Kaike: livre, leve e pronto

Aos 16 anos de idade, o artista mineiro quer cravar seu espaço no pop e faz isso munido das vantagens do mundo algorítmico-virtual, mas sempre atento a formas e oportunidades de furar “a bolha”

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Fotos: Fábio Setti

Kaike é o tipo de artista que deve ter exatamente a aura que transmite. É também daqueles que parece ter nascido para o que faz. “Sempre fui uma criança criativa. Minha família, toda semana era aquela curtição, churrasco, música alta, eu dançava e me acabava”, conta. Aos 14 anos, no limbo da pandemia, o cantor começou a postar covers no YouTube; coisa até vintage para os tempos de hoje, visto que foi a fórmula do sucesso de Justin Bieber há mais de uma década. Mas para Kaike, em 2020, deu certo – em pouco tempo, seus vídeos era compartilhados por nomes como Duda Beat.

Dois anos depois, ele diz de boca cheia: “sou cantor, compositor e multiartista”. Agora com 16 anos, já lançou alguns singles autorais como “Lojinha do Zé”, “Rosa” e a mais recente “Tão Leve”, com aquele ar inegável de promessa. Kaike é pop, R&B, funk e até pagodão baiano, sem fincar os pés por tempo demais em rótulo musical algum.

Um dos seletos nomes contemplados pelo Foundry, projeto mundial do YouTube que já incentivou Tuyo e Marina Sena, o artista mineiro ouve muito a alcunha de “prodígio” – fácil pra quem diz, pesada pra quem ouve. Eu me atrevo a concordar e marco uma entrevista com ele, antes que sua agenda fique lotada demais.

Kaike atende a chamada do Zoom já rindo. “Opa!”, ele diz, ao perceber como eu estou o vendo. O fundo de seu vídeo está personalizado: uma montagem do presidente Lula junto da cantora Rosalía. Ele pergunta se precisa trocar o papel de parede e eu respondo rapidamente que não, em risadas. É esse clima que continua por toda a conversa. Esse é o clima de Kaike.

 

Você começou aos 14 e hoje está com 16 anos, o que é uma diferença importante na vida de qualquer um. Você ainda se identifica com o que fez lá atrás?

Sempre busco entender qual era a mentalidade em que eu estava quando fiz algo. O Kaike de 14 anos já estava com uma energia criativa muito à frente. Hoje eu olho, sim, pras coisas que fiz e até penso “ai, eu faria diferente hoje”. Mas entendo, são 2 anos que se passaram, eu já evoluí bastante. Ainda respeito muito o Kaike que fez e entregou nesse tempo.

Você já vem com muita coisa acontecendo. Nasceu enquanto artista em um universo de zilhões de referências, artistas de todos os tipos, TikTok, redes sociais, tudo na palma da sua mão. Como você filtra e entende onde quer estar no meio disso tudo?

Eu sempre estive na internet, desde meus 6 anos. Eu adoro fuçar coisas na internet. Com o mar de referências que existe, eu gosto de filtrar o que eu gosto, fugir da minha bolha. Sempre gosto de ouvir coisas novas, mas acho que a minha principal referência tá nos detalhes [do mundo], para além da rede.

“Sempre estive na internet, desde meus seis anos. Adoro fuçar coisas. Com o mar de referências, eu gosto de filtrar, fugir da minha bolha. Gosto de ouvir coisas novas, mas acho que a minha principal referência tá nos detalhes do mundo, para além da rede”

Ouvindo Kaike falar, não consigo deixar de associá-lo à idade e à sua geração (como todos fazem com ele, e não fariam com um artista mais velho, eu sei). É que é diferente – admirável – testemunhar um fenômeno novo, em pele de gente nova, com uma energia para fazer acontecer e recursos que só essa geração tem.

Como seus contemporâneos, Kaike é fruto da internet, um cantor que entende música como um elemento também visual em todos os seus formatos. E seus 16 anos estão em cada fala, não por ingenuidade, mas por quão familiar é o mundo algorítmico-virtual à sua volta: foi assim que Kaike o conheceu, já instantâneo e efervescente.

Talvez o que mais anuncie sua juventude seja a tranquilidade de ver arte primeiro como vontade, depois como trabalho. Ainda não é ele se curvando totalmente ao sistema, não mais que aos seus próprios desejos. Kaike recusa rótulos à sua música, porque entende tudo como experimentação: o seu processo enquanto artista está, ao lado de sua adolescência, intimamente ligado ao processo de se conhecer enquanto gente. A vida é sua ref.

E, por isso, Kaike não se preocupa demais – o que não significa que não cuide de cada detalhe.

Quem são suas referências nesse momento?

Minhas referências têm sido a vida. (risos). Eita, como tá de boa, né?

Eita, como é poético.

Mas é real! O que vou aprendendo, vou transformando em arte, em composição. Eu me inspiro muito em mim, na minha imaginação. Adoro criar cenários, inventar histórias, observar as coisas. Quando falo que a vida é minha ref, é porque eu adoro observar a natureza, movimentos, transformar comportamentos de pessoas que vejo na rua em frases. São esses detalhes que me influenciam.

E quem são os artistas que te influenciam agora? Como você faz sua pesquisa?

Tô ouvindo Lous and the Yakuza, que é uma artista francesa chique, muito avançada. Kali Uchis, eu amo. Marina Sena, entregando tudo. Rema, afrobeat perfeito. FKA Twigs, minha ref máxima, e a Rosalía também, claro.

Meu algoritmo do YouTube é muito bom, me indica muita coisa boa. Sempre tô vendo, sei lá, uma thumbnail que me interessa, que acho bonita, e clico pra ver e ouvir. Tem uma aba muito legal do Spotify quando você vê um perfil de um artista e você vai clicando e vendo artistas relacionados, eu busco bastante por lá.

Dá pra ver que você tem muitas referências e um olhar muito aguçado, para visuais, inclusive. Você sempre ligou a música ao visual?

Sempre. Sempre adorei filmes da Disney, adorava Enrolados, desenhos… sempre gostei também de empresariar minhas primas. Isso aqui é um bafo, adoro contar isso: sempre gostei de aprender tudo no YouTube. Como editar foto, como editar vídeo… e sempre gostei muito de filmar tudo. Aí fiquei enjoado de mim e comecei a usar minhas primas pra fazer canal no YouTube. Eu falava: vamos gravar um vídeo? Eu fazia o roteiro, gravava, editava, editava as fotos, postava… Enfim, o audiovisual sempre esteve ligado comigo. Nessa criação, meu olhar veio melhorando com as referências que fui tomando.

E pra você, quem é Kaike, o artista? O que você quer transmitir com sua identidade?

Nossa… Kaike é jovem. Fresh, criativo… e futuro… popstar. Quero ser um popstar, é isso que eu quero. Hablei, hablei.

Para onde vai Kaike?

Quero que Kaike continue, na arte, estourando, fazendo muitos shows, performances que é uma coisa que eu sempre pirei muito. Pro futuro, espero continuar na música, crescer cada vez mais, fazer meus projetos, seguir por aí.

E conquistar o Brasil.

E conquistar o Brasil, com certeza.

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