André Whoong: Nóia Rebelde, mas Autêntico

Músico conta sobre álbum “1985”, seu processo de composição e suas pressões internas

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“Aquele menino do colégio que você não é amigo, daí, de repente, você percebe que ele é uma pessoa com uma coisa a mostrar que você não esperava” – essa foi uma das definições que André Whoong ouviu sobre ele mesmo após o lançamento de seu álbum de estreia, 1985 e que faz sentido após uma audição do disco e mais ainda após estar pessoalmente com o artista.

Com sua estatura modesta, o paulistano poderia passar desapercebido em um grupo de pessoas, apesar de sua grande simpatia e sorriso amplo. Em uma conversa (mesmo em uma entrevista), ele faz várias perguntas e mostra-se bastante observador ao comentar as respostas que recebeu. Dá para notar facilmente que, além de todo o talento para a música, a sociabilidade é um dos dons do moço.

Por isso, é natural que ele tenha tantos amigos na cena independente da cidade, justamente o pessoal que o apoiou para que um disco solo saísse do plano das ideias e virasse realidade, após tantos anos de carreira acompanhando outros músicos. “Eu sempre tinha um lance de querer me expor”, ele conta, “mas demorou pra rolar, não sei se por vergonha ou por falta de coragem. Ultimamente, eu sou quem eu sou e foda-se”.

Essa frase diz muito sobre André: Um misto do que ele chama de “uma rebeldia calma” com um estado de alerta constante (“Eu sou nóia pra caralho”, ele repete algumas vezes na conversa). O primeiro é o lado que lhe dá impulso para cantar sobre situações às vezes embaraçosas, enquanto o segundo é o que garante que as músicas venham não apenas com o senso de humor, mas também com uma grande qualidade.

Seu espírito mais desencanado nas letras – que já lhe renderam também comparações até a Raul Seixas e Cazuza -, vem também da maneira com que ele as escreve. “É muito espontâneo”, explica, “fui fazendo de improviso em casa, onde gravei as prés do disco. Eu cantava na loucura de fazer sem pensar no que estava fazendo, depois editava sóbrio”, e nisso vieram também versos escritos já há muito tempo (“que fazem ainda mais sentido hoje em dia”), assim como alguns temas que se repetem ao longo do disco ( como “Quem sabe de mim sou eu, quem sabe de você também sou eu”). Daí também uma honestidade nas músicas que os amigos sempre fazem questão de mencionar, mas qualquer audição de 1985, mesmo se você nunca nem ouviu falar de André Whoong, vai revelar com clareza.

Já o lado “nóia” vem da atenção de criar uma obra bem feita e original. Ele conta que se inspirou em Mac DeMarco e foi através do omnichord (um pequeno sintetizador, presente em todas as músicas do disco) que ele achou uma coesão para a obra. “As pessoas que não me conhecem falam que é muito diferente do que já ouviram”, conta o músico, “que acham uma coisa meio nova, que consegui fazer algo Indie e Pop ao mesmo tempo” – o que ele admite que era sua intenção.

E tudo isso tem a ver com fazer 30 anos e a fase de vida em que ele está agora. “Sinto uma expectativa maior das pessoas em mim”, revela, “parece que agora não é mais brincadeira, que eu não posso mais errar como antes”. Ao mesmo tempo, isso vem com a maturidade de confiar em si mesmo e poder ousar ser quem é, cantar um refrão que diz “eu amo você” e subir ao palco para relatar dores de antes.

“Meu maior exercício é deixar de me preocupar com o que os outros pensam”, ele confessa, mas deixa claro que pode fazer isso porque se preocupa sozinho o suficiente consigo mesmo. “Eu sou bem noiado com criatividade. Se não consigo fazer um projeto de música em três dias, já quero mudar de carreira”, brinca e completa: “Tem uma parte de mim que fica me testando toda hora – ‘mano, você não vai conseguir fazer isso’ -, e outra que diz ‘vou sim’. É esquizofrenia o nome disso?”.

Seja no palco, em vídeos, ou no disco, o resultado é sempre uma obra autêntica que faz com que André Whoong seja notado para além de sua personalidade (“Você é maior figura, meu” é uma frase que ele diz que sempre ouve), com o devido respeito pelas músicas sobre os exageros de um cara que talvez seja como muitos que você conhece. E a graça está justamente nisso.

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ARTISTA: André Whoong
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.