Duda Brack Já É

Cantora prepara seu primeiro álbum, com músicas inéditas de compositores contemporâneos

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Fotos: Monkeybuzz

“Acontecer” é um verbo muito usado no meio em que convivo para explicar uma banda ou artista que conquistou seu devido lugar dentro de um panorama maior, seja sob os olhos do público, da crítica ou todos esses. “Acontecer”, em um sentido mais amplo e causa do significado já mencionado, quer dizer “tornar-se real”. Hoje, em dezembro de 2014, estamos a espreita de uma movimentação de pessoas que dirão que Duda Brack está prestes a acontecer. Quem já a conhece, entretanto, contempla a realidade de uma arte que já se concretizou muito antes de É, seu primeiro álbum, com lançamento previsto para março.

“O folclore em cima do primeiro disco tem que ser desconstruído”, diz a gaúcha residente no Rio de Janeiro enquanto conversamos sobre os riscos das escolhas em torno dessa “estreia” – aspas necessárias, pois seu nome já roda o pequeno universo da música original e contemporânea do país, principalmente da capital carioca (onde ela meio que já aconteceu), resultado também de ter vencido alguns festivais de música pelo Brasil, caminho trilhado há décadas também por vários outros cantores, como bem sabemos.

Os tais riscos envolvem, em um âmbito menor, a opção de um disco feito apenas de inéditas escritas por (ótimos) compositores desta geração (gente que “meio que já aconteceu” também, cada um a sua forma), como César Lacerda, Paulo Monarco e Dani Black. Em uma escala maior, é também arriscado investir em sonoridades que vão na contramão da expectativa do que uma garota bonita, dotada de um poderoso vocal, investiria para alavancar sua carreira. Com produção de Bruno Giorgi (Cícero, Baleia, Rua), É possui uma intensidade emocional e um peso sonoro dignos da força de sua interpretação.

Duda tem uma figura que cresce conforme a conhecemos. Isso vale para o palco, quando o sorriso um tanto tímido não faz jus ao timbre mais grave do seu canto, vale também para uma conversa, em que ela revela a força de suas ideias, das mais abstratas às mais cotidianas, e vale ainda para sua música, que cresce em significados do resultado que sua interpretação inventa com as composições dos outros.

Voltando ao risco de apostar nesse som, ela é enfática ao afirmar: “Não me permito ter medo”, e continua em uma explicação sobre como na vida não há certezas e trabalhar com arte é mais incerto ainda, então “descubro no salto o que encontrar”. É assim, cheio de poesia, que seu discurso aparece. E não poderia ser de outra forma, fica claro que a guria nasceu pra fazer arte.

Duda Brack

“Acho que eu canto porque sou meio atriz”, ela brinca, e cada faixa do disco revela uma atuação diferente para o texto de cada autor – todos muito queridos por ela, pessoas com quem há identificação e afinidade na música sincera, no amor pela arte e na entrega no compor.

Aliás, haja entrega: Duda descreve É como um trabalho visceral, dentro de uma estética “suja”. Não é exagero, já que os sons parecem vir de todos os lugares ao mesmo tempo, com repetições e ruídos a favor da subjetividade das composições. Parte disso vem – e ela deixa isso claro diversas vezes ao longo da conversa – como cortesia de sua banda: Gabriel Ventura (Ventre) na guitarra, Yuri Pimentel (Rua) no baixo e Gabriel Barbosa (Posada e o Clã) na bateria. Os três acrescentaram naturalmente ao som, algo que ela queria desde o início. “Me cerquei de pessoas que admiro muito”, comenta, “eu paro e falo ‘nossa, eu tô tocando com o baixista da Rua’ e nem acredito”.

E ao mesmo tempo em que ela fala de visceralidade, fala de afeto – outra característica marcante em seu trabalho. Há muito carinho na maneira com que ela fala de cada músico, das faixas ou de qualquer outro tema que a inspire. É nessa complexidade, nesse trânsito entre qualidades, que reside a figura de uma artista que, se ainda não aconteceu para alguns, já tanto é por onde passa.

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ARTISTA: Duda Brack
MARCADORES: Conheça

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.