Daniel Johnston e Sua Vida Sincera

Conheça um pouco mais sobre o ícone da cena underground antes de seu aguardado show no Brasil

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Daniel Johnston é um símbolo para o underground. Ativo desde 1978, o cantor demoraria 12 anos para conseguir gravar um disco sob algum selo. A sua notoriedade e conhecimento foi sendo passado no boca a boca da cena musical, muito devido à sua personalidade – ele costumava entregar fitas com suas gravações para as pessoas que ele conhecia no seu dia a dia – e também a suas letras sinceras, as quais o transformaram em um poeta contemporâneo.

Ao longo de seus mais de 30 anos de carreira, o seu disco mais famoso talvez seja Hi, How are you? de 1983. Além de conter diversos clássicos do artista, sua capa se tornaria icônica com um desenho feito por Daniel, um sapo chamado Jeremiah, o Inocente. O desenho ganharia o mundo através de Kurt Cobain na divulgação de Nevermind do Nirvana. Ele apareceu em várias entrevistas e fotos utilizando uma camiseta com a capa do famoso álbum, elevando ainda mais o status de “cult” de Johnston.

As capas de suas obras são todas desenhadas pelo músico, o qual teve o seu trabalho artísitco exibido em algumas galerias pelo mundo como a Aquarium Gallery de Londres e Clementine Gallery de Nova York. Seu som pode ser considerado Lo-Fi, em gravações que soam cruas e puras, sem grandes produções e que valorizam uma voz que, independente de qualquer adjetivo, é sobretudo sincera. Uma das suas músicas mais famosos é True Love Will Find You In The End. Esperançosa, a canção tem nos versos “True love will find you in the end /You’ll find out just who was your friend/ Don’t be sad, I know you will, /But don’t give up until/ True love will find you in the end” e no espírito de Daniel um poder mobilizador.

Seu show em São Paulo, no próximo 9 de março, será dividido em três atos que provavelmente proporcionarão momentos de intensa emoção. Primeiro, Daniel tocará sozinho, voz e violão como um artista de rua, underground que sempre foi. Depois, dividirá o palco com o músico Brett Hartenbach e, ao fim, será acompanhado pela sua banda completa. Seu estilo rústico lembra os primeiros momentos de artistas como Bob Dylan, Rodriguez e Johnny Cash, verdadeiros heróis do Folk e que se faziam ser ouvidos muito mais devido ao teor de suas palavras do que pela melodia de suas músicas.

Assim como os grandes artistas, sua personalidade é carregada de histórias, elevando ainda mais a importância de sua exibição no Brasil. Johnston é bipolar e esquizofrênico, doenças que acabaram dificultando sua carreira artística em diversos momentos. Em 1990, ele estava viajando em um avião bimotor com o seu pai, Bill, quando Daniel acabou tendo uma crise bipolar. Achando que era o fantasma Gasparzinho, Johnston tirou a chave de ignição do avião e a jogou para fora, pela janela. Se não fosse a habilidade de seu pai, que conseguiu pousar o bimotor sobre algumas árvores, e sorte, nenhum dos dois sofreu se machucou gravemente, Johnston poderia não estar mais aqui. Após o episódio, o músico se internou voluntariamente.

Daniel recusou um contrato de diversos discos com a Elektra Records pois considerava Metallica, grupo do mesmo selo, possuído pelo demônio e que isso poderia lhe causaria algum mal. Acabou assinando com a Atlantic Records e lançou Fun em 1994, seu disco nas diretrizes da indústria fonográfica e que infelizmente foi um fracasso comercial. Suas doenças e casos foram retratados no elogiadíssimo documentário The Devil and Daniel Johnston, premiado no festival de Sundance nos EUA.

Toda a sua história será colocada a prova ao vivo no próximo sábado no Beco 203 e esta é grande chance de ver uma das lendas vivas da música underground. Mais do que um concerto, o evento será uma demonstração da sua importância para a música, um artista que inspirou e emocionou muitas pessoas através de letras e seu jeito sincero, qualidades cada vez mais dificieis de serem vistas por ai. Não perca a oportunidade de ver um exemplo de vida em uma exibição histórica no Brasil.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.