The Libertines: Dez Anos da Confissão de uma Amizade Turbulenta

Segundo disco do quarteto inglês relata o cenário que vivia às vésperas de seu lançamento e de sua ruptura

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No próximo dia 30 de agosto, comemora-se uma década de vida do segundo, e até o momento, último relato dos “stylish kids in the riot” (“garotos estilosos na confusão”) como bem diziam em seu primeiro e impactante álbum. Dado o sucesso instantâneo dos rapazes, problemas entre integrantes e a pressão iminente de uma repetição da qualidade foram ingredientes que chegavam com o espaço entre Up the Bracket e The Libertines.

Entre os shows da turnê do primeiro álbum e o lançamento do álbum homônimo à banda, Pete, Carl, Gary e John passaram por momentos difíceis e obscuros como os becos das noites britânicas. Mesmo com a grande sinergia que o grupo mostrava, um dentro os quatro acabou desequilibrando a harmonia: Pete Doherty. O uso excessivo de drogas por parte do compositor principal do grupo prejudicou o clima nos bastidores, nos palcos e na vida pessoal, inclusive por motivos de arrombamento e roubo de pertences de membros da banda, o que resultou em sua prisão pouco tempo após a turnê do disco de estreia, retornando ao final de 2013 às vésperas da produção do segundo disco.

Em meio a tanta turbulência, era quase inevitável que tais acontecimentos influenciassem a produção de letras para o novo álbum. Assim sendo, The Libertines tem mais do que nunca um motivo de ser autointitulado, mostrando ser confessional e explicativo sobre a banda no momento, o que pode ser visto lodo de cara com o single Can’t Stand Me Now. Ao dizer os versos “Have we enough to keep it together? Or do we just keep on pretending” (“Nós temos o suficiente para nos manter juntos? Ou nós simplesmente vamos continuar fingindo?”), já demonstra o clima quase que artificial de uma relação que, se funcionava perfeitamente através dos microfones e amplificadores, era delicada e ríspida nos bastidores e no cotidiano por parte de Carl e Pete.

Entretanto, apesar de rusgas, sempre foi notório o carinho entre Doherty e Bârat. Os exemplos maiores ficam por parte das letras, como em Road to Ruin – com o verso “Trust in me, take me by the hand Give us a chip” (“Confie em mim, pegue-me pela mão/ Nos dê uma medalha”), em que mostra-se um apoio ao amigo dependente e fazendo referência às condecorações por períodos de sobriedade – os tais “chips” – e Music Whe The Light Goes Out, com a estrofe “Well I no longer hear the music/And all the memories of the fights and nights/Under blue lights and all the kites/We flew together/Love thought they’ll fly forever” (“Bem, eu não ouço mais a música/E todas as memorias das brigas e noites/Sob luzes azuis e as pipas/Nós voamos juntos/O amor pensou que voaríamos para sempre”), mostrando claro sentimento de saudade pelos momentos juntos e um quê de tristeza pelo estágio da amizade.

Infelizmente, mesmo com o grande sucesso do álbum, que disparou nas paradas atingindo o topo em pouquíssimo tempo e ganhando a crítica em massa, sua execução em turnê foi conturbada e marcava quatro meses depois de seu lançamento o – praticamente – término da banda, visto que o vício de Doherty não apontava para um término ou controle e da vontade da banda, em específico de Carl, de só voltar a banda com a presença do amigo, que parecia se entregar na luta contra o vício.

Com tamanha turbulência interna e com um sentimento forte de amizade ainda pulsando, The Libertines conseguiu vencer esses desafios e se tornou um dos grandes discos de sua geração, carregado de hits e que ajudou ainda mais a fomentar a qualidade do quarteto, o qual se espera ansiosamente que realmente volte aos palcos e que, ao terminar, acabe com honrarias, como os mesmos dizem logo no primeiro verso deste álbum: “An ending fitting for the start”, ou seja, “Um final aproprioado para seu início”.

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Autor:

Marketeiro, baixista, e sempre ouvindo música. Precisa comer toneladas de arroz com feijão para chegar a ser um Thunderbird (mas faz o que pode).