Woxton Nóbrega, de 6 a 60 mil

O produtor paraibano conta como viu no BBB 21 uma oportunidade para mostrar “o que sabe fazer” e relembra sua história com a música – que começou muito antes da edição do programa

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Fotos: Lucas Mattara

Quando Washington Nóbrega decidiu criar sua conta no Instagram, pensava que a grafia de seu nome deixava seu usuário muito grande. “Woxton”, por exemplo, ajudaria a conservar a sonoridade original do nome e cortaria o número de caracteres quase pela metade, de dez para seis. Assim, o arroba foi criado e surgiu também um certo magnetismo pela rede social. Hoje, o produtor musical de Santa Luzia se define como uma pessoa “muito focada” no Instagram. Não é, no entano, um ávido fã de reality show, mas, lá pela terceira semana, costuma se engajar — especialmente por meio das redes sociais. Este ano, por tédio, por intuição ou pelo fato de o Big Brother estar presente todos os dias nas contas de fofoca da sua rede social preferida, ele começou a produzir músicas rápidas a partir de momentos célebres da edição. Sua torcida declarada para Juliette e Gilberto fez seus seguidores escalarem rapidamente de 6 para 60 mil.

A primeira investida foi com a participante paraibana, que, como você deve saber, sagrou-se campeã do programa. “O primeiro vídeo que eu fiz foi porque a Juliette cantou uma música que é bem famosa por aqui, ‘Me Usa’, da banda Magníficos; ela fez a cappella e, na hora, eu peguei meu teclado, que estava do lado da cama, liguei e disse: isso vai dar certo, vou fazer uma produção”, relembra. “Coloquei o ritmo, a banda todinha para tocar e postei. Esse vídeo estourou geral. Foi aí que eu percebi que o BBB seria uma chance de mostrar o que eu sei fazer, o que eu sempre fazia, mas com uma visibilidade maior. Comecei a fazer isso, pegando frases dela e transformando em músicas e só sei que bombou”.

Como Washington não é muito de ficar vidrado na televisão, ele espera as “bombas”. Segundo ele, o que mais se destaca vira música. Até porque o tipo de concentração de sentar para assistir o programa pensando em composições não tem muito a ver com o processo criativo de Woxton. “Eu já tentei muito ter um cronograma certinho para compor. Já tentei demais, mas não consigo. ‘Vou compor 10 músicas essa semana’ não rola para mim. Costumo dizer que sou um pouco diferente dos compositores que se sentam para compor. Eu estou em casa e, do nada, vem uma inspiração; gravo no celular o que vem na mente e começo a desenvolver. Não tenho uma hora certa nem um lugar certo”, conta. Com a ampliação da sua visibilidade, Woxton tem alternado as publicações entre conteúdos sobre o reality e músicas autorais. Até porque “Washington Nóbrega não é só BBB”, diz.

Santa Luzia, vida real

Washington cresceu ouvindo muito Forró e Roberto Carlos, sendo o último uma predileção materna para todos os momentos. Fora isso, muita rádio e um fascínio por instrumentos sempre que via música ao vivo. Certa vez, uma estação anunciou a venda de um teclado. Washington e a mãe se engajaram em uma confecção de almofadas juntos para levantar o dinheiro necessário para a compra do instrumento. “Foi com esse meu primeiro tecladinho que comecei a dar os meus primeiros passos na música. Fui ter as primeiras aulas, depois desenrolei mais sozinho até começar a tocar em serestas — nome dado a pequenas festas de grupo de tecladistas e voz, geralmente de Brega”, conta. Washington tinha uma dupla e, aos 14 anos, ele acompanhava um cantor com seu teclado. “Eu era bem novo, ansioso, tanto que quando tínhamos shows, batia um nervosismo, sabe? Mas, quando começava a tocar na festa, parecia que nada mais existia — só a música”.

Assim, o músico foi experimentando os relevos de uma banda para outra até que chegaram as festas juninas. Nelas, não se aceitava teclado na formação. “Quem organiza as festas juninas, que por aqui tem bastante, quer algo bem regional, ou seja, zabumba, sanfona, triângulo. Eu ia ficar de fora do grupo!”, relembra. “Decidi pegar um contrabaixo que tinha na sede da banda e em uma semana comecei a desenrolar as músicas do repertório, a aprender. O contrabaixo virou meu instrumento principal. Dessa banda fui para outras, até bandas de médio porte me verem tocar e me convidarem para viajar. Começou, através do contrabaixo, minha história profissionalmente na música. Comecei a produzir, me transformei em produtor musical, produzi algumas bandas da região e viajei por vários estados do Nordeste com esses grupos. A música começou a ficar cada vez mais presente na minha vida”.

No entanto, viver de mala feita é um requisito duro para seguir por 10 anos, especialmente na formação da sua juventude. Washington seguiu, mas também sentiu as ausências. “Eu tinha 24 anos. Dos 14 aos 24, eu não sabia o que era um ano novo em família, entende? Sempre tava tocando, sempre viajando; Natal, Ano Novo, aniversário, eu nunca estava lá. Decidi que ia fazer um projeto meu e sossegar um pouco em casa, até para colocar minhas ideias em prática. Saí da banda, comecei a dar aula de música e projetos solo, como voz e violão, fazer barzinhos e…comecei a fazer jingles, comerciais e políticos”.

“O primeiro vídeo que eu fiz foi porque a Juliette cantou uma música que é bem famosa por aqui, ‘Me Usa’, da banda Magníficos; ela fez a cappella e, na hora, peguei meu teclado, que estava do lado da cama, liguei e disse: isso vai dar certo. Esse vídeo estourou geral. Foi aí que eu percebi que o BBB seria uma chance de mostrar o que eu sei fazer, o que sempre fazia, mas com visibilidade maior”

O jingle campeão

“Foi do nada, até porque ninguém me conhecia nesse meio. Hoje, quando chega uma campanha, as pessoas me procuram muito para fazer isso porque eu adquiri uma marca de o jingle campeão. Quando eu faço música para os candidatos, na maioria das vezes, eles são eleitos”, brinca. Assistindo campanhas eleitorais, Washington se divertia com as histórias: tantas obras, fez isso, fez aquilo. Assim como em 2021 ele viu no Big Brother Brasil uma oportunidade, em 2012 o produtor musical percebeu que os jingles políticos eram um trabalho essencial em toda eleição.

O paraibano, que na época tinha 21 anos, entrava em contato com as assessorias dos candidatos e pedia as informações que gostariam de destacar no jingle. Se topassem, ele poderia apresentar uma música sem compromisso; se gostassem da música, debatiam valores. Já na eleição seguinte, em 2016, Nóbrega assumiu toda a mídia sonora do atual prefeito. “Eu nunca tinha feito esse trabalho. Assumimos, eu e Flavinho Mix, e fizemos com maestria. Eu ficava à frente de toda a mídia: vídeos, músicas, carro de som, programas eleitorais nas rádios. E deu certo! A partir de 2016 eu passei a trabalhar com a assessoria deste político. Em 2020, a gente já estava com uma bagagem maior e melhor, conseguimos fazer um trabalho bem legal, até porque as eleições do ano passado foram bem mais focadas na internet”.

Atualmente, Washington diz que o preço de um jingle político varia muito para cada candidato. Em média, vereadores e deputados são cobrados entre R$500 e R$600, enquanto prefeitos e governadores desembolsam entre mil e mil e duzentos reais em um jingle político. Na última eleição, no entanto, fenômenos como “O Homem Disparou”, de Vilões do Forró e Karkará, e as playlists de jingles políticos disponíveis no YouTube podem indicar mudanças neste mercado. Estas músicas genéricas — e indiscutivelmente cativantes — foram utilizadas no país inteiro para diversos candidatos ao mesmo tempo por não fazerem referência a um candidato ou propostas específicas; além de uma estética repaginada da propaganda política, há nessa discussão uma desvalorização profissional vindo a galope.

“A música política não tem a mesma seriedade que uma composição normal de cantores, bandas. No último caso, é uma música registrada, auditada em cartório, eu tenho direitos autorais com ela. Agora, ‘O Homem Disparo’”, por exemplo: eu acho que o compositor não ganhou o que ele merecia ganhar em cima disso”, comenta. “Várias cidades do Brasil inteiro pegaram a música, o que deu muita força para os candidatos, mas o trabalho do cara que faz o jingle não foi valorizado. Acho normal acontecer porque a música foi disponibilizada no YouTube, mas o autor/compositor merecia mais”.

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