5pra1: Diana Ross

De hinos da disco a baladas românticas, uma seleção que comprova a grandiosidade e a elegância de um ícone

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Fotos: Michael Ochs

A série 5pra1 apresenta e destrincha cinco discos que servem como primeiro mergulho na obra de um artista.

 

Sintetizar a obra de Diana Ross por meio de cinco discos é, ao mesmo tempo, um desafio e uma valiosa oportunidade. A cantora americana é dona de uma obra versátil, vasta (com discos de 1970 a 2021) e repleta de momentos dourados na música popular dos Estados Unidos – aí está o desafio. No entanto, a missão cria o caminho para se aprofundar em Diana Ross enquanto ícone, não apenas por seu catálogo magistral, mas por sua estética refinada, seu glamour e sua personalidade tão esplêndida e influente.

Em mais de uma entrevista, Diana disse que seu objetivo sempre foi fazer as pessoas felizes. Aos desatentos, isso pode parecer simplista, um clichê ou um exagero, mas basta mergulhar em sua discografia para notar como tudo o que ela toca transmite uma mensagem solar e resiliente – seja na Motown, na disco, no R&B ou nos experimentos com música eletrônica a partir dos anos 1990. Mais do que uma das primeiras divas pop, ela é uma das artistas mais sofisticadas, autênticas e amadas de todos os tempos. Diana Ross é simplesmente chique.

O foco dessa lista foram os discos lançados por Diana Ross como artista principal, excluindo compilações, colaborações e projetos em banda. Ainda assim, vale mencionar trabalhos como Where Did Our Love Go (1964), segundo disco das Supremes, e Diana & Marvin (1973), álbum de duetos com Marvin Gaye e uma pérola da Era Motown.

 

Diana Ross (1970)

Diana Ross foi longe ao lado das Supremes – 12(!) singles no topo do Hot 100, da Billboard –, mas eventualmente a Motown passou a dar mais atenção a sua carreira solo. Em 1970, ela lançou seu primeiro álbum, crucial para captar a forma como Diana começou a moldar sua identidade a partir da sonoridade consolidada na lendária gravadora de Detroit. Arranjos grandiosos, ensolarados e classudos se mesclam a levadas sutilmente funkeadas, criando a receita perfeita para o brilho de Diana Ross ascender como protagonista. Baseado majoritariamente em composições da dupla Ashford & Simpson, é uma estreia triunfante – tal qual sua emblemática versão de “Ain’t No Mountain High Enough”, uma demonstração de que os anos de Supremes estavam ficando para trás e havia novas possibilidades a serem exploradas.

Destaques: “Ain’t No Mountain High Enough”, “You’re All I Need To Get By”, “Something On My Mind”

 

The Boss (1979)

Após, em 1972, interpretar Billie Holiday no filme Lady Sings The Blues, Diana passou a explorar a linguagem da disco music durante o restante da década – entre ímpetos mais diretos e alguma discrição. Em The Boss, ainda não atingimos o auge da festa, é mais como um coquetel refinado antes de partirmos para a pista, mas é aqui que a cantora começa a se solidificar como referência de glamour e elegância. Já como ícone cultural, ela cria um som feito para dançar, mas que também transmite poder e sedução, além de entoar baladas de derreter corações, como “Sparkle”. Produzido e composto inteiramente pela dupla Ashford & Simpson, The Boss antecipa a efervescência que Diana experimentaria na década seguinte, além de destacar como, por trás de faixas dançantes, prevalecem sutilezas hipnóticas.

Destaques: “The Boss”, “It’s My House”, “Once In The Morning”

 

Diana (1980)

Considerado por muitos como o ápice da carreira de Diana Ross, Diana é um marco da disco e da música pop. Produzido por Nile Rodgers e Bernard Edwards, ambos integrantes do Chic, o álbum é a celebração da liberdade criativa e emocional da cantora, além de um fidedigno de visita para a atmosfera dos anos 1980. Os hits estrondosos “I’m Coming Out” e “Upside Down” dão o tom da festa, que ainda abre espaço para baladas belíssimas e vulneráveis como “Now That You’re Gone”. Ao nomear o álbum dessa forma, Diana parece colocar sua história, sua voz e sua autonomia em primeiro plano. Em alguns momentos, suas interpretações são tão perfeitas que até mesmo frases faladas se tornam harmônicas. Enriquecido ainda pela guitarra sempre crocante e minuciosa de Rodgers, Diana entrou para a lista de 500 melhores álbuns de todos os tempos, feita pela Rolling Stone.

Destaques: “Upside Down”, “I’m Coming Out”, “Tenderness”

 

Swept Away (1984)

Mesmo já estabelecida no pódio da disco music, Diana seguiu explorando novos caminhos sonoros. Em Swept Away, ela mantém o groove e uma ou outra homenagem aos globos espelhados, mas incorpora alguns elementos eletrônicos e, muitas vezes, encarna performances relativamente contidas, embebidas de um R&B romântico. “It’s Your Move” é uma autêntica união entre alegria e melancolia – e que, posteriormente, viraria sample do hino não oficial do vaporwave (Macintosh Plus, 2013). Uma das grandes baladas românticas-de-fossa de sua carreira, “Missing You” (composta por Lionel Richie), chegou ao Top 10 do Hot 100. Ela realmente estava romântica em Swept Away… Quer prova maior do que uma parceria com Julio Iglesias, em “All Of You”?

Destaques: “It’s Your Move”, “Missing You”, “All Of You”

 

Take Me Higher (1995)

Com título apropriado, o 20º disco da carreira solo de Diana Ross expressa sua ambição de se jogar na música eletrônica noventista. Referências de house, voguebeat e jersey se unem à experiência no R&B e na disco – e o resultado, como você pode imaginar, é dos mais dançantes. Ainda que não exatamente elogiado pela crítica e um considerável fracasso de vendas, Take Me Higher representa o momento em que Diana atualiza seu status de diva, acompanhando novas tendências e se sintonizando à cultura pop da época. Há movimentos à la “Vogue”, de Madonna, mas há a identidade incontornável de Diana em cada detalhe, além de cacoetes do R&B mais melado da época – vide colaborações de Babyface na ficha técnica. A faixa-título foi o grande hit do disco, chegando ao topo da parada dance da Billboard, e fechando o repertório, há ainda uma versão endorfinada do clássico “I Will Survive”.

Destaques: “Take Me Higher”, “Swing It”, “I Will Survive”

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ARTISTA: Diana Ross

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique