Kimberly e o Grave do Grunge

Conheça as duas baixistas que mudaram o mundo do Rock Alternativo dos anos 90, sua relação e o caminho de seus projetos atuais

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Uma “fórmula”, iniciada nos anos 80 e consolidada nos 90, bastante utilizada por algumas vertentes do Grunge, mostra que, de fato, o espírito da época molda o imaginário das pessoas que o povoam. Isso se dá em várias escalas. Nesse artigo, essa espécie de mini-zeitgeist ao qual me refiro diz respeito às mulheres baixistas de alguns dos maiores expoentes do Rock Alternativo estadunidense do período. Mas, para recortar ainda mais o tema, vamos falar brevemente (por conta dos recentes acontecimentos envolvendo suas respectivas bandas) sobre duas mulheres incríveis, de mesmo nome, responsáveis pela consolidação de alguns dos mais importantes grupos da geração.

Kim Gordon

Artista plástica e curadora formada pela Faculdade Otis of Art & Design, Kim Gordon conheceu Thurston Moore e Lee Ranaldo em Nova Iorque, o que levou, no início dos anos 80, após o início do relacionamento amoroso de Gordon e Moore, à formação do Sonic Youth. Conhecido por sua inventividade e por suas experimentações sonoras, principalmente em relação aos efeitos de pedais e à afinação dos instrumentos, o trio sempre se alternou nas composições, na execução dos instrumentos e nos vocais, mas, de certa maneira, mantinham o posto, de acordo com suas especialidades. Thurston Moore como compositor principal, Lee Ranaldo como cientista maluco e Kim Gordon como a base das esquisitices do grupo, tendo em suas mãos o contrabaixo e, com ele, os alicerces das experimentações.

Recentemente, a separação do casal Gordon e Moore levou ao fim da banda, e consequentemente, ao aparecimento de três novos projetos: Chelsea Lighting Moving de Thurston Moore, The Dust segue acompanhando Lee Ranaldo em seu projeto (e toca no Brasil na próxima semana), e, nessa mesma onda, Kim Gordon finalmente anunciou, na semana passada, o lançamento do disco de seu novo projeto, Body/Head.

Acima, uma das músicas mais famosas do Sonic Youth, na voz de Kim Gordon. Ela divide os vocais nessa faixa com outra moça de mesmo nome: Kimberly Deal.

Kim Deal

Nos idos de 1986, Frank Black e seu amigo Joey Santiago colocaram nos classificados do jornal um anúncio procurando um baixista para sua banda. Sim, isso existia naquela época. E funcionava! Ao menos nesse caso, funcionou muito bem. Kimberly Deal foi quem respondeu, e, levando ao seu lado o amigo baterista Dave Lovering, formaram Pixies.

A banda teve uma excelente carreira de muita projeção, e, após o lançamento de seu álbum de maior sucesso, Doolitle, a banda se desfez em seu auge, em 1992. Embora Frank Black tenha sido sempre o principal compositor do projeto, Kim Deal compôs algumas faixas excelentes, como Gigantic.

Paralelamente ao Pixies, Kim Deal manteve ao lado de sua irmã gêmea, Kelley Deal, Breeders, banda responsável por um dos maiores hits grudentos da década de 90, Cannonball. Embora alternativa e de letra intragável para os padrões comerciais da época, a música se tornou um dos maiores hinos Indie que herdamos. O clipe contou com a direção de Spike Jonze e uma amiga. Adivinha só…

Kim Gordon! Ponto para as meninas

Pixies voltou, afinal, em 2004, com diversas turnês e sua formação original. Mas Kim Deal se afastou definitivamente neste ano e continua lançando projetos solos e envolvida com Breeders. Semana passada, Pixies lançou uma faixa inédita que conta com o videoclipe abaixo, já com sua baixista nova:

Um doce pra quem acertar o nome da moça. Isso mesmo. Kimberly Shattuck é o reforço da nova fase.

De projetos de sucesso do passado a novas fases, as amigas Kim, Gordon e Deal sempre foram a base para a coesão dos projetos que fizeram parte. Que venham mais!

Bônus Track

Fugindo ao nome, mas voltando ao zeitgeist, não posso deixar de citar outro expoente dos anos 90 que deve à sua baixista a identidade de sua produção. The Smashing Pumpkins sempre orbitou na relação problemática de Billy Corgan (seu fundador, vocalista e compositor) com os demais membros. Mas sempre se manteve fiel nesta relação específica com a tal fórmula, mulheres no baixo, sempre deixando o balanço das energias do elemento feminino da banda nos graves. Foi, aliás, com a primeira delas D’arcy Wretzky, que se vocalista manteve sua relação mais conturbada, o que foi decisivo para formar a paridade do grupo. Fica abaixo um excelente registro da estética da banda. Billy Corgan careca, ao lado de James Iha e Wretsky acabou de tornando uma figura emblemática para seu público.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte