu greentea pelo simples fato de gostar muito de chá verde, e a gíria peng, que significa algo como “muito bom”, ajuda a expressar quem ela realmente é: uma jovem mística, com ares de profeta, que percorre as ruas da capital inglesa. “Eu gosto de dizer que meu som é um R&B psicodélico, trippy e meio bluesy, porque eu me sinto infeliz às vezes”. A cantora apareceu em 2018, com o ótimo single “Moonchild”, que faz parte de seu EP de estreia, Sensi, lançado no mesmo ano.

O som de Greentea viaja por diferentes lugares, mas o que mais o define, em linhas gerais, talvez seja mesmo esse R&B psicodélico, como ela mesma gosta de nomear. E as referências vindas de casa foram fundamentais para a construção de seu som. “Meu pai cantava comigo quando eu era criança e me levava para ver musicais. Sempre gostei de teatro e de corais de igreja, isso até uns 15 anos. Meus pais me influenciaram musicalmente. Quando eu tinha seis anos, minha mãe me deu o The Score (1996), do Fugess. Ela curtia mais Hip Hop, Lauryn Hill, e meu pai curtia Ska, The Jam, essas coisas. E meu padrasto, que já faleceu, foi muito importante, porque ele me mostrou o Rock, um som que não tinha sido apresentado pelos meus pais”.

Seria natural que uma garota londrina com voz tão marcante, que ganhou o The Score aos seis anos, seguisse desde jovem o caminho da música. Mas não foi exatamente o que aconteceu. “Comigo as coisas foram simplesmente acontecendo. Quando eu tinha uns cinco anos, já estava sempre cantando, aí na adolescência só pensei que ia viajar e ir trabalhando. Não tinha o sonho de ser cantora, as coisas só foram acontecendo, sabe? Eu sempre amei cantar, mas parei, e, durante esse período, eu estava sempre me sentindo angustiada. Aí quando voltei a cantar, pensei: caramba, era por isso que me sentia triste. Eu não sabia mais me expressar e, quando a música voltou, entendi que era isso que me faltava. Eu era uma pessoa brava e a música me ajudou a me libertar…as coisas foram se revelando”.

Em 2020, mais do que nunca, Greentea Peng teve a necessidade de expurgar sentimentos e aflições perante às injustiças do mundo. Em “Ghost Town”, ela entoa: “Ignorance is bliss, yeah, it’s beautiful / As long as we alignin’, actin’ suitable / This life shit is achievable”. “Hu Man” aponta que “when they lie they cast spells / And they try dropping bombs from the skies” e, na sequência, sugere a solução a partir da saudação maia  “In Lak’ech Ala K’in” (“eu sou você e você sou eu”).

Além das inspirações para os singles lançados no ano passado, ela encontrou o tema de seu álbum de estreia na desordem mundial e na corrupção espiritual – tão escancaradas de 2020. “No começo dessa pandemia… bateu muito. Meus sentimentos quanto a essa sociedade bizarra em que a gente vive. Não sei descrever. Mas me senti muito influenciada por política, isso tava me consumindo. Durante esse tempo, escrevi essas 20 músicas sobre tudo o que eu via. Já tinha alguns sons escritos, mas com tudo o que aconteceu… O tema do álbum é essa Babilônia, tá ligada?”.

Mesmo com reflexões profundas nas letras, influenciadas pelas angústias vividas e vistas na Babilônia, o som que Greentea cria é quase sempre ensolarado e curativo – e essa proposta redentora pode ter a ver com os lugares por onde ela viveu e passou. “Me mudar para o México por um tempo me abriu muito a mente, me permitiu sentir. Me deu tempo de entender que eu tinha que cantar. Antes, meu ego me levava. Eu me importava demais com a opinião dos outros, me importava com merdas que não deveria, com o mundo material. Eu tinha algo pesado no meu peito e só me drogava e vivia para curtir. No México, eu entendi tudo. Tive que colocar isso para fora e entendi que a música era o caminho para me expressar”.

Aqui, no clipe de “Spells”, talvez seja o caso de uma Lua em Leão? A mistura entre cores, texturas e estilos em um só look, além das várias tatuagens, um show à parte, reforçam sua personalidade também visualmente. “Tô sempre vestida desse jeito, eu me expresso assim. Tive tantas fases para entender quem eu era. Morei em Londres, aí morei em Hastings e lá eu usava um estilo meio Sporty, mas o pessoal era meio gótico. Quando era mais jovem, eu mudava de um estilo para outro. Mas, mais velha, falei: foda-se, vou misturar tudo. E agora eu me visto assim. E as tatuagens não têm super significados, eu só curto”.

Algumas “recompensas” não esperadas por Greentea Peng aconteceram também durante o isolamento do ano passado e que ainda segue em 2021. Mike Skinner, líder do projeto The Streets, convidou a jovem para cantar em “I Wish You Loved You As Much As You Loved Him”, faixa da mixtape lançada por Skinner em julho “Entramos no estúdio, brincamos e foi isso. E o vídeo fizemos no zoom. Eu amo o Mike Skinner, ele é um gênio. Fiquei tão feliz quando ele me escreveu. Eu fiquei tipo ‘que porra é essa?’. A música dele não tem como descrever, saca? É poema. Ele é tão humilde e tão fácil de trabalhar. Uma inspiração”.

Além da parceria com The Streets, a londrina ganhou mais holofotes quando “Mr. Sun (miss da sun)” entrou para a trilha sonora da aclamada e excelente série I May Destroy You. “Não escrevo sobre coisas que não vi, mas seria um ótimo experimento compor mais sobre histórias não vividas”, diz ela sobre a experiência de ter suas composições escolhidas para a ficção. E tem mais: Greentea Peng foi indicada ao prêmio BBC Sound Of 2021, no qual a gigante de comunicação britânica, todo mês de janeiro, escolhe um artista como aposta para um ano brilhante. São 10 nomes indicados e o resultado sai nesta quinta-feira, dia 07. “Honestamente? Claro que tô grata, mas eu não preciso ser nomeada, sabe? Claro que, se eu ganhar, vou ficar feliz. E obrigada, BBC, mas não posso dizer que tô muito animada com isso. Fico feliz que as pessoas se conectem com a minha música. Quando me mandam mensagem dizendo que as ajudei. É por isso que tenho que fazer música. Prêmios são subjetivos. Como podem julgar meu trabalho? Essas coisas vêm e vão”.

E já que ela cria sons ensolarados, é fã de música brasileira e segue, também, atenta a novidades. “Eu amo a música afro-brasileira e umas paradas meio Jazz latino. Na real, me mandaram ontem um som que eu curti, peraí [procurando a DM enviada]… Achei! ‘Espírito Tropical’, do Murica. Curti muito a vibe!”.

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ARTISTA: Greentea Peng