Coldplay: Dez Anos de “X&Y”

Emblemático terceiro álbum do grupo foi fundamental para construir sua identidade

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

X&Y

Quando X&Y saiu em 2005, eu estava a alguns anos de começar a trabalhar escrevendo sobre música, mas, como sempre, já consumia bastante tanto crítica quanto Coldplay. E havia algo que me chamava muito a atenção em várias das resenhas que eu lia, que era de como o disco era “perfeitinho” demais. Na minha concepção, até por como eu entendo as palavras, isso não deveria ser problema, já que “quanto mais perfeito, melhor”.

Com o tempo, eu entendi melhor a problemática de algo tão pensado, calculado e polido a ponto de perder qualquer resquício de naturalidade – o que, sim, acontece algumas vezes no álbum. Consolidava-se ali, contudo, alguns dos mitos do universo Coldplay que perduram até hoje, exatamente uma década depois.

O preciosismo com a obra começa com a informação que o que conhecemos de X&Y hoje é uma terceira versão do álbum que, 18 meses depois de intenso trabalho, Chris Martin e seus colegas finalizaram após jogar no lixo as duas anteriores. A tensão desse tempo em estúdio e essa insatisfação com as próprias músicas começaram uma das tradições mais frequentes da banda: prever que seu próximo álbum será o último.

Com influências diretas de Kraftwerk, David Bowie e Brian Eno, as faixas estão separadas em dois minidiscos (um X, da 1 a 6, outro Y, da 7 a 12) – um representaria o homem e o outro, a mulher, sendo a obra completa a união dos dois. É sim tudo muito pensado e vale a pena ouvir o disco todo na ordem, para aproveitar esse senso narrativo.

Nem teria como não se preocupar em fazer um lançamento de alto nível, porque a cobrança ali era pesada para que o disco superasse o sucesso estrondoso de A Rush of Blood to the Head, o que gerou também uma resposta um tanto automática no formato do álbum – Speed of Sound vem para dar sequência a Clocks, Fix You é a nova The Scientist, por exemplo.

Isso acontece até com as Lado-B (tão ou mais interessantes que os singles), como A Message servindo de favorita para os fãs apaixonados como Warning Sign foi no anterior. Por falar nas menos conhecidas, é aí que o disco mais revela seu valor, assim como acaba por ajudar a construir uma peça fundamental na identidade do grupo.

Square One, Low, White Shadows, Twisted Logic e a faixa-título, por exemplo, dão uma magnitude ao som da banda que acabou por fazê-la tornar-se referência aos sons grandiosos com guitarras e/ou piano – um legado que parece ter ficado fora de foco por anos, até ouvirmos trabalhos recentes de bandas como Mumford & Sons e Quarto Negro e Coldplay ter vindo à mente.

Pop demais para estarem no meio Alternativo e vice-versa, X&Y pode não ter o coração de Parachutes, mas possui uma qualidade que poucas bandas conseguem atingir. Afinal, convenhamos, um disco cujo maior problema é ser “perfeitinho” demais só pode ser um belo trabalho.

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ARTISTA: Coldplay

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.