tantas coisas com Iasmin Turbininha

Racionais, Beyoncé, Dubai e cachaça para inspirar

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Fotos: Arte: Beatriz Dorea

A minha rotina quando eu vou produzir ou compor uma música é…

Eu tenho uma mania muito grande de nunca ter ninguém do lado. Seja no estúdio ou em casa mesmo. Eu chego no estúdio, falo com todo mundo, sento na cadeira, apago tudo e abro o programa e começo. Às vezes acendo um cigarro, tomo uma cachaça, tá ligado? (Risos). Me inspira um pouco e começo, parece que eu estou em outro lugar, outro mundo que eu desfoco de tudo que está ao meu redor. Prefiro ficar sozinha pelo falo de me concentrar e depois mostrar tudo com detalhes. Compor eu componho mais no banho, que vem na mente mesmo. Comecei a ligar o gravador do celular para não perder. Aí as vezes sai uma letra muito foda e depois mando pra algum MC que tem sonho de cantar, mas não tem letra própria. Acabo entregando algumas letras que eu faço mesmo.

Ando obcecada por…

Pagode, Samba… Gosto de Alcione, Zeca Pagodinho e Péricles. A minha família é do Samba e do Pagode então eu cresci ouvindo esses ritmos, como o Funk também. O baile era do lado da minha casa. Considero que eu nasci em um berço da música. Na Mangueira tem o Samba, o Pagode, Funk, Axé. Inclusive, me inspiro muito nisso também na hora de fazer um som, tenho que ouvir eles para depois ouvir o Funk e entrar no ritmo.

A pessoa que mais me influenciou na decisão de fazer música foi…

Um amigo que morava lá perto de casa. Ele produzia as músicas para o Baile da Mangueira e eu sempre tava lá com ele. O Vitor me inspirou a fazer aquilo. Teve um dia que eu vi ele produzindo uma música e sempre queria aprender a mexer em um programa. Eu amo observar. Eu sentia a energia e gostava de tá ali. Eu via a música acontecendo, tá ligado? Da a cappella até a produção final e tocar no Baile. A galera ia à loucura. É um lance de estourar na favela, não necessariamente vai estourar no mundo… A comunidade toda sabe cantar essa música. Isso também é uma coisa que eu tenho gratidão profunda por cada pessoa que ouve minhas músicas. Infelizmente, ele não é mais DJ porque eu comecei com ele em 2011 e ninguém valorizava o Funk, ninguém ligava. Ouvir naquela época era sinônimo de xingamento. A gente não ganhava grana na época igual hoje em dia, como profissão mesmo. No máximo eu ganhava 30 reais, 40 reais. Sempre gostei de fazer isso, trabalhei para conquistar as minhas coisas (que na época era um notebook). Trabalhava em um McDonald’s, em lan house e bar só para ganhar um dinheiro para comprar um notebook que na época todo mundo queria. Parecia uma coisa impossível. Todo dinheiro que eu ganhava eu ajudava minha avó e o que sobrava era pra eu andar arrumadinha também, né? A gente precisa andar arrumadinha. 

O Vitor sempre me deu força, na época não tinha nenhuma mulher na cena. Eu recebia muita crítica. E pelo fato de ser sapatão, desde essa época eu sempre mostrei esse meu lado. Racismo, preconceito muito grande. Hoje em dia a gente consegue ter voz e explicar o nosso lado, mas antigamente as pessoas falavam palavras que eu nunca vou esquecer. Recebi muitas palavras também da minha mãe. Na época eu já tinha perdido ela, mas sempre me ensinou a ser uma pessoa que corre atrás das coisas que vai te dar um futuro.

O primeiro show que eu assisti foi…

Racionais, eu era criança. Foi na Mangueira e minha mãe me levou, eu queria muito. Na comunidade até hoje sempre toca e as letras são inspirações, como se fosse uma palavra. A gente sempre leva muito a sério as coisas que eles falam, são coisas que acontecem, tá ligado? E mano, foi o show mais foda que eu fui e nunca vou esquecer. O grupo mais foda é o Racionais.

Se eu pudesse escolher qualquer lugar do mundo para estar, eu estaria em…

Dubai. Acho que lá é um lugar que qualquer um tá a fim, vamos agora. É um lugar que eu sonho muito conhecer, mas também Nova York, Paris, todo lugar do mundo. Mas primeiro é Dubai, só pra sentir, ter uma noção daquele pique. Parece que todo mundo que mora lá mora bem. Não sei se lá é assim mesmo, mas é o que a gente vê em relação a quem mora lá, né? 

Se eu pudesse, compraria minha casa, deixava minhas irmãs bem e o resto do dinheiro eu ia investir em comunidade. Na minha comunidade, como moradora, é triste. Muitas pessoas ricas poderiam ajudar e não fazem nada. Isso é muito triste. Meu maior sonho é abrir uma escola de música na favela. Não só de música, mas de aprendizado, trazer artistas para o projeto e dar dicas.

Eu sei que uma música está pronta quando…

Depende muito da música. Tem umas que eu acho que tá muito foda eu já solto, o publico abraça. Mas às vezes tem outras que são mais trabalhadas, que, mesmo saindo do prazo do lançamento, eu sinto que falta alguma coisa, ela não tá pronta, na minha opinião. Tenho facilidade e dificuldade. Às vezes eu acho que não vai dar em nada e acaba dando em tudo. Eu considero a música eterna. Tem músicas que tocam muito e acabou. Mas daqui a três anos a música volta de um jeito surreal. Eu trabalho no orgânico, sempre acompanho quantas visualizações tipo bateu 100 mil, bateu 1 milhão e tal, eu gosto disso, sei que aquilo é orgânico. 

O último filme que fez minha cabeça foi…

Cidade dos Homens e Era Uma Vez. Mano, esses dois filmes são os mais fodas, que eu gosto de assistir muito, sempre boto. Mesmo sendo repetido eu gosto demais.

O artista mais improvável da minha playlist é…

Eu me inspiro em muitos artistas da minha comunidade da favela, então tenho muitos que não tem oportunidade e a fama. Eu sei que tudo é questão de tempo, cada um no seu momento. Eu não sabia nem o que era Spotify. A gente ainda tem muita dificuldade porque a gente começa e não tem um empresário, uma pessoa que investe na gente. A gente começa com um amigo ali do lado. Meu primeiro evento eu peguei metrô, fui lá ganhei 50 reais e tal. Na época eu não curtia isso, não gostava de dinheiro. Mas agora eu sei que são consequências para as nossas melhorias, no trabalho e familiar. Tem equipamento que é muito caro e tal. 

Posso indicar o DJ MK, MC Dom, MC Lateral e o MC Alyson são os caras que estão quebrando tudo. A gente tem que dar oportunidade para os próximos. Esse é o nosso legado.

Queria produzir/compor uma música junto com….

A Beyoncé. Acho que pela importância que ela tem. A energia dessa mulher é incrível, até de longe você sente a energia boa dela. Mas não por fama ou por seguidor, é mais por produzir mesmo, só eu posso ouvir e tal, é isso que eu quero. Ela é a artista mais foda que tem, eu amo essa mulher. A gente tem que trabalhar pra isso acontecer, se Deus abençoar. Em relação a outros artistas, se tiver que acontecer vai acontecer, mas eu gosto de trabalhar com artista que tá começando, que precisa de oportunidade. Ver a pessoa crescer, tá ligado? Fico muito feliz, é isso que importa.

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