Carne Doce, sobre novo disco: “É um tiro no escuro”

Salma Jô e Macloys Aquino comentam sobre o sucessor de “Princesa” (2016)

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Fotos: Macloys Aquino

É frequente o papo de que “não é fácil lançar um segundo disco” se uma banda fez um primeiro bem sucedido. No caso de Carne Doce, seu terceiro álbum chegará com os mesmos nervos à flor da pele por parte dos músicos, como no lançamento de seu elogiado Princesa (2016). Isso se dá pela grande repercussão da obra, assim como por seu significado para o grupo, mas também porque um lançamento de uma banda independente possui sempre grande peso. Ainda mais se ele vier apostando muito mais em “poesia” do que em “mercado”.

“Por mais que eu acredite na minha emoção, eu ainda acho que é um tiro no escuro”, conta a letrista e vocalista Salma Jô ao Monkeybuzz, “às vezes, fico com medo de estar falando sozinha, de coisas que só emocionam a mim”. “Eu me sinto bastante insegura sobre como as pessoas vão receber esse disco, até porque eu coloco os significados ali”, continua, “as pessoas ou vão se identificar ou não com o texto. A música ainda varia, você pode estar em um disco que você não está a fim de música triste, ou ele vai parecer bom ou ruim”.

Seu terceiro álbum está sendo preparado em Goiânia, terra natal do grupo, com produção de João Victor Santana Campos – o mesmo que comandou seus trabalhos anteriores – e financiamento pelo projeto Natura Musical. Sabemos que ele terá onze faixas, mas nem nome, nem data de lançamento foram divulgados. Nas palavras da banda, ele será uma obra mais “introspectiva” sem um grande conceito por trás que una todas as letras.

Princesa virou uma espécie de disco feminista, por ter letras do universo feminino, das minhas experiências como mulher, mas a gente nunca teve a intenção de fazer um disco político, ou feminista, ou outra coisa”, conta ela. Para seu parceiro Macloys Aquino, o medo vem dele não ser um álbum “de impacto imediato, porque ele não tem muitos estímulos imediatos” musicalmente falando – não há um “grande hit”, por exemplo. Ele continua: “Isso causou grande aflição quando a gente se deparou com todas as músicas, prestes a gravar, e a gente pensava: ‘Qual vai ser a nossa música de trabalho?’. Não tem como abrir mão, a gente está vivendo disso e a gente precisa de um produto que tenha uma possibilidade de conexão maior, que consiga projetar a gente mais rapidamente, sabe? E a gente olha pro disco e fica um pouco na dúvida. Eu tenho alguns palpites de que músicas podem ser mais fortes, mas a gente não sabe”.

Mesmo com essas questões, Salma e Macloys concordam que a melhor maneira de trabalharem é de uma forma mais orgânica, sem precisar pensar em repercussões populares de seu som. “A gente sabe que compor com isso em mente não é saudável, nem uma garantia de que a gente vai chegar nesse resultado (risos)”, conta ela, “porque o que emociona mesmo é quando a gente é sincero, quando a gente é autêntico, quando a gente emociona a si mesmo primeiro. Pelo menos é isso o que eu percebo: Quando as letras funcionam bem, geralmente é assim”.

Musicalmente falando, eles contam que o novo registro traz vocais mais baixos de Salma, diferente do anterior, no qual “o vocal era muito gritado, ocupava quase todos os espaços das faixas”, como explica Macloys. “Minha interpretação tá suave”, conta ela, “isso vai significar um desafio diferente agora, vamos ter que mexer nas músicas antigas para combinarem com o novo show”.

“Acho que esse é um disco mais esquisito”, revela o músico, “estou gostando demais da sonoridade dele, com umas maluquices. Tô achando lindo”. “Acredito que a gente possa ser ouvido por muitos anos ainda como algo de valor, porque a gente trabalha mesmo com arte, com o valor artístico”, conclui.

Carne Doce

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ARTISTA: Carne Doce
MARCADORES: Entrevista, Novo álbum

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.