Ouça: Nomade Orquestra

Se sua praia é música instrumental, entre no embalo deste grupo do ABC paulista cheio de referências globais

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Muitas vezes na vida, temos apenas um efêmero instante para mostrar o nosso valor. Por mais perverso que tal pensamento seja, ele é ainda mais verdadeiro diante do excesso de informação que recebemos atualmente. Um trailer mal feito, uma propaganda banal ou um single fraco podem fazer um mundo de possibilidades diminuir rapidamente sem tantas chances de volta. Longe de considerar o nosso Ouça desta sexta-feira um artista de um hit que só deu certo ao escolher sua música de trabalho, a instrumental Nomade Orquestra, na verdade, evidenciou um trabalho rico de referências musicais na abertura de seu autointitulado disco de estreia. E é por isso que estamos viajando nele após mais de uma hora de duração.

Samurai, a estridente faixa que abre Nomade Orquestra, prende nossa atenção nos primeiros instantes ao trazer no Jazz um Dave Brubeck feito a maneira do grupo e nos leva a crer que algo interessante virá logo em seguida. Seu título é um referência ao Oriente, no entanto a música deveria ter um nome muito mais “global” que “regional”, pois ao longo de seus seis minutos de duração referências diversas são jogadas e transformam a experiência sonora em uma verdadeira viagem pelo mundo. Temos ali os sopros metalizados longos e melódicos do nosso Samba, passamos por uma estadia na Salsa cubana, esentimos o Afrobeat de Fela Kuti até chegarmos a um Rock Instrumental cheio de suingue que faria Santana sorrir. Não precisamos de mais nada para nos convencer que existe algo distinto neste super grupo do ABC paulista.

Formado por onze músicos das mais variadas origens, inspirações e aspirações, Nomade Orquestra pode ser comparado de forma banal ao paulistano Bixiga 70, outra banda que tem no palco diversos músicos e que procura verbalizar sua música sem nenhum frontman cantando. No entanto, se tal comparação tem o intuito de ser apenas esclarecedora, a mesma não exprime a riqueza e a distinção entre ambos os grupos. O Groove, apenas, e o gosto pelo instrumental unem as duas, entretanto, a Nomade ruma a um caminho muito mais aberto.

O Jazz e suas variáveis são o mote de tudo que parece ser escutado aqui: Hip Hop, Soul, Samba e World Music. A guitarra de Luiz Galvão tem gritos estridentes sem nunca esquecer de sua alma funkeada em faixas como Sonhos de Tokyo, enquanto um comandante de pick-ups, Beto Malfetti, joga samples de voz em outras faixas para que todo o mix de instrumentos ganhe ainda mais poder. Bedum segue a mesma inspiração em vozes alheias para iniciar a construção de uma das melhores faixas de todo o disco, nos fazendo apenas desejar ver esta e outras criações ao vivo.

Lançado no fim de 2014, Nomade Orquestra é o primeiro registro de uma big band adequada à contemporaneidade de um público mais jovem esperto e sedento por referências externas, ao mesmo tempo em que agrada a qualquer amante da boa música, independente de sua idade. Soa brasileira e ideal ao nosso povo em sua levada concentrada em sopros de Samba, mas também global pelas suas inspirações diversas, principalmente o Jazz. As diversas microcanções ao longo das doze faixas desta estreia ainda fazem com que sua audição se torne uma viagem espiritual para o ouvinte, perfeita para escapar do caos mundano atual. Logo, se você gosta de música instrumental e sobretudo, muito groove e suingue, ouça a Orquestra o mais rápido possível e espere ela passar pela sua cidade.

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MARCADORES: Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.