Ouça: Tuyo

Trio de Curitiba lançará EP nesta quinta, 30, com Lemoskine e Baleia na produção

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Fotos: Cris Gegembauer

Pode falar em primeira pessoa desta vez? Então lá vai.

Foram poucos os momentos em 2017 quando, durante um show, o corpo respondeu com aquele frio na barriga que te faz saber que está diante de algo muito grande. Muito poucos. Um deles foi ao ver Tuyo em um pequeno teatro em São Paulo há cerca de dois meses. O elemento surpresa (não conhecia praticamente nada do trio até então) pode ter ajudado, assim como a comoção de estar cercado de fãs e admiradores (a gente absorve um pouco disso, né?), e em algum momento eu até quis contra-argumentar que minha memória afetiva estava aumentando as coisas. Entretanto, com o EP Pra Doer rodando em loop aqui nos fones, uma semana após o clipe de Amadurece e Apodrece ter arrancado elogios de tanta gente à minha volta, sou tentado a afirmar que, sim, estamos diante de algo muito grande.

Lay, Lio e Machado ficaram conhecidos em Curitiba e na cena independente do Brasil como um todo como três quintos do grupo Simonami, que “entrou em silêncio pra outros grupos fazerem barulho”, como Lio falou ao Monkeybuzz, explicando que seus integrantes dedicam-se hoje a outros projetos. E esses três seguiram juntos, por uma estética tão orgânica quanto eletrônica, marcada pelo violão, pelos beats e, principalmente, pelas vozes, tudo em uma grande harmonia com o discurso conscientemente artístico que a banda profere.

Isso é uma das lembranças que tenho daquele show, de como (e o que) falavam entre as músicas. Parece que grande parte da identidade de Tuyo está nesse cuidado de equilibrar tantos fatores – técnica, estilo, insipiração, tema, sensibilidade – sendo muito tudo disso tudo ao mesmo tempo.

Sobre sua estética, Lio comenta: “Nos movemos pra não adoecer, porque vamos experienciando outras formas de criar objetos de arte. O negócio é que, se em lugar de acrescentar a gente substituir, não sobra nada dos nossos rostos antigos e a gente vai se transfigurado até ficar irreconhecível. O método mais eficaz tem sido se debruçar sobre o infinito de possibilidades que os computadores nos dão na escolha de timbres (que vão mover o novo) e amarrá-los firmemente às nossas vozes (que vão entregar tudo o que há de familiar e mais antigo). É a mística que se busca desde sempre, né? Acessar o desconhecido sem se perder”.

“Machado pesquisou em casa, com o auxílio pesado da Lay, as formas de produzir uma prévia do que buscávamos em estúdio pra fazer com que essas músicas já conhecidas ganhassem um fonograma que fizesse jus ao poder que elas têm ao vivo”, comenta ela sobre o processo de produção do disco, que envolveu Felipe Ventura, Cairê Rêgo e Gabriel Vaz (todos da banda Baleia) em um “modelo de produção participativa. Fomos ao Rio de Janeiro pra colocar em prática o trabalho que desenhamos todos juntos à distância – nós no Paraná e eles no Rio – e captar três das quatro faixas. A quarta faixa separamos pra dividir a produção com o Lemos (Lemoskine), nosso vizinho e amigo”.

O resultado de todo esse processo, o EP Pra Doer, estará disponível nas principais plataformas digitais nesta quinta, 30 de novembro. Ao ouvi-lo, pode ser que você se lembre da minha experiência sentado sozinho no teatro, bem em frente a essas vozes e melodias, lidando com os frios na barriga e com a sensação de que há muito não se vê no Brasil um grupo que tenha tanto potencial de agradar em larga escala com, e através de, enorme qualidade.

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ARTISTA: Tuyo
MARCADORES: Entrevista, Ouça

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.