tantas coisas com João Gordo

Hardcore finlandês, moqueca de banana, Devo e os 40 anos do Ratos de Porão

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Fotos: Marcos Hermes Arte: Beatriz Dorea

No início da minha carreira, o disco que eu mais ouvia era…

No meu mundo underground em 1977, a gente ouvia muito Punk Rock, né? Ramones, Sex Pistols, Sham 69, Stiff Little Fingers… Mas um disco que não saía da minha vitrola era o Rocket to Russia, do Ramones. Escutava de um lado, aí virava de outro, igual fritando panqueca. Agora na época do meu primeiro disco do Ratos de Porão rolava mais Hardcore finlandês, muito som europeu, som americano, só som porrada, podrão, bem poliglota. 

O último filme que fez minha cabeça foi…

A Bruxa (2015), dos personagens Thomasin e Black Phillip, saca? Esse é demais, muito obscuro, tenebroso. O diretor [Robert Eggers] é o mesmo do O Farol (2019), um filme muito bom, preto e branco, bem soturno.

Meu artista favorito para ouvir cozinhando é…

Eu estou cozinhando só para os meus filhos, então eu não escuto música. Fico mais nos podcasts, uma galera que eu ouço no YouTube, o Henry Bugalho, historiadores, Galãs Feios. Só escuto política, eu fico com mó raiva.

Um momento muito especial da minha passagem pela MTV foi…

Em 12 anos aconteceu muita coisa. Eu entrevistei mais de 1.200 pessoas, tem gente que eu nem lembro. Mas tem os bagulho clássico tipo entrevista com o Padre Marcelo Rossi, 10 anos da MTV o Datena me entrevistando, eu apresentando aquele Fica Comigo como Pica no Umbigo. E também tem as mongolódes tipo eu Bozo e Sergio Malandro, aquele bagulho com aquele idiota do Dado Dolabella, várias coisas malucas… 

Eu gostava muito daquele programa Gordo Freak Show que era muito bruto e agressivo, com tortura, xingos, extremo total. Se fosse hoje em dia, não duraria dois dias no ar. Eu entrei na MTV porque começaram a me chamar para fazer ponta, né? Eu estava fudido e falei me contrata de uma vez, aí me contrataram, me chamaram para fazer o Verão MTV e  a partir daí eu fui para TV fazer programa. O meu primeiro programa foi o Garganta e Torcicolo e depois foi o Gordo Pop Show.

O artista mais improvável da minha playlist é…

Tenho várias playlists e é tudo com “toc”, uma coisa não mistura com a outra, eu não misturo o Punk 1977 com Hardcore 1983, não misturo Metal com Hard Rock dos anos 1970, saca? Tudo sequenciado entre os mesmos estilos e as mesmas épocas.

Eu tenho playlist dos anos 1960 que é bem legal, tem um monte de coisa improvável que eu não colocaria pra escutar hoje em dia, tipo Sammy Davis Jr.

Meu prato vegano preferido é…

Eu gosto da maldita moqueca de banana que eu faço, tem que ser a minha. Já comi umas moquecas no Espírito Santo boa pra caralho, muito boa e diferente. Mas o prato vegano que eu mais gosto mesmo é homus ou guacamole, adoro esses dois bagulho. 

Os primeiros artistas que eu mostrei para os meus filhos foram…

Devo, que é lúdico pra caramba, né? Eu tinha algumas fitas e DVDs, coletâneas Punks, aí eles ficavam assistindo e viam o Iggy Pop, 999, né? AC/DC, Queen… Eles foram muito bem criados com essa influência sonora aí. 

Os planos para os 40 anos do Ratos de Porão são…

A gente tinha planos de tocar, de fazer show na Europa, de lançar um disco de Hip Hop com uns mano, mas o único que eu consegui fazer até agora foram as versões rockabilly do Ratos com os Asteroides Trio, ficou sensacional, músicas muito boas. Essa vai ser minha comemoração.

Lançamos o clipe da música “Deixe me leva la pra Casa” e quem fez o clipe foi o Raul Machado. Quem é o Raul? Ele é o videomaker de 90% dos clipes que rolavam na MTV de bandas nacionais nos anos 1990. Se você for dessa época, vai lembrar de clipe do Raimundos, do Marcelo D2, Nação Zumbi, muito clipe foi ele que fez. E ele tá com um projeto morando em Curitiba, fica na casa dele fazendo clipe para os outros. Ele fez vários para bandas gringas também, bem legal. As gravações em geral são bem simples, vem aqui na minha casa e tal. O que chama mais atenção é o Raul mesmo, o mestre.

Minha maior referência artística fora da música é…

Eu curto muito cinema nos anos 1970, filmes de terror, vários filmes clássicos que passavam de madrugada na Globo, que eram proibidos pra gente. Coisas antigas tipo Deliverance (1972) com o Jon Voight e Burt Reynolds, Planeta dos Macacos (1968) com o Charlton Heston, Mad Max (1979), Os Selvagens da Noite (1979)… A minha infância foi nessa época então eles me marcaram bastante, formaram o meu jeito de ser. 

A pandemia e a quarentena me ensinaram que…

O povo é suicida, burro pra caralho, negacionista, tá ligado? E que o Bolsonaro é um grande filho da puta, genocida. As pessoas são estúpidas por negarem uma pandemia tão terrível, 300 mil pessoas mortas e o pessoal negando, achando que é tudo mentira, cloroquina, essas palhaçadas. Vamos chegar a 1 milhão de mortos para o Brasil aprender a ser humilde.

Meu xodó da discografia do Ratos de Porão é… 

Brasil, primeiro que alavancou a gente com carreira profissional e foi gravado em Berlim com um puta produtor foda. A gente saiu e foi em primeira turnê europeia, o disco é muito bom, muito bem produzido, uma ótima fase do Ratos. A gente tinha ensaio próprio, muita criatividade, ensaiando todo dia, o disco é bem clássico, as letras, músicas, a capa, e é terrivelmente atual, né? Você pega músicas como “Amazônia Nunca Mais”, “Farsa Nacionalista”, “Retrocesso”, “SOS País Falido”, parecem que foram feitas ontem. É terrível. Mas o meu favorito é um que chama Carniceria Tropical que foi gravado em São Francisco pelo Billy Anderson, um produtor muito foda, um cara muito profissional. O disco é impecável, tanto nas músicas, composições, em uma época muito alternativa nossa pós Metal.

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ARTISTA: João Gordo
MARCADORES: Tantas Coisas