R-Neg-B, hipster R&B, alternative R&B, PBR&B, Contemporary R&B, prog-RnB, Chillwave Future Sound, Trip Hop e até Future Garage. São tantos rótulos que se misturam para tentar categorizar um dos gêneros mais em voga na indústria hoje. O Neo Soul é um dos subgêneros do R&B com boas pitadas de black music. Não só isso, é quando o som se afasta de seus elementos orgânicos para se aproximar de uma nova estrutura para o estilo: o Eletrônico, principalmente. Trata-se, basicamente, da modernização do Soul cru, com sensibilidade urban contemporânea, podendo usar do Jazz até da Funk Music.
A primeira vez que se ouviu falar de Neo Soul foi na década de 90, com a ajuda de Kedar Massenburg, da Motown Records, apenas como uma forma mais palpável de comercialização de artistas que misturavam o que conhecemos do Soul com elementos de Hip Hop. Então estamos falando de um som já conhecido há quase 25 anos, quando os programas de produção e até o computador não era tão difundido.
Acontece que antes mesmo de entrar os sintetizadores mais modernos, muita gente (muito) boa já circulava por esse leque de categorização. É o caso de artistas como Alicia Keys, Joss Stone, Corinne Bailey Rae, e até Cee Lo Green e a incrível Jill Scott. Apesar de ser mais fácil diferenciar um som influenciável do de raiz, alguns músicos ainda têm resistência quanto a segregação e evitam o termo. Preferem, então, ser considerados músicos de Soul.
Para maior curiosidade, já fizemos um texto sobre o gênero. Enquanto lá nos anos 90, a banda de Jazz era quase que casada com o artista que trazia esses novos elementos, a realidade de hoje muda por completo. Diante de tanta novidade musical e tantas possibilidades a se seguir, alguns músicos, principalmente aqueles que já produzem em casa, começaram a soltar vídeos e composições do Soul dentro de uma base em Future Garage, por exemplo. Diante dessa perspectiva de modernização, chegamos a um ponto em que artistas preferem se despedir de uma banda, de um BPM mais convencional, para apostar em uma carreira que se entrelace batidas e vocal, de forma melódica, densa e visceral.
É o caso do novato e promissor Sam Smith. O cantor, que estourou após colaborar na faixa (a melhor do ano?) Latch, dos irmãos Lawrence (Disclosure). Em 16 de fevereiro deste ano, o cantor disponibilizou Money On My Mind que consegue fluir bem uma base eletrônica, com pianos e vocais visivelmente proveniente de uma fonte Gospel e Soul. In The Lonely Hour, seu álbum de estreia a ser lançado no final deste mês, irá consagrar a nova roupagem da Neo Music, trazendo, além de elementos da Black Music, do Jazz e do Funk, uma vestimenta eletrônica como suporte.
Proveniente de um sucesso também de Disclosure, MNEK lidera e exemplifica bem o novo destino do estilo. O cantor tem apenas 20 anos e já carrega consigo uma indicação ao Grammy. Como músico completo, Uzoechi Osisioma (em seu registro) compõe e produz seus trabalhos próprios. Pelo sucesso de seus vídeos, já conseguiu trabalhos com grandes nomes que vão desde de Far East Moviment, Sub Focus, Rudimental e até Duke Dumont. Quando não está lançando trabalhos autorais, sempre libera um remix ou outro, trazendo consigo muita das vezes covers de músicas Pop e Hip Hop para sua voz Soul. A pesquisa incessante do músico fazz com que sua conta no Soundcloud seja um dos acervos mais completos do gênero, vale a pena acessar.
Pra quem gosta de um som um pouco mais introspectivo, deve-se conhecer o trabalho de Sampha. O londrino já colaborou com SBTRKT, Jessie Ware, Drake, Solange Knowles e Katy B, entre outros, e traz consigo uma marca registrada, um vocal delicado, suave e hesitante, que marca bem o território. Similar, Lil Siva é outro nome que representa bem o Funky londrino. Se distancia um pouco da melancolia de Sampha e trabalha bem sua influência do House americano.
Falar do R&B contemporâneo sem citar The Weeknd seria incoerente e absurdo. Com apenas 23 anos, o canadense traz a sensualidade em suas produções, que muitas vezes mesclam uma estrutura eletrônica densa em slowtempo com falsetes melódicos e envolventes. A sua música incorpora samples que não são tão comuns na produção de R&B, como do Punk e Rock Alternativo.
O que junta todos esses artistas em um só saco? Os cinco são frutos da CrossMedia, confiaram no talento e trabalho árduo para criação de um material e foram descobertos/estouraram com a ajuda da Internet. Além disso, todos tiveram que ser músicos completos para sobreviver nesse mercado. Aprenderam por si só a compor, produzir e soltar seus materiais. Esse gênero nasceu perpetuado em um comportamento virtual, trazendo comodidade a quem quer produzir sem sair de casa. Uma vez que se tem talento e um software de produção no computador, fica mais cômodo buscar por alternativas mais viáveis do que acrescentar camadas de instrumentos orgânicos. A banda foi substituída por sintetizadores e o apelo vocal foi superestimado. O resultado é uma combinação de influência vocal Gospel e Soul camufladas em produções eletrônicas.
Existe toda uma crítica em cima do gênero, não só pela aparição de mais um bifurcação de estilo, mas por se tratar de um som menos trabalhado (em relação ao Neo Soul de 20 anos atrás). O fato é que esse novo R&B não vem para substituir o que temos de referência, mas para somar como uma alternativa àqueles músicos que buscam por hibridização musical. Inclusive a gama de artistas que fazem parte desse bolo não levam tão a sério essa categorização e prezam somente pela produção de música. O gênero é uma das grandes promessas do ano, assim como a ascensão do R&B por si só. O Future Garage já garantiu espaço e agora o PBR&B fixa como uma opção a mais praqueles que querem beber da fonte noventista do Neo Soul. Cada dia mais se prova que tempo, idade e estúdio não são fundamentais para estruturação de um trabalho de qualidade. PBR&B tá engatinhando, mas é um daqueles novatos prodígios. Fica a aposta para 2014.