Dônica é uma banda feita por e para brasileiros. Arrisco afirmar isso porque, assim como acontece quando você ouve Baleia, por exemplo, vem aquela sensação de uma música feita naturalmente a partir de tudo o que nós, nascidos e criados na pátria amada, crescemos ouvindo por aí.
Você dá o play e logo vem Clube da Esquina na cabeça, mas o imaginário vai muito além disso. Tem a ver não só com estética, mas todo um espírito gingado e melódico com que se produz no país após a Tropicália. Fora que é sempre bem bonito.
A banda ainda é recente, com seu primeiro álbum pra sair dentro de duas semanas, dando sequência ao EP autointitulado lançado no ano passado. Uma olhada no Soundcloud revela também alguns sons anteriores, de uma época em que o quinteto ainda não estava assinado com a Sony Music. Sua identidade, percebe-se, permanece a mesma – com o evidente e esperado amadurecimento, é claro.
Todas as músicas do EP estarão no álbum, o que é um bom sinal, já que três das quatro são ótimas (não se assuste com a faixa de abertura, Macaco no Caiaque, relativamente mais “bobinha” que as seguintes). São construções bem feitas em composições sem pressa (duas tem mais de seis minutos de duração), o que é sempre louvável.
Perceba como elas são bonitas, ainda que a lírica às vezes comunique pouco (“Você brinca com a vida, brinca com a vida até morrer” não é a melhor das poesias, sabemos) ou quase nada (“Caraíva, pescador, mar” entra para o hall de letras indecifráveis da nossa música), mas isso também nunca chega a incomodar, principalmente quando tudo se encaixa tão bem com a música.
Foi lançada hoje essa faixa, Pintor, com ninguém menos que Milton Nascimento, para adiantar um pouco mais do disco, que se chama Continuidade dos Parques e sairá em 16 de junho. Até lá, aproveite o conteúdo já divulgado.
E, só pra deixar claro, ter o filho caçula de Caetano Veloso na banda não pode ser motivo nem para ouvi-la, nem para desmerecê-la.
