Entrevista: Yonatan Gat

Músico em passagem por São Paulo comenta novo disco e seu processo de composição

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Yonatan Gat é outro nível de músico. Simples assim.

Se suas músicas já indicavam isso, esta entrevista ao Monkeybuzz aumenta todo o conceito sobre o artista, que encontra-se em São Paulo para única apresentação às 22h desta sexta, 4 de setembro (na casa de shows Serralheria, com ingressos a 30 reais na porta).

Ouça seu novo compacto, Physical Copy, que será lançado pela Balaclava Recordes e que teve Steve Albini (sim, ele mesmo) na gravação, e aproveite suas palavras.

Monkeybuzz: Como você explica Physical Copy?
Yonatan Gat: Doze minutos de brutalidade. A música é influenciada pela Eletrônica, mas é puramente ao vivo e analógica, gravada em fitas sem overdubs. É como uma rave, mas com uma guitarra, baixo e bateria.

Mb: Você poderia comentar mais sobre o nome do disco? Parece tratar com ironia da indústria fonográfica de hoje.
Yonatan: Você pode ver como um comentário sobre como a música é produzida, manufaturada e vendida agora. É interessante como a música volta a ser “éter”, sabe? Ela não existe mais (exceto por algumas boas pessoas que colecionam vinil). Música está no ar, na “nuvem”. É de outro mundo. Acho isso péssimo por um lado, mas é fascinante por outro. É o que a música costumava ser, ar. Agora, está voltando a ser assim. Então, os discos em vinil, como o nosso, podem ser vistos como cópias físicas do ar. Você também pode pensar no nível em que a música é feita. A música digital é uma cópia binária do som, ondas de som transformadas em zeros e uns para serem reproduzidas como ondas sonoras. Já a música analógica é uma cópia da música – uma cópia em fita, ela ocupa espaço verdadeiro em uma fita física. Este disco é uma cópia analógica de música digital. A música no nosso show também é muito física, então o disco é um jeito de capturar isso, especialmente com um engenheiro como Albini, que é ótimo nesse tipo de coisa.

Mb: Qual é a diferença entre fazer turnê sob o nome Monotonix e usar o seu próprio?
Yonatan: Bem, com esta banda, improvisamos todas as noites. É mais uma questão do ambiente musical, enquanto com Monotonix era mais sobre o ambiente de performance. São duas coisas diferentes que tem muitas semelhanças. Às vezes, as pesoas que não sabem quem eu sou vem até mim depois do show e me dizem que lembra uma banda que elas viram uma vez. “Chama Monotonix, você conhece?”. Mas as pessoas que viram a banda apreciam a diferença. Os dois shows são espetaculares, mas de maneiras diferentes.

Mb: Sendo um guitarrista de respeito, você acha que os artistas hoje estão menos interessados em virarem mestres em seus instrumentos do que eram antigamente?
Yonatan: É mais fácil fazer um filme no seu iPhone, é mais fácil começar uma banda e fazer turnê e conseguir um certo reconhecimento na Internet. Você não tem que ser “aprovado” pelas pessoas que decidem como era antes. Sinto que o Rock’n’Roll está cheio e não-virtuoso hoje, mas isso não é sempre ruim. Quando The Ramones ou Beat Happening fizeram isso, foi ótimo. Não sinto que qualquer elemento técnico, como destreza ao tocar um instrumento, faça a música ser boa ou ruim. É uma questão de feeling. É uma questão de honestidade. Se você tem ambições técnicas, a única forma da sua música ser honesta é atingindo esses objetivos. Se você não tem, deixa pra lá. Seja você mesmo. Dito isso, acho que há espaço para mais ambição no Rock’n’Roll do futuro. E não só uma ambição do tipo Prog-Rock.

Mb: Sua música parece se destacar não só pela alta qualidade, mas também por uma certa liberdade nos arranjos, enquanto muitas bandas se prendem a músicas que seguem uma certa categoria. Você observa algo assim? Como é seu processo de composição?
Yonatan: Acho que um gênero ou estilo de música costuma ser formado por uma pessoa ou um grupo de pessoas. Acho impossível que alguém poucos anos depois crie exatamente o mesmo tipo de música de forma honesta. Uma parte do processo de crescer como música e conhecer a si mesmo é entender que você precisa encontrar sua própria voz, não pode ser a de outra pessoa. Sobre composição, escrevo música o tempo todo. Em ensaios, passagens de som, em shows, em casa, na minha cabeça. É mais improvisado e, se algo é bom, eventualmente fará parte de um disco. A maior parte do meu trabalho é feito em colaboração com os músicos com quem estou tocando no momento. Sergio Sayeg e Gaz Lazer são ambos ótimos improvisadores e compositores em seus próprios modos, então eu posso me beneficiar de seus talentos. Mesmo se estou sem inspiração, posso me alimentar da deles, e vice-versa. Dessa forma, sempre há criatividade, sempre tem alguém aprontando algo.

Mb: Qual é a importância de achar os músicos certos para estarem com você em um disco ou show? Como você os escolhe?
Yonatan: Quando você improvisa, acho importante estarmos próximos como seres humanos. Quando permitimos um ao outro essa liberdade louca de fazer qualquer ideia que tiver no momento, é fácil irritar alguém com quem você não tem intimidade. Por exemplo, estou experimentando uma ideia e outra pessoa na banda decide fazer algo totalmente diferente do clima que eu tinha em mente. Estamos no meio do show e pode insultar ou frustrar. Mas pode também levar a contradições interessantes. A ideia é confiarmos uns nos outros em um alto nível, para que saibamos que as intenções da outra pessoa são musicais e puras. Isso cria um ambiente no qual os músicos estão verdadeiramente livres para ir mais fundo em lugares imprevisíveis.

Mb: E o que podemos esperar de seu show em São Paulo? Yonatan: Já estive aqui antes, mas nunca fiz show. Acho que o público estará bastante aberto e curioso sobre nossas ideias, assim como estaremos abertos e curiosos sobre as dele. Lembre-se que o show é improvisado e o que quer que a plateia faça influencia nosso show completamente. Todo mundo está construindo uma vibe juntos, espectador ou músico.

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ARTISTA: Yonatan Gat
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.