Entrevista: Oliver Wilde

Dono de um dos melhores álbuns do ano, “A Brief Introduction to Unnatural Light Years”, britânico pouco conhecido conta sobre seu trabalho

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Não precisei ouvir A Brief Introduction to Unnatural Light Years muitas vezes para saber que ele se tratava de um dos melhores discos que saíram recentemente – o que é sempre ainda mais interessante quando acontece com um músico do qual você nunca ouviu falar. E foi assim minha surpresa com Oliver Wilde, que tem um trabalho tão sensível e bem executado quanto seu nome é desconhecido.

Após deixar o álbum no repeat por semanas, período no qual mostrei este som para várias pessoas, todas igualmente surpresas e deslumbradas com as músicas, consegui trocar algumas perguntas e respostas por email com o músico de Bristol, na Inglaterra. O que ele contou ao Monkeybuzz se parece muito com sua música. São frases etéreas e poéticas, às vezes até mesmo confusas, mas sempre muito verdadeiras.

Monkeybuzz: Primeiro de tudo, precisamos comentar a beleza de A Brief Introduction to Unnatural Light Years e como ficamos maravilhados quando o ouvimos (e ainda estamos assim). Você esperava algum retorno assim vindo de lugares tão diferentes?
Oliver Wilde: Não mesmo, é inacreditável. Acho que se sua intenção é alcançar uma reação positiva, então você provavelmente ficaria muito feliz, mas eu ainda estou descrente disso tudo. Também depende da sua definição de sucesso, o meu sempre foi alcançado, então cada passo a frente agora é mais um avanço em direção à fantasia.

Mb: Como foi o processo de criar essas faixas?
Oliver: Me perguntam isso sempre e é muito difícil responder, porque eu me tranquei sozinho pra fazer essas músicas sem ter que explicar pra ninguém o que estava acontecendo, então eu ainda acho difícil articular sobre elas. Parece que quanto menos eu tento escrever, melhor e mais interessantes as músicas ficam pra mim e quanto mais eu me empenho em compor, mais críticas e previsíveis elas ficam. As melhores faixas que escrevi chegaram à noite e eu tive que acender a luz e fazer rapidamente um rascunho. Odeio pensar no número de músicas e ideias que eu perdi por não tê-las gravado assim que elas vieram. É como tentar se lembrar de um sonho ou algo assim.

Mb: Quais bandas você acredita que sejam as maiores inspirações para o seu trabalho?
Oliver: Uma das minhas inspirações mais próximas foi um cara que eu conheci trabalhando em um zoológico em 2006 que fazia música eletrônica com ukuleles e violões no seu quarto, chamado Little Sea Monsters. Foi quando descobri Simple Kid que eu percebi que você poderia fazer música boa no conforto do seu quarto sem qualquer distração, custo ou limitações de tempo. Eu não tenho problemas com estúdios, mas [o quarto] é um ambiente que funciona pra mim.

Mb: Quando a gente descobre que você trabalhou em uma loja de discos, começa a fazer sentido o quanto sua música é ampla e múltipla. Como foi encontrar o seu som, a maneira com que você queria que suas músicas fossem?
Oliver: Na verdade, eu não queria que elas fossem de um jeito específico, elas vieram naturalmente dessa forma. Eu não gostaria de fazer alguma referência direta, a música ao meu redor e meu gosto variado entram na minha criatividade subconscientemente. As pessoas compararam minha música a artistas que eu nem escuto, acho que elas precisam comparar para terem alguma direção, então eu não ligo muito pra isso.

Oliver Wilde

Mb: Uma coisa que acho interessante no disco é que ele parece combinar a beleza das melodias e efeitos com uma certa ironia nos versos e mesmo no título. Você acha que a “confusão” que vem dessa mistura ajuda o ouvinte a apenas relaxar e curtir a música? Que tipo de relação você deseja que o ouvinte tenha com seu álbum?
Oliver: Eu não posso ditar nenhuma regra. Eu soltei o álbum, por assim dizer. A reação do ouvinte está fora do meu controle, é meio irrelevante. Qualquer reação é interessante, seja ela boa ou ruim. Estou feliz com o disco mas eu sei que muita gente não vai se sentir assim. Pra mim, o disco está perfeito, passei muito tempo aperfeiçoando cada elemento, e nada aparece como um acidente. Eu tenho que explicar frequentemente pras pessoas “eu fiz assim de propósito” quando elas dizem “por que o som é tão ruim?”. Espero que o ouvinte possa apenas relaxar e curtir as músicas. Elas não são canções Pop imediatamente acessíveis, elas tem letras consideravelmente profundas e cautelosas. Pras pessoas aproveitarem as músicas ao máximo, elas precisam relaxar e ouvi-las com os ouvidos nus.

Mb: E como você queria que elas ficassem ao vivo? Como tem sido o retorno das apresentações?
Oliver: Espero que as pessoas tenham uma experiência diferente quando vierem assistir ao show porque eu enxergo as músicas do álbum como se fossem quase obras de arte, ao invés de apenas canções. Ao vivo, tratamos as músicas como canções e melodias e o som é muito mais livre para interpretação e para a sentimentalidade dos músicos na banda.

Mb: Pra alguém em outro país, não é difícil notar raízes britânicas no seu som. Você observa características que você compartilha com outros compatriotas?
Oliver: Talvez. Honestamente, eu ouço muito mais música dos Estados Unidos. É um país tão vasto onde todos aqueles pequenos lugares onde a música tem chance de crescer, sem ser controlada pelo dinheiro e pela indústria, e seus projetos são completos e orgânicos. No Reino Unido, não são muitas as bandas que tem essa chance. As que tem, logo aparecem, são esprimidas de qualquer valor e jogadas na sarjeta. Ou é outra pessoa que forma as bandas e seus verdadeiros valores artísticos se perdem e se dissipam. Gosto de música do mundo todo. A Inglaterra tem um bom lance underground acontecendo no momento, não estamos exportando muita excelência no mainstream – não que ali não existam boas bandas inglesas, só é mais difícil que a música boa de verdade rompa as fronteiras às vezes. Nós na Grã-Bretanha temos uma história musical muito rica que penetra nas mentes jovens britânicas, então não tem como não absorver suas características.

Mb: O que você acha da música feita hoje em dia?
Oliver: Não tenho idade suficiente para olhar pra trás e dizer como era “na minha época”, mas acho que tem muita música incrível em todos os lugares, só não mais necessariamente no lado mainstream da cultura. Os artistas se voltaram para o underground para continuar o progresso na música. Não posso reclamar da música de agora, eu ignoro e rejeito toda a arte medíocre, então ela não me afeta. Essa é a beleza da indústria musical de hoje em dia.

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ARTISTA: Oliver Wilde
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.