Pisadinha, Forró & Negócios

Com certeiras conexões estéticas, tino comercial e networking afiado, artistas de forró e pisadinha se destacam no streaming nacional e são ativos de empreitadas cada vez mais grandiosas, autônomas e lucrativas – e que superam a sazonalidade sudestina

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Fotos: Micaell

Eu ouvi a palavra “pisadinha” pela primeira vez em 2018, quando almoçava num bar no centro do Recife. Era uma sexta-feira e a tarde encaminhava-se para o fim. Sem mais clientes para atender, o garçom pegou o celular e botou uma música para ir dando o clima do final de semana enquanto organizava as últimas mesas e cadeiras. “Só no forró, né?!”, comentei, puxando assunto. “É pisadinha”, corrigiu-me. Fiquei curioso: “E qual a diferença?” Ele pensou por alguns segundos e, dando de ombros, respondeu sorrindo: “Sei lá!”.

Dois anos depois, aquela palavra entraria no vocabulário geral do brasileiro, mas agora com uma identidade muito mais definida. A pisadinha — vertente do forró caracterizada pelo uso dos teclados e também chamada de piseiro — foi o gênero musical mais ouvido no Spotify Brasil em 2020. No ano seguinte, João Gomes emplacou “Meu Pedaço de Pecado” no #33 do Top Global do Spotify, até então a maior posição conquistada por um artista brasileiro no chart — recorde que só viria a ser quebrado por Anitta e “Envolver”. Ainda em 2021 o cantor pernambucano também teve outro recorde notável com seu disco de estreia, Eu Tenho a Senha: o álbum mais ouvido na história do Sua Música, plataforma de streamings e downloads especializada em forró, arrocha, bregadeira e outras músicas populares do Nordeste.

Na história recente da música brasileira, diversos gêneros musicais nordestinos tiveram um momento de destaque para além das fronteiras regionais, ganhando popularidade a nível nacional. Foi o caso do axé, do forró eletrônico, do pagode baiano, do arrocha e, mais recentemente, do bregafunk. Contudo, após um período curto de muito destaque na mídia, o interesse do público e do mercado fonográfico a nível nacional parecia diminuir e esses sons voltavam a circular apenas em sua região — ainda que, vale notar, com muita força, relevância e conexão com o público por lá. A pisadinha poderia ter o mesmo destino. Mas dois anos após o seu grande boom, o estilo criado nos interiores do Nordeste em meados da década de 2000 continua em evidência e até mesmo bate de frente com a hegemonia do sertanejo. Além disso, a pisadinha acabou misturando-se com outros estilos musicais e puxando consigo uma miríade de outros movimentos nordestinos — como a bregadeira e o arrocha —, dando vazão a uma nova onda de música pop nordestina que vem tomando as listas de músicas mais tocadas no país. Em 2022, houve um momento em que faixas de pisadinha, bregadeira e pagodão ocupavam a metade das 10 músicas mais tocadas no Spotify Brasil e outras 6 posições do Top 10 do YouTube, sustentando a hipótese de uma reordenação da geografia econômica da música popular brasileira. Como isso aconteceu?

Criada em 2010, a ONErpm é uma das principais empresas do mercado de música digital no Brasil. Destaca-se por operar não só como distribuidora (isto é, quem coloca a música nas plataformas), mas também como uma desenvolvedora, oferecendo aos artistas a possibilidade de trabalhar com uma equipe de marketing especializada que pensa em estratégias para fazê-lo crescer de acordo com as especificidades de seu segmento e com o estágio corrente de sua carreira. Em 2019, a empresa começou a pensar em planos para aproximar-se do público nordestino, interesse este que foi puxado sobretudo pela crescente do bregafunk do Recife, movimento que se tornou tema de documentário especial produzido pelo Spotify Brasil e emplacava hits como “Envolvimento”, de MC Loma & Gêmeas Lacração, e “Surtada”, uma parceria nacional do MC pernambucano Dadá Boladão com a funkeira Tati Zaqui e o trapper carioca Oik.

Foi então que a empresa se aproximou dos artistas, produtores e estúdios. “A partir de janeiro de 2020 a gente começou a fazer um trabalho mais focado. Não só de pegar as músicas, entender o que elas significam e passar para as plataformas. Mas também cercar-se dos artistas que estão no Nordeste trabalhando e desenvolvendo suas músicas”, conta Julian Lepick, Manager Regional da ONErpm. O início da pandemia em março de 2020 atrasou os planos. Foi apenas em setembro de 2020 que o mineiro Julian se mudou para o Recife e somente em novembro, logo após o feriado de Finados, a empresa de fato iniciou a operação total do escritório na cidade. Se por um lado a pandemia atrasou os planos, por outro fez com que os artistas, então privados da renda de shows, buscassem turbinar seus perfis nas plataformas de streaming para aumentar a geração de receita. Nesse processo, aproximaram-se da empresa, comunicando-se mais e mais.

A corrida rumo às plataformas digitais ocorreu não apenas no bregafunk, mas em diversas outras cenas que, não obstante uma alta popularidade, ainda não estavam formalizadas e bem representadas nas principais plataformas. “Pelo menos a minha percepção é de que em 2020 eram pouquíssimas as produtoras e empresários do segmento do forró que sabiam da importância e do alcance que tinha o ambiente digital para o produto dele”, observa Julian. “A gente ainda estava numa lógica de subir a música no Sua Música, divulgar no YouTube, sem qualquer preocupação com monetização. Era muito mais uma ideia de ‘como vou vender meu show pro contratante?’, então era um link para ele ouvir. Às vezes o CD mesmo. Tinha muita impressão de CD ainda e a pandemia cancela essa possibilidade. Vai entregar CD pra quem? Você não tá fazendo show, você não tem receita. O que você vai poder fazer?”.

A resposta foram as lives. No entanto, o que seria uma espécie de alternativa temporária aos shows provocou virada de chave mais ampla e profunda na visão sobre o mercado digital e a geração de receita. “Se você parar pra pensar, eles começam a pensar na live com a ideia do show — vender cota de patrocínio, fazer um grande evento com isso e aquilo, trazer apresentador etc. É a lógica do evento. Só que em paralelo a isso, começou a gerar receita [pelos views e acessos]. Então os músicos e produtores pensam: ‘espera aí, posso ganhar dinheiro com isso aqui também!'”, pontua Julian. Ele conta ainda que, àquela altura, muitos nomes de peso do forró (como o Calcinha Preta, um dos clientes da ONErpm) possuíam números abaixo do seu real potencial. “Quando começamos a trabalhar com eles, lembro que tinham 300 mil ouvintes. Chegamos a um milhão e meio. Chegou a aumentar em cinco vezes o alcance na plataforma”, conta.

“O forró é uma identidade, um patrimônio histórico do Brasil. Mas o que a gente vê hoje nos streamings é um forró diferente daquele que consagrou o Luiz Gonzaga há sessenta, setenta anos. Estamos falando de um uma nova roupagem, uma nova forma de fazer forró. E essa forma foi a primeira que bateu de frente com um sertanejo quando a gente fala de charts” – Julian Lepick, Manager Regional da ONErpm

“O consumo do nosso ritmo começa a crescer quando o digital cresce”, confirma Meli Daniel, responsável pelo marketing da Vybbe, produtora criada por Xand Avião em 2020 que possui um casting apenas de artistas nordestinos — entre eles Zé Vaqueiro, que foi o primeiro artista da empresa. Criada no meio da pandemia, a Vybbe enfrentou de cara um grande desafio. “A gente olhava pro nosso mercado, pro nosso nicho com tendência de aumento, mas não tinha condição de trabalhar o principal asset do nosso mercado, que é o show. Superando isso, começamos a estudar o digital nacional e a solidificar essas carreiras. A gente não podia deixar o artista com um item único, uma música só. O desafio era fazer com que o digital se tornasse um consumo real”, completa Meli.

Os números atestam o trabalho apontado por ela. Xand Avião, em setembro de 2022, somava mais de 7 milhões de ouvintes no Spotify — quase 3 milhões a mais do que Simone & Simaria, por exemplo. Aos 21 anos, a cearense Mari Fernandez, outra aposta da Vybbe, emplacou o hit “Não, Não Vou (Passa Lá em Casa)” em junho do ano passado. Agora, ela estourou com o lançamento de seu segundo álbum, gravado ao vivo em Fortaleza. Já soma mais de 7 milhões de ouvintes mensais, números maiores do que o do trapper Matuê e da dupla Zé Neto & Cristiano. “O forró é uma identidade, um patrimônio histórico do Brasil. Mas o que a gente vê hoje nos streamings é um forró diferente daquele que consagrou o Luiz Gonzaga há sessenta, setenta anos. Estamos falando de um uma nova roupagem, uma nova forma de fazer forró. E essa forma foi a primeira que bateu de frente com um sertanejo quando a gente fala de charts“, afirma Julian Lepick.

Para além dos streamings como Spotify, Deezer e Apple Music, o forró conta ainda com outra frente que se mantém importante na sua divulgação: o Sua Música, plataforma que não oferece monetização por streamings e downloads, mas que possui um vínculo muito próximo com o consumo musical de diferentes cenas no Nordeste. É no Sua Música que os artistas podem soltar CDs não-oficiais (como gravações de shows, os famosos “repertório atualizado”), divulgadores disponibilizam coletâneas e paredões de som atualizam os pen drives para tocar em festas.

“Hoje o Sua Música é uma plataforma que se tornou grande vitrine para o artista. Ele entende que o Sua Música vai gerar visibilidade para o fonograma, para o CD promocional, para o álbum. O artista do Nordeste entende que precisa lançar no Sua Música porque é onde o público-alvo dele está. São 8 milhões de usuários que consomem forró. É uma sinergia muito grande com esse público, e o trabalho dele gira e vai ganhando força nas outras plataformas, onde aí sim há a monetização”, explica Marcella D’Arrochella, diretora comercial da plataforma. Ela ressalta que, embora voltada ao público nordestino, o SM vem expandindo seu público em sintonia com o boom do forró. Antes, mais de 80% dos acessos vinham do Nordeste. Atualmente, o número está em 65% e São Paulo é a cidade número dois no top de audiência, entre Salvador (no topo) e Fortaleza.

“Hoje o Sua Música se tornou grande vitrine para o artista. Ele entende que vai gerar visibilidade para o fonograma, para o CD promocional, para o álbum. O artista do Nordeste entende que precisa lançar no Sua Música porque é onde o público dele está. São 8 milhões de usuários que consomem forró. É uma sinergia muito grande com esse público, e o trabalho dele gira e vai ganhando força nas outras plataformas, onde aí sim há a monetização” – Marcella D’Arrochella, diretora comercial do Sua Música

Voo Livre

O bregafunk pode ter dado o start numa “invasão Nordestina” da era do streaming, mas não se consolidou como o esperado. Pode-se pensar em alguns motivos para isso. O primeiro é sofrer com o seu próprio sucesso: por ter aberto a porteira, acabou sendo saturado rapidamente aos olhos do público nacional. Houve um esvaziamento provocado pelos artistas sudestinos que fizeram infinitos “remixes bregafunk” de todas as suas músicas, tratando uma cena musical de mais de 10 anos como espécie de modismo, um som do verão. Além disso, é uma cena de maior protagonismo e participação negra do que o forró, por exemplo. E, por fim, um ponto fundamental: o forró possui uma estrutura mercadológica consolidada e muito firme há anos, além de um know how de negócios muito afiado. Esse lastro fortaleceu o movimento, deixando-o mais firme diante do vai e vem dos charts.

O próprio Aviões do Forró é um exemplo disso. Emplacando hits desde 2005, em 2008 a banda realizou a primeira turnê internacional, tocando em diferentes cidades dos Estados Unidos por 10 dias. No ano seguinte, fez a primeira edição do seu próprio bloco no Carnaval de Salvador, o Aviões Elétrico. Em 2010, a grupo liderado por Xand e Solange Almeida assinou contrato com a gravadora Som Livre, o que lhe renderia três músicas em trilhas de novela da Rede Globo — a regravação “Ovo de Codorna”, de Luiz Gonzaga, em Morde e Assopra (2011), depois “Correndo Atrás de Mim” em Avenida Brasil (2012) e por fim  “Safadim” em A Regra do Jogo (2015/16). Sem contar a própria forma de trabalho das bandas de forró, que possuem “donos”, isto é, empresários que investem na banda — em muitos casos, os cantores de grandes bandas de forró eletrônico são assalariados, como qualquer outro trabalhador. Criado em 2006, o grupo A3 Entretenimento, por exemplo, tinha entre os sócios Zequinha Aristides, Isaías CDs, Xand Avião e Solange Almeida e possuía a marca das bandas Aviões do Forró, Solteirões do Forró, Forró dos Plays e Forró do Muído (de onde surgiram Simone & Simaria).

O know how do mercado e essa máquina empresarial continua agora na Vybbe, produtora que Xand Avião fundou em parceria com outros empresários, alguns deles parceiros desde o tempo da A3 Entretenimento — caso do diretor artístico Carlinhos Aristides. O escritório possui parceiros comerciais de relevo, como a casa de apostas PixBet, a Ambev (Xand Avião é embaixador da Brahma) e Cheetos. A produtora possui um setor de marketing digital com especialistas em business intelligence (ou B.I., na linguagem corporativa), isto é, profissionais especialistas em tráfego digital e inteligência de dados que monitoram tendências e as passam para o departamento artístico e para as equipes dos artistas. O departamento artístico, por sua vez, é formado por uma “equipe multidisciplinar”, que escuta músicas enviadas por compositores do Brasil inteiro e as direciona para os artistas de acordo com o perfil artístico de cada um. Um marco da produtora foi o hit “Coração Cachorro”, do cearense Ávine Vinny, uma versão da balada “Same Mistake”, do cantor James Blunt que chegou ao topo do Spotify Brasil e chamou atenção do britânico, que acertou um acordo de coautoria da música.

Outro ponto importante para a continuidade e expansão do forró é sua capacidade de transformação e atualização contínua. Apesar de focar no forró, a Vybbe é plural em perfis e segmentos artísticos. Há um artista com um tom mais pop, como o Zé Vaqueiro; uma cantora que se aproxima da sofrência e do feminejo, caso de Mari Fernandez; Felipe Amorim orbitando numa zona híbrida entre o piseiro, o trap e o EDM; tem espaço também para o brega romântico, da pernambucana Priscilla Senna, que colocou um público estimado em 100 mil pessoas em seu show no São João de Caruaru este ano. E mesmo com perfis diferentes e particularidades, todos fazem parcerias entre si. Nattan e Mari Fernandez estão nos charts das plataformas com “Comunicação Falhou”, e antes deles Zé Vaqueiro e Priscilla Senna fizeram sucesso com o bolero “Alvejante”. E, é claro, colaborações com nomes de outras produtoras também são bem-vindas. Um dos maiores sucessos de Xand Avião dos últimos anos é “Balanço da Rede”, com Matheus Fernandes, que pertence a outro escritório, o D&E Music.

O próprio forró como um todo vem se reformulando e absorvendo elementos de diversos outros gêneros. Na verdade, esse cruzamento de referências é uma marca do forró há um bom tempo (basta pensar nas inúmeras versões de canções do pop internacional). No entanto, essa verve parece ter sido ainda mais estimulada pelas sonoridades sintetizadas e por formas de produção trazidas pela pisadinha e sua abordagem eletrônica. O caminho mais eletrônico intensifica o volume e a circulação de informações musicais, além de ter liberado mais espaço e concedido maior liberdade para experimentações do DJ/produtor. Nesse caminho, as conexões com musicalidades eletrônicas como o funk se fortalecem. Não por acaso, as vozes femininas mais ouvidas nas músicas do forró após a virada da pisadinha são de duas MCs: a MC Danny e MC Mari, que ganham destaque com vozes sampleadas ou em feats. É o caso de “Tu Tava na Revoada”, composição da MC Danny lançada no ano passado e agora “adotada” por Wesley Safadão. A música foi produzida por DJ Ivis (que retoma a carreira com WS após ter sido preso por agredir a ex-esposa) e impulsionada durante o último São João, chegando ao terceiro lugar das mais tocadas do YouTube.

Essa conexão entre funk e forró fica ainda mais explícita numa nova onda, ainda sem nome, mas que caminha numa linha de forró funk de paredão. Um dos destaques é o produtor MTS no Beat, que viralizou com a música “Pique dos Malvadão” e é dono de faixas com títulos sugestivos, como “Pé de Serra Funkzada” e “Xote Funkzada”. O piauiense DJ Mandrak Nordestino, por sua vez, propõe outro nome: “a onda do forrózin funk”. Mas ambos produzem montagens e remixes com os mesmos métodos dos DJs de funk do Rio de Janeiro ou de São Paulo: orientando-se por loops, cascatas de samples e vinhetas, acapellas do MC GW e um grave estourado para paredão — combinado com a levada suingada de forró e sanfona oriunda da pisadinha. Assim, é uma aproximação pelo processo de produção musical que resulta numa conexão estética.

Rompendo com a Suíça Brasileira

Em dezembro de 2021, a Vybbe oficializou uma parceria com o escritório Balada Music, de Gusttavo Lima, um dos cantores mais populares do Brasil. A união visa expandir os mercados em parceria, com Gusttavo e seus artistas circulando com mais força pelo Nordeste enquanto a turma de Xand ganha postos importantes no Sudeste e Sul.

“Conheci Gusttavo há 11 anos, no Criança Esperança. Ele não era nem estourado ainda”, contou Xand em entrevista ao Podpah. “Ficamos amigos. Sempre a gente se fala, toma uma e ele falou: ‘Xand, por que a gente não junta as empresas? Bora juntar a Balada e Vybbe. Tudo que é meu você toca lá e tudo que é seu toca aqui no Sul e Sudeste’. Porque o Gusttavo Lima mandando a galera tira até a calça, né? (risos)  Ele é o top 1 do Brasil”. Ele ainda detalhou como funciona o acordo, com participações em edições do Buteco do Gusttavo Lima — projeto de show que o sertanejo realiza em todo o país. “Eu cedo algumas porcentagens do meu show pra ele porque quem não gosta de tocar no Buteco do Gusttavo?! E ele me dá uma moral da porra, sempre me coloca no horário antes do dele. Todos os Butecos eu escolho o horário, qual quero fazer. Ele faz 26 no Brasil, eu escolho 19 com ele. Então, tipo assim, eu nunca fiz show em Porto Alegre. Eu fazer o show no Buteco do Gusttavo pra mim vai ter 50 mil pessoas me vendo. Então é uma mão lavando a outra. E os produtos dele que não são tão conhecidos eu toco no Nordeste também. E a gente monta shows também. A gente faz um Gusttavo Lima, Zé Vaqueiro e Nattan. Ou então faz um produto dele, que é o Felipe Araújo, o Xand Avião e o Zé Vaqueiro. A gente vai juntando shows no Brasil”, explicou.

Essas colaborações ocorrem também entre produtoras nordestinas. O festival Viiixe! – Forró e Piseiro é o maior exemplo desse esforço. O projeto reúne três produtoras concorrentes que uniram forças: Vybbe, Top Eventos e Tapajós, que montaram um lineup com Xand Avião, João Gomes, Zé Vaqueiro, Nattan, Vitor Fernandes e Tarcísio do Acordeon em um evento com datas em Fortaleza, Goiânia, Salvador, Manaus, São Paulo, Rio de Janeiro, São Luiz, Recife, Vitória, Brasília, Belo Horizonte, Teresina e Belém. A média de público nos shows é de cerca de 30 mil pessoas. A empresa vende o festival para produtores locais, que realizam o evento. “Entregamos o pacote de exigências de produção para que se entregue sempre aquilo que permita ao público vivenciar a experiência do evento. Todos recebem nosso guia, nosso manual de marca, manual de realização e tudo é feito com a nossa supervisão”, explica Meli Daniel,  que adianta que o evento terá uma nova edição em 2023.

As parcerias tornaram-se estratégias para vencer um entrave comercial do forró no Sudeste, onde a constância ainda segue sendo um desafio. “A gente furava a bolha e voltava. O grande desafio é a recorrência mesmo, de fazer com que um artista não seja o artista de uma música só”, diz Marcela D’Arrochella, do Sua Música. “Alguns cases como João Gomes, Safadão, Matheus Fernandes mostram que é possível furar essa regionalização forçada. A gente nunca esteve tão nacional. É o melhor momento do forró em 20, 25 anos, que antigamente sofria muita restrição”.

Marcela cita ainda as campanhas publicitárias que o Sua Música realizou conectando marcas como Xiaomi, O Boticário e Natura a artistas como o baiano Thiago Aquino (do arrocha), a pernambucana Mara Pavanelly (forró) e a serginapana Paulinha Abelha (recém-falecida cantora da banda Calcinha Preta). “No Sua Música a gente faz questão de trabalhar com artistas novos, independentes e levar esses rostos e vozes para marcas. Mas é um trabalho de resiliência, recorrência. Todo dia eu tô apresentando esses novos nomes, mostrando que em Salvador, por exemplo, você não precisa trabalhar com a Iza. Você pode trabalhar com Thiago Aquino, que tem muito mais sinergia com a região do que uma artista nacional que vem de lá, mas que perdeu um pouco a conexão com o local. Estamos rompendo com essa ‘Suíça brasileira’ do mercado publicitário que é o Itaim Bibi”, completa.

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