Não há quem negue, a última sexta-feira em São Paulo, pelo menos na região do Cine Joia, teve dois protagonistas. A primeira obviamente foi Sharon Van Etten, pela primeira vez na América do Sul, fazendo seu segundo show no Brasil (o primeiro foi no dia anterior, no Rio de Janeiro). Mas quem também foi o centro das atenções foi o Dia dos Namorados.
Numa noite romanticamente fria, na casa com um bom público, mas longe de estar lotada, os presentes se dividiam entre fãs da cantora que a escolheram como a companheira de desilusão amorosa e casais apaixonados que, entre programas mais intimistas e restaurantes lotados, escolheram um belo show pra compartilhar com a pessoa amada. O pessoal do Cine Joia também decidiu entrar na brincadeira (e incluir também um toque de festa junina) e distribuiu maçãs do amor, paçocas, doces de abóbora e outros mimos na entrada – gesto simples, mas que deixou a noite ainda mais agradável.
Aliás, a sensação geral era esta, de uma noite especialmente diferente do que estamos acostumados a presenciar em shows em São Paulo, todo mundo muito tranquilo, a fim de curtir uma apresentação bela e inesquecível.
Sharon é muito simpática, protagonizando uma das interações de palco mais verdadeiras que vi em shows, sem as tradicionais tentativas de falar português ou fazer elogios padrões e esperar gritos satisfeitos do público. A cantora respondia às sugestões pro setlist, comentava que não ia tocar certa música por ter esquecido a letra, contava as histórias por trás das canções e num dos momentos mais divertidos, quando um rapaz gritou que Are We There havia sido o melhor disco do ano passado e ela respondeu “Mas como isso é possível? O Bon Jovi lançou um álbum no ano passado”.
Musicalmente, o show foi bem de acordo com as expectativas, tudo muito bonito e de acordo com o que ouvimos nos discos, com uma escolha de faixas bastante baseada em seu último LP. Sharon não prolonga ou se empolga além do necessário nas músicas e sua banda consegue surpreender em alguns momentos mais intensos, mas sempre respeitando a visão da compositora e sabendo transportar a mesma emoção dos discos para o palco. Em entrevista, ela contou que acaba se emocionando ainda mais quando o público não interage tanto, o que – como já prevíamos – não foi o caso por aqui.
O saldo final foi de uma vontade maior de que artistas como Sharon Van Etten, com belos discos, mas que não caem tanto na boca do povo quanto outros, estejam mais presentes por aqui, em horários mais razoáveis como foi este – começou pouco depois das 21 horas -, conseguindo oferecer mais boas opções de programas tanto em dias normais, quanto em ocasiões especiais como o dia dos namorados. O romantismo estava claramente presente naquela noite, mas Sharon conseguiu ser a companheira ideal, tanto para quem estava sozinho, quanto para quem estava acompanhado.
