O Zoológico de Emoções de This Town Needs Guns

Disco de estreia do grupo inglês mostra destreza instrumental e grande apelo emocional

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Animals

O final dos anos 2000 foi um período bem fértil para ressurgimento do Math Rock. Você provavelmente deve se lembrar de bandas como Foals e Maps & Atlases, que lançavam seus debutes por volta de 2008/2009, e, talvez, do burburinho que rolava em torno desses nomes ingleses que estavam “revolucionando a forma de se tocar guitarra”. Bem, sabemos que o Math Rock não é exatamente novo, assim como essas técnicas usadas por esses instrumentistas, ainda assim, o estilo voltava a chamar a atenção depois de um período em baixa.

O mais interessante de notar desses dois nomes citados é que, além de ingleses, esses grupos buscavam inspiração em outro pilar da música para fundir com as bases e técnicas do Math Rock. Foals no Indie e Maps & Atlases no Folk. Mais uma das bandas que surgiu nesse mesmo contexto do novo Rock matemático da Terra da Rainha foi o então quarteto This Town Needs Guns, que tinha como outro pilar o Emo – mais especificamente no chamado Twinklecore dos irmãos Kinsela.

Basicamente, todo aquele primor técnico das raízes do Math Rock foi adicionado a um grande teor emocional, com letras fortes e construções melódicas que conseguem afloram as emoções mais profundas de seu ouvinte. O resultado é algo complexo, mas, ao mesmo tempo, relaxante. É uma mistura não só de diversos elementos, mas também de sensações – algo que me cativou desde o início e mantém esta banda como uma “daquelas que nunca saem do iPod”.

O disco Fora de Época que vou apresentar é Animals, primeiro e curioso passo na carreira do grupo. Depois de ouvir uma faixa com o nome de Pig e atentar que o disco recebe esse sugestivo título, além de estampar sua capa com desenhos de bichos, você vai notar que cada uma das músicas do álbum recebe o nome de algum animal. O quateto montou um verdadeiro zoológico para deixar fluir suas emoções. Longe de estarem enjauladas, essas canções circulam livremente e se envolvem em forma de capítulos não lineares de uma narrativa.

Chinchila, lêmure, panda, porco, cachorro e outros bichos são que de certa forma “personificam” os dilemas amorosos expostos pelo grupo. São letras como “My God / Is this what we’ve become? / Living parodies of love and loss / Can we really be all that lost?” (Chinchila), “I’ll wait/For you to come back home/Forget about all that keeps me from you/This house built from bricks and stone/stands as a monument to the lies we told” (Pig), ou “You brought this on yourself/Our problems had enough time on the shelf/We made the same mistakes/lived our lives without the give and the take/The time we spent apart/served to remind me of when we’d talk/My one and sole regret/are the thoughts that went left unsaid” (Gibbon), que mostram isso através do falsete às vezes doloroso de Stuart Smith, dos bem arquitetados entrelaces entre as guitarras de Smith e Tim Collins e da bateria oscilante e extremamente técnica de Chris Collins.

Em faixas instrumentais, como Elk, a banda se aproxima ainda mais dos irmãos Kinsela e parecem reverenciar American Football, disco que “criou”, ou pelo menos tornou possível, a música que o trio faz hoje. O trompete dá um um charme ainda mais especial a ela.

Animals é um disco complexo, seja em estruturas ou emoções, mas muito fácil de escutar e ainda mais de se relacionar com que o grupo está expondo: casos amorosos que não deram certo e as reações que temos quando enfrentamos esse momentos em nossas vidas. Um verdadeiro zoológico de emoções.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts