Cadê: O Primeiro Disco Solo de Leoni (1993)

Disco que marca o início da carreira solo do músico é hoje uma raridade, sendo encontrado apenas em sebos e por meio de terceiros

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Se há um compositor pop brasileiro que é alvo de grande injustiça histórica, ele se chama Carlos Leoni Rodrigues Siqueira Júnior. Dono de uma rara habilidade de contador de história, daqueles clássicos, capazes de assumir vozes dos personagens que cria, Leoni enfrentou uma carreira de altos atmosféricos e baixos abissais, mas nunca deixou de lado sua enorme capacidade de compor belas letras e melodias com fortíssimo acento Pop. Foi assim no Kid Abelha, no Heróis da Resistência e, é claro, quando iniciou sua carreira solo em 1993.

Leoni deixou o Kid Abelha após o lançamento do segundo disco, Educação Sentimental, em 1985. Ele deixaria a banda pouco tempo depois, por conta de divergências criativas, pelo desejo de cantar algumas das canções que compunha, além de alguns episódios desagradáveis envolvendo a vocalista da banda, Paula Toller e seu amigo, Herbert Vianna. A amizade com o líder dos Paralamas do Sucesso manteve-se intacta e o relacionamento com outros integrantes do Kid, como George Israel, também resistiu ao tempo e às rusgas. Longe de sua antiga banda, Leoni resolveu partir para nova empreitada, dessa vez à bordo de um novo grupo, Heróis da Resistência, no qual mantinha sua função de principal compositor e acumularia os deveres de cantor.

O Heróis durou três discos e fez, ao menos, quatro grandes canções: Só Pro Meu Prazer, Nosferatu, Dublê de Corpo e Esse Outro Mundo, todas do primeiro disco, de 1987. Em 1993, Leoni deixava o grupo (que lançara seu terceiro disco em 1990) e iniciava uma aguardada carreira solo. Deixando de lado o idioma Tecnopop adotado pela antiga banda, algo como uma versão carioca de apropriação de trejeitos do Roxy Music e Bryan Ferry solo, a exemplo do que os paulistanos do Zero faziam, com a diferença pendendo a favor do quarteto carioca, sobretudo pelo talento de Leoni à frente das composições. Com o fim da banda, ele rumou para a EMI e gravou seu primeiro álbum, chamado simplesmente de Leoni. Com a produção e a parceria do primeiro baterista do Kid Abelha, Beni Borja, ele gravou um belo disco.

Logo destacou-se Garotos II – O Outro Lado, uma canção acústica, uma espécie de versão masculina do sucesso do Kid Abelha, Garotos, no qual Leoni assumia uma figura feminina para inventariar as opiniões das mulheres sobre a imaturidade dos homens na hora da conquista. Nesta nova canção, Leoni agora adotava o discurso dos homens, confessando sua dificuldade em lidar com as artimanhas femininas na sedução. A canção fez muito sucesso, mas o disco permaneceu fora das rádios. Apesar de outras músicas muito acima da média e, pelo menos, dois clássicos instantâneos, O Fim de Tudo e Carro e Grana (esta última, incluída na trilha sonora nacional da novela global Quatro Por Quatro), cuja letra é uma crítica à volatilidade do sucesso e de como as coisas podem ficar diferentes de um minuto por outro, é emoldurada por uma levada Reggae inédita em suas canções, além de um coro que emula cânticos africanos.

Não resta qualquer dúvida de que o álbum merecia sorte muito melhor em termos de vendas e sucesso. Com distribuição confusa e pouca projeção, o disco permaneceu esquecido por muito tempo, fazendo com que Leoni, após investidas mal sucedidas em forma de lançamento de singles, só retornasse ao disco em 2002, com o sensacional Você Sabe O Que Eu Quero Dizer, que pavimentou seu caminho a uma posição mais justa em meio aos artistas legais dos anos 80. Seu primeiro disco foi editado em CD em 1993 e logo saiu de catálogo. Recentemente foi reeditado, mas também já está fora de circulação. É possível encontrá-lo em sites por cerca de R$ 50,00.

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ARTISTA: Leoni
MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.