Os Dez Anos do Disco mais Calmo do The Strokes

“Room On Fire” comemora uma década de idade demonstra ser um dos trabalhos mais maduros e serenos do grupo. Era isso que você esperava dos nova iorquinos?

Loading

Em tempos de vestibular, o velho ditado de que fácil é entrar mas difícil é sair se aplica muito bem a um dos maiores desafios da música: o segundo disco. Longe de ser simplesmente um adereço secundário, o trabalho posterior a um sucesso contribui muitas vezes para que uma banda desapareça ou exploda com a mesma facilidade que um pêndulo oscila entre dois lados. Tratamos, no entanto, um dos grupos mais influentes de toda uma geração e as comemorações de dez anos se fazem necessárias ao The Strokes e seu segundo filho.

Como superar ou pelo menos manter o ímpeto inicial de um conjunto de amigos que tinham antes um ideal comum? O primeiro disco pode ser interpretado como a identidade que adquirimos ao longo de nossa adolescência, parece durar pra sempre mas nada mais é do que uma simples fase da vida, efêmera como qualquer outra. No entanto, ela cria esse “eu” que sempre estará presente com você, e as tentativas de mudança são muitas vezes acompanhada por críticas de amigos, familiares ou fãs. Logo o segundo trabalho pode ser dividido entre dois extremos: o conservador e o inovador. Na maioria dos casos, uma banda escolhe o primeiro caminho. Podemos dizer que Room on Fire segue esta tendência mas com algumas explicações plausíveis e um curioso e bom amadurecimento durante esta década de vida.

Quando lançado em 2003, o disco foi taxado de clichê ou lugar comum por críticos que haviam engradecido, merecidamente, os nova iorquinos e que esperavam que a revolução fosse constante e presente mesmo em tão pouco tempo. Gravado e idealizado durante a extensa turnê que o grupo fez dado o estrondoso sucesso de Is This It?, a obra nada mais é do que uma coleção de canções que seguem o mesmo espírito da estreia mas trazendo muito mais toques melódicos e um Albert Hammond Jr inspiradíssimo.

Ao escutar novamente todo disco, podemos constatar que oReptilla, faixa do nível de uma Last Nite em termos de popularidade entre o fãs, esconde a faceta mais calma que o quarto em chamas apresenta. Vibrante, o segundo single do álbum é exatamente a evolução que esperávamos do Strokes com suas progressões pausadas, ótimas transições de instrumentos e um Julian Casablancas extremamente enérgico. Segunda música, pode ser vista como um choque inicial certeiro. Entretanto, as músicas posteriores acabam sendo construídas em melodias mais aveludadas do que ríspidas.

What Ever Happened? abre tudo com Julian dizendo: “I wanna be forgotten and I don’t wanna be reminded”, um claro grito juvenil de alguém se viu querido e famoso do dia pra noite. As inseguranças não transparecem em seguida, e faixas como You Talk Way Too Much com seu refrão “give me some time, I Just need a little time” mostram o músico de saco cheio ao mesmo tempo em que Albert joga-se em solos que pareciam muito mais monocromáticos na estreia.

A coleção de baladas parece infinita. Between Love & Hate é toda swingada e chama o amor pra dançar enquanto se afirma que nunca ninguém foi necessário (“I’ve never needed anybody”). Ou que as necessidades são pontuais como Meet Me In the Bathroom, faixa que mais se aproxima das músicas do início da carreira do grupo. A progressão de acordes na chamada “ponte”, momento entre verso e refrão, extremamente característica do Strokes, pode ser vista aqui.

Curiosamente, a identidade dos nova iorquinos, algo que se perdeu em discos posteriores, pode ser vista aqui mesmo com tantas baladas e melancolia. Under Control soa romântica com um término de relacionamento que explora a juventude, a diferença de ideologias e o desejo de ver a outra pessoa “feliz”. O momento mais curioso fica com The Way it Is, pesada e muito mais distorcida que qualquer outra faixa e que tem na bateria, tão seca de Fabrizio que quase parece eletrônica, o ponto principal. Deixada pro fim, The End Has no End pode ser considerada a grande síntese desse disco. Progressiva mas melódica tem toques de balada enquanto consegue explodir nos momentos mais apropriados. O riff de guitarra de Nick Valensi combinado ao solo enérgico de Hammond exportam o produto de Room on Fire ao mundo inteiro até hoje. A faixa, celebrada no último show do grupo em terras brasileiras, é grandiosa em todos os sentidos.

Como segundo disco, Room on Fire não perde muito do espírito que é pedido atualmente à banda, algo que dificilmente consegue-se manter durante muito tempo em um relacionamento. O entrosamento existente na época e que posteriormente traria a tona o genial First Impressions of Earth, ruptura coerente com a carreira do grupo e uma real evolução naquele terceiro álbum, pode ser muito bem notado aqui. Atualmente, o disco soa muito mais melódico, baladeiro e calmo, algo que faz muito bem a discografia do grupo e que poderia ser notado logo de cara pelos críticos ao escutarem 12:51, faixa serena e sintética. A confiança nas letras de Julian o na abertura musical aos próprios músicos que saíram de linhas padrão para inovar mesmo que calmamente, fazem desta uma ótima e madura segunda obra.

Loading

ARTISTA: The Strokes
MARCADORES: Aniversário

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.