Pelados e despreocupados

“O lance é que não é para levar a sério, a gente não se leva a sério. Se alguém quiser levar, vai nessa”; quinteto paulistano chega descompromissado, unido e pop em “Foi Mal”, seu quarto disco de estúdio

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Fotos: Helena Zilbersztejn

“Descontraídos tréx mas polidíssimos com pop desleixado”, é assim que a banda Pelados se apresenta na biografia das suas redes sociais. A frase, cunhada pelo guitarrista Vicente Tassara, capta a essência do grupo que, sob o selo Matraca Records, lançou seu quarto álbum em novembro: Foi Mal, de letras espertas e um som pop – mas aberto a ruídos e sujeiras certeiras.

Formada por Lauiz (programações e synths), Vicente Tassara (guitarra), Helena Cruz (baixo e vocal), Theo Ceccato (bateria) e Manu Julian (vocal), a Pelados reuniu, pela primeira vez, todos os integrantes da banda no processo de produção/composição de um disco. Em Com Os Amigos É Melhor (2016), THELP (2016) e Sozinho (2020), as letras, em sua maioria, foram compostas por Theo Ceccato e Lauiz, contando com algumas contribuições de Manu.

A atmosfera de tudo pela zoeira & diversão começa já no nome da banda, que em um primeiro momento foi batizada de Pelados Escrotos e depois simplificada para Pelados. “O nome da banda surgiu muito antes da banda existir. Nós queríamos fazer uma banda chamada Pelados Escrotos porque é um nome muito ruim, a parte da piada era isso. Mas, conforme o negócio foi ficando sério, o Escrotos saiu, o que foi um baita erro. Hoje o nome é um pouco mais inofensivo”, explica Lauiz. “É uma coisa que sempre falamos sobre. Espere o próximo disco para ver o que vai acontecer”, brinca Theo.

Formada em 2016, a Pelados surgiu na época do colegial. Theo e Lauiz iniciaram o primeiro núcleo da banda, que depois passou a contar com Manu, também estudante do colégio. Com o primeiro disco pronto, o grupo convidou Vicente Tassara e Helena Cruz e apresentou as músicas do álbum. “Para gravar o primeiro disco de estúdio [Sozinhos (2020)] nós sacamos que tinha que ter alguém para tocar. Nisso, chamamos o Vi, que tocava comigo na Enorme [Perda de Tempo] e é primo da Manu, e a Le que conhecíamos de outros rolês. No fundo, a banda se formou efetivamente depois da gravação do primeiro disco”, conta Theo.

A banda une participantes da Fernê (Theo Ceccato e Manu Julian) e da Sophia Chablau Uma Enorme Perda de Tempo (Theo Ceccato e Vicente Tassara). Além disso, Lauiz mantém sua carreira solo paralela e a baixista Helena Cruz contribui em shows de outros artistas. E essa pluralidade de projetos é positiva para a Pelados. “É uma coisa que fortalece a banda. Quando nós usamos internet, como o Instagram, a impressão que temos é que quando postamos uma coisa com alguém vai dividir atenção das pessoas. Pode ser que no Instagram isso até aconteça, mas, na vida real, coisas boas acontecem para Pelados porque todo mundo já está conectado. É até mais bonito pensar na Pelados como parte de uma coisa grande, que são essas bandas, do que pensar na Pelados como uma coisa individual que vai contra tudo e todos”.

Já com a formação completa da banda, a missão passou a ser Foi Mal. Durante o período do isolamento social, a Pelados realizava reuniões online para promover um clube do disco, em que cada integrante apresentava um álbum que estava escutando e explicava os pontos de destaque. A partir daí, as ideias para a construção do novo álbum surgiram à medida que cada um conhecia mais sobre o gosto musical do outro.

“Não é um disco que foi esterilizado, polido em todos os aspectos e está em um saquinho. É um disco que tem várias sujeiras que sobraram desse processo que foi muito caloroso”

Em meio à pandemia, o isolamento foi necessário para que o projeto desse seus primeiros passos efetivos. Os integrantes passaram alguns dias no Estúdio Orgânico, local em que Lauiz mora e trabalha, para dissecar cada influência, letra e melodia do primeiro álbum “coletivo”. O resultado é uma mistura de influências que vão do dream pop ao noise rock com pitadas de referências de cada integrante. “O que eu acho mais legal do ‘Foi Mal’ é que ele é o primeiro disco que eu olho e penso ‘Esse aqui é um disco do Pelados’. Ou melhor, ‘Esse aqui é um disco meu, do Lauiz, da Malu, da Le e do Vi’. Isso porque ele tem a mão de todo mundo, e a mão de cada um comentada pelos outros integrantes. Ele tem uma cara única. Ele é bem específico e maluquinho justamente por ter a mão forte de todo mundo, porque todo mundo produziu o disco”, reflete Theo.

Essa aura de diversão e cumplicidade permeia o álbum, que traz fragmentos de alguns dos diálogos que a banda teve durante a gravação, com contagens de tempo, pitacos sobre a produção e risadas. “Ele é diferente como consequência natural de botar todo mundo em uma sala. Não é um disco que foi esterilizado, polido em todos os aspectos e está em um saquinho. É um disco que tem várias sujeiras que sobraram desse processo que foi muito caloroso”, explica Lauiz

Foi Mal é o pedido de desculpas do malandro”

Entre amores frustrados, novas descobertas e conflitos internos, Foi Mal reflete vivências de quem, em seus vinte e poucos anos, quer experimentar e aprender com o que tem, sem perder o compromisso com a curtição. “Uma parte essencial da Pelados, que permuta tanto na lírica quanto nos arranjos e em tudo que a gente faz, é que tudo é uma baita de uma zoeira. É totalmente iconoclasta. O lance é que não é para levar a sério, a gente não se leva a sério. Se alguém quiser levar, vai nessa, quem sou eu para falar. Tem muitas músicas que são uma grande piada e outras que são muito sérias. Normalmente, as mais sérias vão ser as maiores piadolas”, resume Theo.

Foi Mal é o pedido de desculpas do malandro”, constata Theo. “Ele é um disco que encara essa temática da culpa e de relacionamentos, mas de um jeito divertido. Para dançar, curtir e dar risada. O disco todo é essa coisa trágica mas, ao mesmo tempo, é uma tiração de sarro”, completa Lauiz

Entre amigos, conversas, piadas, coquinhas after sex e a linha tênue entre gostar e não gostar, Foi Mal marca uma nova fase da Pelados. O grupo traça um caminho autêntico e explora questões da juventude de forma leve, descontraída e visceral – lembrando que, às vezes, não se levar tão a sério é tudo o que precisamos.

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ARTISTA: Pelados