Justin Vernon: Muito além do Bon Iver

Estigmatizado pelo seu projeto de maior sucesso, o músico tem muito mais a oferecer do que é proposto nesta banda ganhadora de prêmios Grammys

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Rumores de um possível fim do Bon Iver, veiculados ontem pela NME, não passam na verdade de um tabloide querendo atenção (e vendagens). A frase que estampa a chamada do tal artigo realmente foi dita por Justin Vernon a uma rádio australiana enquanto o músico apresentava seu mais novo disco com o Volcano Choir, porém foi escolhida categoricamente para dar essa impressão sensacionalista tão comum nas publicações do semanário inglês.

Fiquem calmos, pois quando ouvida em sua totalidade, essas declarações do músico nesta mesma entrevista, vamos perceber que dentro do contexto em que Justin falou sobre seu projeto de maior sucesso, ele disse somente que escreve para o Bon Iver quando está inspirado, o que não está acontecendo neste momento.

Hoje declarações sobre o assunto foram dadas não só pela gravadora do músico, a Jagjaguwar, como pelo próprio Vernon, dizendo que o Bon Iver não chegou ao fim. Portanto, não se preocupe, mesmo que não seja em um futuro tão próximo, você ainda vai ouvir outras obras da banda.

Mas mesmo sem Bon Iver, há outros tantos projetos de Justin a serem explorados, que mesmo se a banda acabasse hoje, haveria alguns substitutos à altura para continuar a jornada musical de Vernon. O Volcano Choir é um desses projetos que se sairia bem como uma segunda opção aos fãs órfãos. Ao invés do Folk, a musicalidade da banda é conduzida pela mistura entre Post-Rock, Amibient Music e Indie em uma ambientação onírica que tem sua marca registrada.

O recém-lançado Repave mostra muito bem como Justin consegue seguir outros caminhos, talvez não tão intimistas, mas ainda assim muito convidativos a quem gosta dessa sonoridade mais brandas sonoramente, mas com um potencial de emocionar gigantesco. Como um bom disco que segue as tradições do Post-Rock, ele muitas vezes nem sempre precisa de voz para gerar aquele sentimentalismo tão comum nas obras do gênero (e do músico).

E se ao invés de um Justin Vernon introspectivo você quiser uma versão roqueira do músico é só ouvir o trio Shouting Matches. Assumindo as guitarras num típico disco de Garage Blues, ele mostra facetas que nenhum de seus projetos o propicia a fazer. Não acredita no que está lendo? Então ouça o disco de estreia do grupo, Grownass Man.

O contraste aqui é que se o artista não emociona só com sua voz, o faz também com a guitarra, imersa em timbres sulistas, daqueles que você ouve em velhas gravações de negros norte-americanos tocando em uma série de improvisos. A semelhança com Bon Iver pode ser vista na aura “viajada” das músicas, porém desta vez se aproximando de um tom Gospel ou mesmo Psicodélico em alguns momentos.

Que tal então um versão Soft Rock de Just Vernon? Pois é, em 2010 o músico se envolveu em um super grupo nomeado como Gayngs e naquele mesmo ano lançou seu primeiro disco, Relayted. Composto por mais de 25 músicos, o coletivo tem entre seus membros gente muito legal como Channy Leaneagh e Ryan Olson (do Poliça), Dessa e P.O.S (do Doomtree), Har Mar Superstar, Ivan Howard (do The Rosebuds), Phill Cook (Shouting Matches), entre outros tantos. Ao mesmo tempo em que é diferente de tudo o que Justin geralmente faz (flertando com o R&B, Jazz, muitos tons psicodélicos), não é tanto assim e você vai notar isso ao escutar um pouco de uma das obras mais “estranhas” na qual Vernon já se envolveu.

E o Jazz não está presente só como influência de um dos seus projetos, mas também como condutor um disco inteiro ao lado do Eau Claire Memorial Jazz I Ensemble, de Wisconsin. Entre as canções de A Decade with Duke, único disco resultante deste encontro, se encontram algumas faixas de For Emma, Forever Ago e alguns clássicos que ficaram famosos nas vozes de Ella Fitzgerald, Cole Porter, Frank Sinatra, Nina Simone e outros. Destes clássicos, a versão de Since I Fell For You é uma das mais belas músicas de todo o disco.

Mas voltando ao estilo natural do músico, o Folk, Justin no começo dos anos 2000 (e até mesmo antes disso) já lançava alguns discos e EPs com suas faixas, sejam solos ou alguma banda. Todos esses trabalhos são bem difíceis de encontrar em formato físico pela pequena tiragem colocada à venda na época, mas nada que não se ache na Internet com uma breve pesquisa. Sob o nome de Mount Vernon, JD Vernon ou mesmo o seu próprio o músico criou algumas dessas obras obscuras, sempre pautadas pelo Folk. Self Record e Hazeltons são os dois álbuns gravados somente como Justin Vernon, em 2005 e 2006, respectivamente, e parecem os embriões do que se tornaria o Bon Iver alguns anos mais tarde.

Mas eu não poderia acabar esse artigo sem falar da primeira banda de Vernon, DeYarmond Edison. Phill Cook (membro da The Shouting Matches e Gayngs) também fazia parte deste grupo que lançou dois discos e um EP em pouco mais de quatro anos de vida. Vale dizer também que a dissolução da banda em 2006 foi um dos principais combustíveis líricos de For Emma, Forever Ago, lançado em 2008.

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Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts