Eli Iwasa fala sobre o b2b com Valesuchi

Artista consagrada está ansiosa pelo encontro inédito que une duas mulheres poderosas

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Fotos: Antonio Wolff

Pense numa relação movida pelo romance, adicione emoção, altos dramas e sensibilidade à flor da pele. Isso é o mínimo esperado quando pessoas do signo de peixes estão lado a lado, conforme a sinastria astrológica.

Bote fé ou não em horóscopo, acredite, essa teoria fará mais sentido quando duas piscianas compartilharem o palco: Eli Iwasa e Valesuchi. Juntas em um B2B inédito, quem estiver na pista Modular no festival DGTL, em São Paulo, vai ganhar uma bela surpresa com duas mulheres icônicas em seus meios de atuação. “Eu me senti desafiada, pois nunca toquei com Valesuchi e tenho maior admiração por ela. Estou ansiosa”, diz a DJ Eli Iwasa em entrevista ao Monkeybuzz.

“O mais instigante de tocar em B2B é conduzir o set após a escolha de uma track por outra pessoa. Sintonia é fundamental, bater uma química ali na hora. Como Valentina tem um gosto variado e pesquisa musical altamente diversificada, então, fico curiosa e sem a menor ideia do que pode rolar. Muita gente associa meu trabalho somente ao Techno, mas eu adoro caçar raridades de Ítalo-Disco, House, Electro e outros estilos. A única certeza é que irei aproveitar a ocasião para botar esse lado para fora”, complementa a artista lenda da cena clubber brasileira que está na ativa há mais de 20 anos.

De cara, pode soar inusitada essa união, afinal, Eli é cria dos primórdios da Eletrônica paulistana, quando frequentava nos anos 90 clubes como Massivo e o after-hours Hell’s Club . Foi na pista do Lov.e que ela fez história nos anos 2000, ao encabeçar a Technova, festa de Techno que tinha até o DJ Mau Mau como residente. Antes disso, participou da Open Air Groove Nation em 99. Já Valesuchi movimentava Santiago e o mundo através da rádio Cómeme, da label homônima idealizada por Matias Aguayo, se apresentava no underground da cidade e tinha lançamentos em selos locais, como o Discos Pegaos.

Até então, se der uma forçada de barra, o vínculo mínimo que elas tiveram foi Eli ter trazido o conterrâneo de Valentina, o chileno Ricardo Villalobos para tocar no Lov.e. Mas além da posição do Sol no dia de nascimento, a dupla têm mais aspectos em comum do que o primeiro olhar poderia detectar. Ambas fizeram parte do Red Bull Music Academy: Valesuchi na versão em Tokyo, em 2014, quando teve entre os colegas o produtor Pedro Zopelar. Anos atrás, em 2003, Eli Iwasa foi da mesma turma do Black Coffee no RBMA em Cidade do Cabo, edição especial cheia de visitas aos guetos musicais africanos.

Elas também conduzem suas vidas através da música de forma passional. Após a morte do irmão, Valesuchi herdou a coleção de discos e seguiu os passos dele até como uma forma de atenuar a dor. Com jeitão de novela mexicana, Eli foi movida pelo amor em direção a Campinas, apesar dos protestos dos amigos na época. “Todo mundo me achou doida, afinal sair de um circuito urbano como o que integrava o Love. Eu tinha um namorado que residia em Campinas, fui para lá. Mas não consegui ficar muito tempo sem uma pistinha” relata Eli. Para sorte dos campineiros, a DJ levou seu repertório e expertise para fazer clubes icônicos na cidade, como o Kraft, Club 88 e agora, recentemente, o Caos.

“Minha maior satisfação é ter construído um ambiente de convívio entre pessoas totalmente diferentes, unidas pelo prazer de ouvir um som. Em uma cidade conservadora ter um local onde gays, héteros, drags e todas as turmas podem conviver em harmonia é um ato transgressor, de resistência. Aos poucos, vejo as pessoas quebrando preconceitos unidas pela música, isso é especial demais“, complementa a artista, que também é vocalista do projeto Bleeping Sauce.

Questionada sobre como é sua rotina na administração dos negócios, ela dispara: “Olha, não existe escola para aprender a trabalhar com música em clube, nem cartilha de como se faz festa. É no dia a dia que se aprende como funciona, na base de muitos erros. É necessária muita humildade para não se acomodar e pensar que você está cheia de razão. Já teve artístico caríssimo que eu trouxe para tocar imaginando que seria maior sucesso, porém, deu um puta prejuízo. O que funciona em São Paulo não garante que seja legal para o público em Campinas. É uma caixinha de surpresa”.

Artistas do porte de Laurent Garnier, Carl Craig, Nina Kraviz, Marcel Dettmann, Marco Carola, Recondite, Guy J, Ryan Elliott e Efdemin tocaram em Campinas graças à equipe de Eli. Por último e o mais importante: esta é uma união de mulheres que fazem questão de representatividade. Neste ano, Valesuchi questionou duramente nas redes sociais a presença de artistas sul americanos no festival Dekmantel no line up da versão holandesa, além de já ter criticado a falta de mulheres durante uma edição do Sónar em São Paulo.

“O meu talento está sempre questionado em função de eu ser mulher. Tem gente que diz: ‘Ah, mas ela conseguiu isso por causa do namorado. Ah, é melhor você usar umas roupas mais sérias, seu visual é muito sexy. Você sabe mesmo para que serve este cabo? Não é legal você discotecar de salto alto.’(…) Homem nunca é questionado se faz parceria com uma marca, se ele é feio ou mal vestido. Falem o que quiser, eu vou tocar de salto alto sim, de vestido curtinho. Sabia que em muitas reuniões de negócios tem caras que não falam sobre grana comigo? Chega nessa hora me excluem por eu ser mulher. Acabam engolindo. Assunto de dinheiro é comigo sim, aceita”, declara uma das DJs que consegue ter um dos melhores panoramas da presença de mulheres na cena. “Há 20 anos era bem complicado, hoje, as meninas estão fazendo barulho, conquistando espaço. Tem cara ainda que diz: ‘ah, mas agora estão chamando só minas para tocar’. Agora é assim mesmo! Precisa reforçar sempre, questionar a ausência feminina no line-up, chamar as meninas para atenuar essa diferença brutal perpetuada por décadas de machismo pesado. Para os homens que duvidam da nossa capacidade eu digo: veja só, as festas mais interessantes da atualidade tem mulheres na organização, como a Cashu e a Laura Diaz na Mamba Negra, Carol Mattos na MASTERplano, Amanda Mussi na Dûsk e Bárbara Egídio na 101Ø, entre outras”, reflete Eli Iwasa, que encerra a entrevista falando sobre signos e dando dicas de perfis astrológicos no Instagram. “Eu adoro um horóscopo, vejo todos os dias”.

Sem dúvida, este encontro será regido pelas estrelas. Para mais infos: DGTL.

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