O suingue e as misturas de UANA

A cantora recifense explica sua mescla entre pop internacional e cultura popular, conta como se deu a parceria com FBC e indica os próximos passos rumo ao álbum de estreia

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Fotos: Uhgo

Com uma leva de bons singles lançados desde 2021, a recifense UANA vem mostrando uma persona pop e popular, que casa de forma inteligente uma série de referências internacionais sob uma ótica bem brasileira, em canções que passeiam pelo R&B, o brega funk e o brega romântico. “Pena Que Acabou”, seu mais recente lançamento, por exemplo, tem como principal base o afrobeat, mas também traz elementos que conversam com a música pop e o reggaeton.

E todas essas misturas têm um sentido dentro da história de UANA, uma vez que a artista já é dona uma longa carreira. Ela começou como atriz, virou a atriz que canta, e depois passou a circular pelo universo da música popular pernambucana, com uma pesquisa ampla em torno de gêneros como o coco, o maracatu e o forró. Antes da pandemia, a artista havia lançado outros trabalhos em formação de banda, mas com o distanciamento social e toda a produção de lives e performances online, ela se viu em meio a uma impossibilidade: como fazer lives e apresentações virtuais de forma mais prática, sem a presença da banda? Veio, então, seu encontro com DJs e produtores de música eletrônica em um caminho novo de exploração sonora.

“Eu queria escrever outras coisas, trazer outras coisas que fossem além da cultura popular, queria trazer outras referências, muita música pop”, explica UANA.

“Eu fui uma criança, uma adolescente que consumiu muita MTV, então tudo aquilo, Destiny’s Child, Shakira, todas as divas do pop eram muito minha referência, mas eu não sabia muito onde encaixar isso, pois eu estava cantando outras coisas, como forró, coco – que eu também amo e que de alguma maneira hoje em dia ainda conversam com o meu trabalho”.

Esse casamento entre os múltiplos universos que formam UANA é o que deixa seu trabalho ainda mais único – são dessas rupturas e desses universos aparentemente conflitantes que nasce um som pop com outras camadas. “Eu aprendi a cantar cantando coco, cantando forró, eu não tive aquela escola americana, de melismas e vibratos, o jeito de cantar da cultura popular é diferente mesmo, é bem agudo, e eu decidi assumir isso no meu trabalho, pois acho que isso também é minha assinatura”, explica a artista.

“Até hoje a maneira como eu escrevo, toda a métrica, muitas vezes vem do maracatu, que tem uma décima, que tem uma métrica bem estabelecida, tem um mote, que é mais ou menos um refrão, às vezes até o modo que eu escrevo tem a ver com o maracatu e o baião. Claro que hoje em dia eu já estudo o R&B e outras coisas, já penso em como as pessoas compõem em outras estruturas”.

“Aprendi a cantar cantando coco, forró, não tive aquela escola, americana, de melismas e vibratos. O jeito de cantar da cultura popular é diferente, bem agudo – e eu decidi assumir isso no meu trabalho, pois também é minha assinatura”

Parte dessas misturas também vem de seu encontro com o trabalho de produtores de música eletrônica e de brega funk, como Marley no Beat, Tom BC e Barro. “Aprendi muito com eles, eu venho de outro universo, cheguei na música eletrônica e no brega funk como ouvinte, não como alguém que produzia, então aprendi um bocado com eles, mas também trouxe as minhas referências”, conta UANA. “Eu brinco com os meninos que eu não assino produção, mas eu sou muito produtora das minhas músicas, pois muitas vezes eu já chego com a composição, com a melodia e também eu não sou uma artista que só recebe o beat pronto, eu sempre estou ali construindo junto. Claro que eu dou muito espaço criativo para todo mundo que eu trabalho junto, mas eu gosto de estar ali trocando”.

Além das canções, UANA adora mergulhar de cabeça na criação dos visuais que compõem o seu trabalho, pois ela acredita que isso também é uma forma fundamental de comunicação com seu público. Sobre o mais recente, de “Pena que Acabou”, ela conta: “o novo visual foi criado por Willow Ximenes, que é a head de comunicação da nossa equipe, mas ela também tem ideias muito incríveis, toda a nossa equipe é muito unida e a gente troca junto. Ela falou ‘nossa, estou escutando a música aqui e me parece quente, suado, molhado, cavalos, deserto’ e aí a gente começou a pirar nessas imagens, aí surgiu essa narrativa de uma pessoa sozinha no deserto, esse coração deserto de uma pessoa que terminou”.

“A gente sempre fez os visuais na guerra aqui, com baixíssimo orçamento”

“A gente sempre fez os visuais na guerra aqui, com baixíssimo orçamento”, conta UANA. “Por exemplo, uma premiação de mil reais pra fazer um clipe, aí eu fui maluca e chamei 20 pessoas pra fazer um clipe. E aí fui fazendo muito preocupada em apresentar alguma coisa visual que pudesse representar a nossa estética, o que a gente estava querendo dizer, incluindo ali também o brega funk”. Esse corre feito por UANA tem dado resultados e seus vídeos são parte fundamental de todo o universo que a artista vem construindo nos últimos tempos.

Outra via que tem levado seu som aos ouvidos de novos públicos são suas parcerias e encontros com artistas de sua geração. Talvez o mais simbólico disso seja a sua presença na faixa “Quando o DJ Toca”, do álbum Baile, de FBC e VHOOR. E sobre essa parceria ela tem uma história curiosa. Fã de FBC, UANA já ouvia o som do rapper mineiro há alguns anos e já tinha inclusive ido a shows do artista, mas era isso. “Quando eu lancei [o single] ‘Mapa-Astral’, eu mandei para vários artistas que eu gostava tentando a sorte. Os artistas que viram a minha mensagem e retornaram foram o FBC e o Rico Dalasam”, conta a artista.

Fato é que FBC respondeu, deu parabéns, e manteve a conversa, perguntando de onde UANA era e outras coisas. “Eu falei ‘sou de Recife, já fui ao seu show, amei, sou super admiradora’”, explica UANA, que já aproveitou e fez a proposta: “‘se você precisar de alguma voz, até mais agudinha, em seu trabalho’, pois eu sempre ouvia os discos dele e às vezes tinha uma voz feminina ali e eu pensava ‘nossa, podia ser eu ali’, aí mandei essa e ele disse ‘tenho uma track aqui pra você’, aí ele mandou e eu gravei com Barro. A gente nem se conhecia pessoalmente e tal, eu só gravei e nem sabia que o Baile ia ser o Baile, ele mandou a track e eu achei diferente dos trabalhos anteriores dele, fiquei ‘poxa, Miami Bass’, mas confiei, quando lançou, eu fiquei assim ‘não acredito que estou fazendo parte desse disco’, realmente fiquei bem emocionada, e achei massa que ele teve esse feeling de ‘vou mandar para essa menina’ e deu certo”.

Depois disso UANA e FBC já se reencontraram no single “Facin”, lançado em março desse ano. Mas fato é que entre tantos singles e EPs, UANA revela que já está ansiosa para lançar um álbum de vez. “Eu sou uma pessoa que escuta álbuns, tenho esse carinho por álbuns, então estou doida para lançar um álbum. Mas esse processo de lançar faixas é um processo educativo para a gente que é artista, a gente vai entendendo o que funciona melhor, o que o público abraça mais, pois a gente também precisa ser estratégico”, explica. De todo modo, a notícia boa é que a artista já está trabalhando em seu disco, que deve chegar durante o segundo semestre desse ano ou no máximo no início de 2024.

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ARTISTA: UANA

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