“Chutes Too Narrow” – Pra Quem Ama e pra Quem Não Conhece The Shins

Segundo disco da banda ainda é aquele que apresenta melhor as características de James Mercer e sua turma

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Dizem por aí que os filhos do meio são os mais “problemáticos” em qualquer família. São os que viram a “ovelha negra da família” (um beijo, Rita Lee) por terem as desvantagens de caçulas e primogênitos sem quase nenhuma das vantagens e são os mais prováveis de passarem desapercebidos. Tenho só uma irmã, não tenho filhos e poucos amigos meus estão nessa posição, então entenda que estou apenas repassando o que eu ouvi dizer.

Se você discorda, um dos argumentos que você pode usar na discussão é a prole fonográfica que The Shins lançou na última década, de Oh Inverted World (2001) a Wincing the Night Away (2007), passando pelo “filho do meio” Chutes Too Narrow, aniversariante lançado em 21 de outubro de 2003. Dez anos depois, ele consegue ofuscar seus dois irmãos, por melhores que eles sejam.

Do gritinho no início em Kissing the Lipless à conclusão com Those to Come, o disco fica marcado como o melhor portador da genética The Shins – suas melhores qualidades estão presentes aqui e, se você quer apresentar a banda para alguém, essa é a melhor amostra possível. São músicas com cara de algo que você poderia ficar ouvindo por dias, com aquela sonoridade meio vintage, meio sem época entre rapidinhas e baladinhas que derretem qualquer fã do estilo Indie.

Fica até difícil destacar só algumas, já que cada uma delas parece ter sua hora certa pra você ouvir separadamente, e todas vem muito bem em conjunto no álbum. Tem aquelas boas pra agitar qualquer festinha entre amigos (So Says I que o diga) e as que você precisa ouvir sozinho pra aproveitar direito (como Young Pilgrims, que tem o verso que batiza a obra).

As faixas trazem mais daquela poesia meio surreal, meio “quem nunca?” do disco anterior (entre versos como “And I watch your convictions melt like ice cubes in an ocean” em Mine’s Not a High Horse e “I find a fatal flaw In the logic of love” no refrão de Gone for Good) sob a produção de Phil Ek, que até então já tinha trabalhado nos álbuns da excelente Built to Spill, por exemplo, e teve a honra de produzir futuramente pérolas como o disco de estreia da Fleet Foxes, Infinite Arms da Band of Horses ou o ótimo Fear Fun, que Father John Misty lançou no ano passado.

Ek e a banda optaram por uma ênfase maior nas guitarras das antigas, ao invés das melodias construídas nos sintetizadores (o que voltou com tudo no ano passado, quando The Shins trouxe ao mundo seu Port of Morrow). O resultado é um trabalho saudosista, com cara de algo familiar e que sempre que você ouve acrescente algo positivo em seu humor.

Por falar em “saudosista”, ouvir Chutes Too Narrow hoje é entrar em uma avalanche de lembranças desses últimos dez anos desde que ele saiu. E o mais impressionante é que se trata de uma obra sensível o suficiente para causar envolvimento e resposta emocionais mesmo em quem não acompanhou a banda nessa década.

É aquela coisa boa que The Shins tem de te fazer se sentir parte da família. E se você ainda não teve isso, aproveite que esta é a melhor porta.

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ARTISTA: The Shins
MARCADORES: Aniversário

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.