Ouça: Luneta Mágica

Banda amazonense abraça som do Brasil e adiciona bastante tempero psicodélico na mistura

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Muitas vezes, nos esquecemos da imensidão do nosso país. Enquanto os problemas parecem sempre ficar com os nossos estados vizinhos, a cultura é internalizada e autorreferente – dificilmente nos envolvemos a ponto de abraçar o que vem de fora de nossa região, a não ser que seja do exterior. A música, produto de cada lugar, não nos deixa esquecer, no entanto, que podemos nos conectar com os pequenos países que existem dentro do Brasil a ponto de que tudo faça sentido.

A unidade na música independente brasileira atual vem do poder do conhecimento via Internet e também pela identidade sonora de cada lugar, que transporta o ouvinte para realidades que deveriam ser conhecidas e não são. Dessa vastidão continental, desponta Luneta Mágica, banda amazonense que respira o Rock Psicodélico através de narrativas e sonoridades folclóricas que, mesmo distantes fisicamente, se conectam há bastante tempo com o que vem ocorrendo pelo resto do Brasil.

A primeira impressão e comparação vem da lisergia que passa perto dos cariocas do grupo Supercordas e do Indie Rock sulista de Superguidis. O primeiro disco do quinteto – formado por Erick Omena, Pablo Araújo, Eron Oliveira, Isaac Guerreiro e Jefferson Santos -, Amanhã Vai Ser o Melhor Dia da Sua Vida (2012), traz histórias contadas ao pé do ouvido e bem acompanhadas de um instrumental que muitas vezes traz a psicodelia nos pequenos detalhes e efeitos que deixam o som aberto e viajado. No entanto, faixas como Sábado ou a linda Largo São Sebastião coincidem belas melodias de voz e instrumentos, marcando o piano sempre e traz para perto a música brasileira contadora de histórias e cheia de melancolia de nomes como Los Hermanos e Apanhador Só – aliás, o grupo deve agradar muito os fãs dos gaúchos.

O primeiro disco já mostrava que o Rock poderia ser feito de outras formas pelos amazonenses – diversas faixas usam bateria eletrônica, como Não Acredito e Cinco Bolas de Sorvete por Apenas um Real, enquanto o violão é o principal ator de Aqui Nasceram Heróis e Guarda-Chuva. Seu novo disco, No Meu Peito (2015) muda um pouco as coisas: saem canções longas para a entrada de grandes baladas carregadas de toques viciantes. Seu primeiro single, Lulu, já mostra que, se o trabalho de vozes liderado por Pablo Araújo era uma das forças de seu trabalho de estreia, agora se torna a força motriz.

Melodias pegajosas, no bom sentido da expressão, dominam o compacto e enxugado segundo disco dos amazonenses, como em Rita ou na excelente Acima das Nuvens. Ao mesmo tempo, a vontade de não se apegar a nenhum gênero faz com que a obra seja repleta de momentos diferentes: Só Depois é um Dream Pop experimental com toques eletrônicos de SILVA] e Mantra é catarse psicodélico com cara de hino de arena, enquanto Lembra? é uma das grandes faixas da carreira do grupo.

Ao final, a melhor conclusão que podemos ter de Luneta Mágica é o seu pertencimento ao Indie Rock Brasileiro – arquipélago cheio de ilhas que se conectam através de pequenos elementos unitários ao longo do país e que trazem a sensação de que o som produzido não poderia vir de outro lugar do mundo senão daqui. Se você não conhecia os amazonenses, tem agora a grande chance de se viciar em suas melodias e sair cantando por aí sem perceber. Ouça Mônica, por exemplo, para entender o que estou falando.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.