A alquimia pop de Zebu, mente por trás dos hits de Pabllo Vittar

Na era do streaming e dos 15 segundos no TikTok, o produtor discute sobre os novos formatos do mercado musical e o lançamento do primeiro EP solo, “ZB1”

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Fotos: Maffalda

Em 2017, Pabllo Vittar estourou com o lançamento de “K.O” e o Pop nacional tomou um susto. Naquele ano, vimos o gênero se voltar para as batidas brasileiras e destoar da fórmula de músicas norte-americanas produzidas e consumidas em décadas passadas. De repente, os ritmos de Brega, Forró, Pagode e da música romântica passaram a ser inseridos em produções que grudam na cabeça e o Pop por aqui, finalmente, passou a ter mais a cara do Brasil.

Com os hits “Problema Seu”, “Buzina”, “Parabéns” e “Amor de Que”, Vittar se consagrou como uma das principais artistas que movimentam a engrenagem da música nacional, colecionando milhões de streams nas plataformas digitais e visualizações no YouTube. As produções, contudo, têm um denominador comum: Zebu, produtor que integra a Brabo Music Team, responsável por Vittar.

Zebu (cujo nome é Guilherme Santos Pereira) começou sua carreira profissional em 2015 e, hoje, é um dos produtores mais requisitados do mercado fonográfico, além de guardar a fórmula secreta por trás dos triunfos de Pabllo Vittar. O produtor e DJ, que se infiltrou na indústria ao fazer remixes de Sandy & Júnior, Só Pra Contrariar e Belo, atualmente assina produções de Ludmilla, Luisa Sonza, Mateus Carrilho, Urias e o mais recente lançamento de Anitta, MC Zaac e Tyga, “Desce Pro Play (Papapa)”.

Devido ao isolamento social provocado pelo coronavírus, contudo, Zebu passou a se dedicar para além dos cases de sucesso e criou o primeiro projeto solo, que reúne suas principais referências — completamente diferentes das que o movem ao produzir outros artistas. “O meu trabalho como produtor é algo muito longe das coisas que eu ouço”, explica Zebu em entrevista ao Monkeybuzz.

Lançado no dia 1 de julho, ZB1 é um recorte da formação do DJ diretamente influenciada por Jack Ü, Flume e até a banda emo colorida, Cine. Com 3 faixas, “IKY”, “IFY” e “ILY” o projeto passeia entre future bass, house e twerk e tenta encontrar a própria identidade sonora. Multifacetado, o produtor discutiu sobre as próprias motivações e uma nova onda de mudanças dentro da música pop.

O ZB1 é fruto do isolamento social, né. Você sentiu muita diferença ao produzir algo só seu e sozinho?

Bastante. Acho que só fiz o EP por causa do isolamento social, porque geralmente eu não tenho tempo de parar e pensar nas coisas sozinho. Sou muito workaholic, e, com a quarentena, todo mundo deu uma desacelerada. Como eu já tinha em mente a ideia de fazer algumas músicas autorais e eu nunca fiz um projeto parecido com o que eu geralmente ouço, aproveitei a oportunidade. Sempre caminhei muito para outro lado, porque o meu trabalho como produtor é uma coisa muito longe das coisas que eu ouço e no EP tentei me aproximar disso.

O que você mais curte ouvir?

Tudo que é eletrônico melódico eu gosto, Flume, Jack Ü. Também sempre ouvi muita coisa romântica por causa dos meus pais, como, por exemplo, o Flávio Venturini.

Teve algum disco em específico virou a sua chave para ser produtor?

Diria que o me formou como produtor foi a virada na música eletrônica com Skrillex, mas o disco que me fez querer fazer música foi o disco do Cine, acredita? Na época, eu tinha uma banda, ouvi as músicas e achei muito interessante misturar o eletrônico no meio do rock. Acho que eles se inspiravam muito no All Time Low. E aí, quando eu ouvi, comecei a gravar as coisas da banda em casa e a mexer efetivamente com produção.

E me conta, você saiu de um lugar em que revisitava algumas faixas de sucesso para remixar e agora está na linha de frente do que se consome de música Pop no Brasil. O que mudou de lá para cá?

Sinto que, quando fazia remix, eu era uma pessoa muito despreparada. Eu até sabia que queria trabalhar com música, mas não fazia a menor ideia do que significava fazer isso. Hoje entendo como funciona o mercado da música, os prazos, o que você precisa fazer. Acho que, além de tudo, consegui formar mais a minha opinião. Quando lançava as minhas músicas, eu era muito mais inseguro. Não tinha certeza se gostava daquilo ou não, eu só lançava. Agora eu tenho certeza.

Como foi trabalhar na produção do 111, disco da Pabllo?

Foi muito legal. O disco vem dela. A Pabllo é uma pessoa que tem muita referência e ela confia muito na gente. Durante o processo, ela chegava e falava: ‘eu gosto muito disso aqui’, e me mandava um forró que ela ouvia quando era criança, e depois dizia: ‘mas eu também gosto muito disso’, e era um trap russo. ‘Dá para fazer um negócio que é os dois?’, perguntava. Testamos gospel, axé, trance, trap e, no final, deu certo. Já aprendemos a trabalhar juntos.

As músicas do disco viraram hits, inclusive de Carnaval. Agora, com a pandemia, você acha a indústria do pop, de certa forma, vai ser prejudicada por isso? Justamente por ser um ritmo mais energizante?

Tive essa dúvida recentemente, até conversei com os meninos da Brabo. Tenho refletido muito se, quando tudo isso acabar e voltar a ter festas, as músicas Pop que foram lançadas terão uma segunda onda. Se vai tocar “Rain On Me” e todo mundo vai ficar feliz ou se vão pensar que é “algo do passado”. Eu realmente não sei. Mas sinto que a música é questão de vivência, então acredito que o pique para fazer música de festa vai diminuir. Parece meio idiota fazer uma música em casa para tocar na balada, se ela só vai ser tocada quando tudo isso acabar. Acho que vai ser um pouco natural essa migração para músicas de ouvir em casa, mais pelo humor das pessoas que estão fazendo as músicas.

Parece que muita coisa vai mudar então. Além disso, tem se discutido muito também sobre como o Tiktok começou a moldar a música pop. Como produtor, o que você pensa sobre isso?

Tenho alguns amigos produtores que já estão fazendo música mais focadas para o TikTok, acho que isso está acontecendo. Mas eu não acredito em viral planejado se você não é o Drake, sabe? É muito difícil você conseguir planejar o comportamento de adolescentes na internet. Entendo que as pessoas vão direcionar algumas coisas pensando que elas também têm que funcionar no TikTok, mas não fazer uma música especificadamente para o aplicativo. Acho que isso não funciona. É a mesma coisa de você gravar um vídeo para o YouTube na intenção de ser viral.

A anatomia do Pop do Brasil atualmente, para Zebu: "Brasilidade, dinâmica e humor. O Pop é muito pautado pelo engraçado e espontâneo."

Então como se faz música pop no Brasil?

No Brasil, as pessoas prezam muito por identificação. Sinto muito isso dentro do meu próprio trabalho com a Pabllo. Quando nos afastamos um pouquinho disso, sentimos que a resposta do público é menor. “Amor de Que” e “Parabéns” são bem Pop, se você observar os timbres da bateria. É uma estética gringa, mas é completamente identificável que é um Brega. E o Brasil é isso. Se você quer chegar no país inteiro, tem que continuar olhando para dentro. Consumimos muito o que é nosso. Sempre vamos focar no regionalismo.

Qual é o segredo para a música grudar no ouvido?

A Brabo Music sempre fica de olho nas estruturas das músicas. Vejo muita gente que faz música Pop e envia demos sem prestar muita atenção nisso. É importante dar um passo para trás, ouvir a música como se fosse um ouvinte qualquer, alguém que você não vai precisar explicar por que a música soa assim. É preciso parar e pensar: ‘Isso é legal de verdade?’. Porque se eu faço uma música e mostro para a minha namorada ou a minha mãe, elas vão amar. Mas a internet é cruel. Ninguém me ama lá. Então, sempre dou dois passos para trás para entender se o que fiz é bom mesmo. Parece meio óbvio, mas as pessoas fazem música na emoção e não pensam muito sobre elas.

Se você pudesse definir a anatomia do Pop do Brasil em três palavras, quais seriam?

Brasilidade, dinâmica e humor. O Pop é muito pautado pelo engraçado e espontâneo.

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