Tagua Tagua e um tanto por aí

Durante turnê em Portugal, Felipe Puperi fala da recepção de “Tanto”, seu segundo álbum, e comenta sobre os desejos de fazer com que sua música circule pelo mundo

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Fotos: Guillermo Calvin / Leo Mattos

Felipe Puperi, o Tagua Tagua em pessoa, decidiu que todos os shows do álbum Tanto deveriam ser em casas de show, ou festivais – isso antes de seu lançamento, ainda na fase de finalização do disco. “Ele tem essa coisa meio soul, bem gostosa”, conta ele. “Eu imaginava as pessoas no ambiente tomando uma cerveja, xavecando um ao outro, você vai curtir com o seu date… Não queria aquele negócio de ‘vamos apreciar essa obra’, era para ‘curtir essa obra’”. Foi só quando os ensaios começaram que a ficha caiu: Tanto é um disco lento – “E agora, como é que eu vou tocar isso ao vivo?”.

Falando ao Monkeybuzz de Portugal, na primeira semana de uma turnê europeia, Felipe dá risada ao lembrar-se dessa fase. “Vários shows já estavam marcados e eu sem saber como segurar essas músicas em uma casa de shows de 600 pessoas. Todo mundo bêbado, gritando e o show ali, lento… Volta pro teatro [risos]”. A solução encontrada foi acelerar algumas das novas músicas e adaptar as outras para o universo do disco, até encontrar o equilíbrio.

Essa situação ilustra um pouco do que é Tanto dentro da discografia que Tagua Tagua vem construindo com singles e EPs desde 2017, e principalmente com Inteiro Metade (2020), álbum muito querido por seu público. “As pessoas têm um apego enorme com ele”, diz o músico. “Acho que ele ficou muito marcado com a época da pandemia, as pessoas escutaram ele todo. Sinto isso ainda hoje nos shows, todos cantam2016’, ‘4am’, a faixa-título… Sinto que o Tanto ainda tem muito o que viver, o que respirar”.

A ideia de Felipe sempre foi que este segundo álbum tivesse um único clima do início ao fim, com a temática romântica desenvolvida de forma semelhante entre as faixas, diferente do anterior, ou mesmo dos singles, que traziam uma variação maior entre elas. Lançado em março, o disco ainda está sendo digerido aos poucos pelos ouvintes – e sua versão ao vivo pode ajudar nesse processo.

“O show tem muito do Tanto. O disco tem 10 faixas e a gente toca umas oito. Começa com a faixa-título, as três primeiras músicas são do Tanto, aí começa a soltar, tocar outras coisas, e aí no meio ele se mistura, ele volta no bis… Eu estou em um lugar mais confortável com o que estou me propondo como artista nesse momento e com o show que estou apresentando. Acho que o Tanto me trouxe isso, eu já tenho uma experiência em torno de várias coisas, eu sei o que ele precisa, o que o show está pedindo, as dinâmicas, as trocas. Fiz algumas experiências também de trocar repertório em um show aqui e outro ali, fui brincando com isso para tentar entender como que eu fechava esse show e ele ficava com a cara que eu queria. Porque eu não queria perder o Inteiro Metade e as outras músicas, queria englobar um pouco de tudo, mas que tivesse a cara do Tanto”.

“Não me enxergo dentro daqueles artistas que viajam para tocar e o gringo vê ali uma identidade mais brasileira – uma coisa tropical, ou do tropicalismo, alguma coisa que ele já ouviu antes e traz esse contexto. Meu som não é ‘tipo exportação’, mistura mil referências que acontecem no mundo o tempo inteiro, não só uma herança brasileira”

Muito antes dessa turnê pela Europa, com shows em Portugal e Espanha, Tagua Tagua já aproveitou o lançamento do disco para poder tocar em cidades para onde queria muito voltar, como Belém, e outras aonde ainda não tinha ido, como Fortaleza. “Acho que estar hoje em Portugal para mostrar o Tanto pela primeira vez tem muito a ver com o reflexo do disco nesses meses”, explica.“Com o vínculo que as pessoas estão criando com ele” – um processo semelhante ao que Inteiro Metade teve, ainda que com uma recepção menos acelerada.

“Eu não me enxergo dentro daqueles artistas que viajam para tocar e o gringo vê ali uma identidade mais brasileira – uma coisa tropical, ou do tropicalismo, alguma coisa que ele já ouviu antes e traz esse contexto”, conta ele, “meu som não é ‘tipo exportação’, ele mistura mil referências que acontecem no mundo o tempo inteiro, não só uma herança brasileira. É uma coisa dessa época do Brasil, de 2023. A música que mais me abriu portas fora do Brasil, nos Estados Unidos, por exemplo, foi ‘Peixe Voado’, que é um ziriguidum louco, cheio de percussão, e uma coisa super mais suingada. Ela entra dentro de um box de ‘isso é Brasil’”.

“Acho que aqui em Portugal a coisa é mais simples para mim, porque é mais próximo do Brasil, em termos de público”, comenta Felipe. “Então, ele consome muito o que a gente está fazendo no Brasil, então, naturalmente, ele compreende o som. Acho que não é em vão que eu tô aqui, eu sempre quis estar viajando com minha música, nunca quis colocar o Brasil como uma barreira para mim, quero chegar aonde ele me levar e sempre acreditei nisso. É penoso? É. É difícil fazer acontecer? É. Você tem que virar uma chave de entender que vai ter que trabalhar muito para poder fazer isso acontecer. Pode demorar anos para ter algum resultado, mas eu sempre quis isso. No primeiro ano de Tagua Tagua, eu saí do Brasil, fui me meter no festival, arrumei um jeito de fazer acontecer e fui. Acho que é como eu enxergo minha música e como eu quero circular. Quero fazer música não só pro Brasil, mas para o mundo todo. Mas é um trampo louco, ainda mais para um artista independente, é movimentar montanhas todos os dias”.

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ARTISTA: Tagua Tagua

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.