Sebadoh: O Verdadeiro Indie Rock dos anos 90

Um dos maiores representantes do estilo se mostrava na verdade muito mais ambicioso que seus contemporâneos que recebiam a mesma tag

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Por mais que o som do Sebadoh seja categorizado simploriamente como Indie Rock ou Lo-Fi, o projeto encabeçado por Lou Barlow e Eric Gaffney tinha uma aproximação mais ambiciosa que qualquer um dos seus contemporâneos que dividiam essas mesmas tags. Sim, mesmo com ótimas bandas como Dinosaur Jr, Pavement, Guided By Voices, Yo La Tengo e uma lista interminável de outros artistas que foram importantes àquele movimento durante os anos 90, o Sebadoh foi um dos grandes marcos da época por empregar essa tal estética Indie em outros tantos rumos experimentais, que uma de suas principais características se tornou a (quase) total falta de coesão em seus álbuns (embora haja grande senso de coerência entre faixas e proposta do grupo).

Te desafio a ouvir qualquer disco da banda e não encontrar uma gama divergente de gêneros musicais flutuando no Indie Rock. Escolha qualquer um, desde os esquisitinhos The Freed Man e Weed Forestin’ ou mesmo o clássico Bakesale, e comece a ouvir suas faixas, pule algumas se quiser, ouça randomicamente, seja como for você vai encontrar uma variedade quase esquizofrênica de sonoridades, às vezes brandas, às vezes barulhentas, que formam um quebra cabeça aparentemente desconexo, mas que no fim das contas se encaixa muito bem – e ao ouvir qualquer disco na íntegra você terá essa impressão.

Um fato interessante sobre a banda é que apesar de Barlow e Gaffney já realizarem suas esquisitices (sim, estou falando dos discos gravados no fim dos anos 80, posteriormente compilados em The Freed Weed), a dupla só ganhou forma (mesmo musicalmente falando) quando Lou foi gentilmente expulso do Dinosaur Jr. por J Mascis, seu grande ego e a vontade de controlar todos os aspectos sonoros do trio de dinossauros. O clima amistoso pelo qual ele saiu de sua ex-banda pode ser visto no disco III (ou Sebadoh III) e em especial em The Freed Pig, faixa que abre o terceiro álbum do então trio (com Jason Loewenstein completando o time).

Uma singela homengem,não? Mas tem mais algumas cutucadas em J no single Gimme Indie Rock, lançado pouco antes de III.

Brigas a parte, neste disco lançado em 1991, muito do que se tornaria a “marca registrada” da banda ficaria evidente. O álbum se mostra como um a viagem entre extremos (Folk e Noise), cheia de desvios e boas surpresas – um verdadeiro mergulho na cultura Underground norte-americana do fim dos anos 80. E sobre a falta de coesão, tente ouvir algumas faixas (na ordem que quiser) e vai entender muito bem isso.

O que chama a atenção em muitas das faixas do grupo nesta época é a (quase) ubiquidade do violão nas composições do trio – algo bem incomum para um gênero que basicamente era construído à base de guitarras. E esse apreço pelo acústico vem principalmente de Lou, enquanto Gaffney é responsável pelo Noise e pela barulheira de algumas das faixas.

O teor Lo-Fi não era exatamente um apelo estético, como é hoje dia, ele era simplesmente um limite imposto pelo baixo orçamento das produções (geralmente registrados em simples gravador de quatro canais). O que foi acabou em Bubble and Scrape (1993), lançado pela Sub Pop Records, em que pela primeira vez o trio pode gravar em um estúdio. O resultado é mais refinado, mas ainda sim um potente exemplar de um “Sebadoh”, cheio de suas reviravoltas e experimentações que emolduravam muito do que estava acontecendo ao redor da cena Indie Rock naquela época. O álbum foi marcado também como o último de Gaffney ao lado da banda – além de ser o predecessor do incrível Bakesale.

Sem um dos polos do duo fundador, a responsabilidade de compor ficou sob os cuidados de Barlow (que aqui domina a parte lírica) e Loewenstein, que diminuíram drasticamente o número de canções acústicas, fazendo deste um genuíno exemplar do Rock noventista. Guiado por guitarras carregadas de efeitos e uma produção ainda mais refinada, este se tornou o disco mais acessível (e coeso) do grupo, os fazendo por diversos momentos flertar com o mainstream (ainda carente com o fim do Nirvana).

Os próximos lançamentos (Harmacy (1996) e The Sebadoh (1999)) só viriam a aumentar as características ganhadas ao longo do tempo, principalmente a “limpeza” no som e maior facilidade do ouvinte em interagir com o som proposto pelo trio. Ainda soando como um bom espécime do Indie Rock, essas obras selariam a passagem da banda pelos anos 90 e iniciariam um silencio que duraria quatorze anos sem nenhuma nova produção.

Por mais que nesta década e meia seus integrantes tenham se encontrado por diversas vezes em mini-turnês, shows comemorativos e ocasiões do tipo (até mesmo reformando o trio original, com Gaffaney mais uma vez assumindo as baquetas), nada de um retorno ao estúdio foi visto até o lançamento de Secret EP, que veio que como uma espécie de surpresa para os fãs desavisados.

Junto ao tal EP, veio o anuncio de um álbum completo, o oitavo em quase três décadas de existência do grupo. Defend Yourself parece vir como uma continução lógica do que a banda vinha fazendo até então, mais um passo depois do ultimo dado em 1999, praticamente como se esses quatorze anos não tivessem passado. Sem dúvida mais um bom disco para a carreira de uma banda ícone dos anos 90 e um grande presente aos fãs que estavam órfãos de uma das grandes bandas do Indie Rock.

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ARTISTA: Sebadoh
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts