Teiu, sem pressa e em ritmo frenético

Às vésperas do lançamento de seu primeiro EP, “4113”, o artista paulistano fala sobre o processo de, com 18 anos de idade e 9 de discotecagem, encontrar seu próprio caminho musical

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Fotos: Marco P. Grilo

DJ, produtor musical, design e artista – é assim que Teiu pode ser definido. O jovem de 18 anos, de fala contida e jeito introvertido, extravasa sua criatividade e expressão desde o lado gráfico até beats arrojados, tanto na carreira solo quanto pelo coletivo Ellös. Com influências do grime, garage e drum & bass, Davi Lopes, o Teiu, se prepara para lançar seu primeiro EP, que chega às plataformas de streaming na segunda quinzena de junho deste ano.

A referência musical e profissional veio de casa – Teiu é filho de DJ Komodo e foi com o pai que ele descobriu os primeiros sons e entendeu como discotecar com vinil. Influência que fez com que o jovem começasse a praticar a discotecagem desde cedo. Aos 9 anos, Davi Lopes se lançou como DJ Teiu e começou seu processo de pesquisa musical que se desdobra até hoje. “Meu pai é DJ, então sempre tive muita música em casa. Desde moleque, sempre pirei muito em música, em cantar, dançar e quando comecei a ficar um pouco mais velho eu quis tocar as músicas que eu gostava de ouvir, assim, com uns 9 anos. Comecei querer evoluir e aprender cada vez mais “, comenta Teiu.

A referência do pai, o DJ Komodo, um dos organizadores da Rabo de Galo, foi importante tanto no som quanto no nome artístico de Davi Lopes. “Eu sempre tive essa relação com o nome do meu pai e tinha uma amiga da minha tia que era antropóloga, e ela estudou as comunidades indígenas e deu a ideia de Teiú, que é um lagarto um pouco menor da família do Komodo. Eu gostei e levei para vida”, conta.

“Meu pai foi um grande professor, aprendi muito com ele e sempre estive muito próximo dele. É uma relação de aprendizado, nunca foi algo forçado. Ele me apoiou no que eu queria, mas, se eu não quisesse, ele me respeitava. Quando eu quis seguir meu caminho ele super me apoiou, e me apoia até hoje”. Além do laço familiar, ele também aponta KL Jay, Qbert e DJ Erasmo, amigo de infância de Komodo, como principais influências.

Entendendo a importância da referência que veio de casa, mas buscando encontrar a sua própria identidade sonora, Teiu afirma que o som que vem fazendo se aproxima cada vez mais da persona que busca construir. O jeito tímido e reservado na chamada de vídeo esconde a desenvoltura na construção sonora do artista que traz influências diversas. Ele sampleia, por exemplo, MC Daleste em “DaLeste e MC Lipi e MC Digo STC no remix de “Olha Esse Robô”.

Esse processo de escolha de novos caminhos musicais fez com que o DJ se afastasse do vinil, seu equipamento durante as primeiras discotecagens. Apesar da destreza, ele conta que, em um primeiro momento, se sentia inseguro em tocar com o objeto analógico. “Eu comecei a tocar com o vinil, que é bem mais difícil e bem mais delicado para usar do que CDJ. Sempre tive a preocupação de não quebrar nada, depois que eu comecei a ter mais experiência me soltei mais. Com ele é um exercício grande de ouvido e muito movimento corporal, é mais frenético”.

Com a influência de ritmos contemporâneos e a necessidade de criar ambientações com diferentes elementos, Teiu encontrou na CDJ seu grande equipamento de trabalho. “A CDJ é um pouco mais fácil, ela tem mais comando. Quando consegui me soltar para tocar na CDJ fluiu mais fácil. Agora, na maior parte, eu toco na CDJ, e não toco muito no vinil. Pelo tipo de música que gosto de tocar não se aplica muito no vinil e também é um gasto alto ter que importar. Acho que a CDJ é a melhor opção”.

Mas ele reitera que o vinil segue presente em apresentações pontuais e especialmente em sua casa, seu principal local de garimpo das bolachas. “Meu pai sempre teve uma coleção muito grande, então o principal garimpo foi a coleção dele. Era uma descoberta diária de sempre estar olhando ali. Mas tinha uma relação, junto com o meu pai, com os sebos do centro e na Benedito Calixto. Na época dava para importar bem, então meu pai trazia muita coisa de fora”.

“Sempre me inspirou a vivência e a imaginação de moleque dos rolês, de como deveria ser, sabe? Era só imaginação e eu sempre fui muito de pesquisar, nunca quis ficar na sombra dos outros”

Cria do centro, o jovem cresceu na região do Paraíso e agora mora no Cambuci, e foi com as atividades culturais, galerias e os rolês dessa região que ele desenvolveu seu gosto musical e estético. Interessado por moda, principalmente a ligada ao universo do streetwear, ele diz que é ouvindo as ruas que encontra inspiração para sua construção sonora. “Sinto que meu processo de criação é muito de pesquisa e ouvir muita música. Sempre tentar se colocar no lugar do público, ir aos eventos ver o que está tocando na rua. Desde os 14 anos eu comecei a fazer os meus rolês e isso me influenciou muito. Eu acho que uma das coisas que mais me influenciou foram os eventos, tinha muito evento de loja, de marca, comecei a colar nos clubes, conhecer rolês diferentes de música eletrônica e foi abrindo muito minha mente”. Ele também conta que, conforme o tempo foi passando, passou a frequentar eventos de funk e raves. “Sempre me inspirou a vivência e a imaginação de moleque dos rolês, de como deveria ser, sabe? Era só imaginação e eu sempre fui muito de pesquisar, nunca quis ficar na sombra dos outros”.

A adolescência e o início da vida adulta são marcados por um processo de busca da individualidade, de expressão da identidade e de experimentações, e Teiu passou e passa por esse período. Ele começou no começou no coletivo de grime Track Suit Mafia Brasil, e, em 2019, lançou o projeto Ellös, que atualmente mantém em parceria com seu amigo Victor Hugo.  A Ellös surgiu com o objetivo de ser uma marca de roupa e se desdobrou em selo e produtora cultural, promovendo rolês para discotecagem pela cidade de São Paulo. “Eu e meus amigos sempre fomos muito ligados à moda. Mas não foi indo para frente e eu fui tocando sozinho. Nisso, eu tive a oportunidade de começar o programa na Veneno, foi aí que consegui estruturar como projeto e lançar na rua”, conta.

“Meu pai [DJ Komodo] foi um grande professor, aprendi muito com ele e sempre estive muito próximo dele. É uma relação de aprendizado, nunca foi algo forçado”

Como parte da programação da Rádio Veneno, que promove livestreamings de diferentes artistas independentes principalmente ligados à cena eletrônica, Teiu relembra de suas primeiras apresentações e do quão importante foi esse processo para adquirir confiança em seu trabalho. “O primeiro programa foi com o ANTCONSTANTINO. E teve o takeover do ano, que foi um especial de um ano da Veneno. Teve DJ set de alguns amigos, eu fiz o meu DJ set, Ashira, LK, N.I.N.A e muita gente cantou. Isso foi um momento muito pica, porque eu estava só começando e foi o que me deu gás para continuar acreditando nisso e botando forças”.

Segundo Teiu, estar em diferentes projetos aguça a criatividade, da música ao design (desenvolvido na agência Solo.etc), da produção aos eventos. A ideia é se dedicar à música instrumental e fazer da Ellös uma plataforma para que outros artistas independentes cresçam juntos. “O que eu quero, como artista, é mostrar o que eu tenho de trampo. A Ellös é como eu assino meus trampos, mas também é uma forma de trazer uma plataforma para artistas novos independentes que eu acredito”. Ele diz que seu foco é música instrumental e a busca pela mescla de gêneros. “Gosto de maturar as músicas, de ouvir de novo, de refazer, trabalhar e ir refinando ao máximo. Não tenho um ritmo muito rápido de produção de beat, tanto que eu nem penso em trampar muito com artista, só fazer mais coisas pontuais”.

O artista atualmente finaliza seu primeiro EP, 4113, lançamento da Metanol FM em parceria com a Solo.etc. O projeto acompanha a trajetória de Teiu por essa trilha em busca de seu próprio som. “Ele é todo baseado na época da minha adolescência, saindo do bairro indo para o centro, conseguindo me enturmar e me desenvolver nesse rolê de grime e me desenvolver mais como DJ. Sempre tive meu pai do lado e foi o momento que eu comecei a cruzar um novo caminho”. O single “Deixando Nóis Forte”, com participação de Destravalt, marca o início do lançamento e estará disponível na primeira quinzena de junho. E Teiú se sente realizado com o caminho que vem traçando. “Eu tô felizão, é uma luta. Nem dá para acreditar que está acontecendo, que as coisas vão tomando forma. É muito legal ver o que a gente está conseguindo construir até agora. Eu estou no underground ainda, estou muito baixo, mas trabalhando bastante”.

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ARTISTA: Teiu