Barra por Barra: viva Q-Tip

Por que o MC (produtor e aniversariante da semana) que fez história no A Tribe Called Quest é um dos maiores; três vezes em que o hip hop foi respeitado; e a união pagode e Detroit

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Fotos: Mariana Poppovic (design)

 

Barra por Barra é o espaço no qual o João aparece por aqui às sextas-feiras para falar de hip hop e de tantas outras coisas que vêm junto com a (enganosamente simples e definitivamente sedutora) ideia de “falar de hip hop”. Ritmo, poesia e opinião – com o João.

 

 

Q-Tip não é De La Soul, mas merece suas flores

Q-Tip é subestimado. Como produtor e como rapper, não é raro que se esqueçam dele nas listas de Top 10. Aniversariante da semana e com mais de 20 anos de carreira, o líder do A Tribe Called Quest está ao lado de nomes como Pusha T e Black Thought na seleta prateleira de artistas que conseguiram articular trabalhos icônicos tanto com seus grupos, como em carreira solo – com o diferencial ainda de ser seu próprio produtor.

Se hoje existe Tyler, The Creator, muito pode se creditar a Q-Tip. Maior ídolo de Pharrell Williams – que por sua vez é a principal referência de Tyler – Q-Tip puxou um bonde de artistas que ficou conhecido por Native Tongues, movimento responsável por germinar a semente do rap alternativo.

Pioneiro na mistura do rap com jazz, Q-Tip, tenho certeza, é um desses caras que seria capaz de fazer uma batida cabulosa se ETs descessem à Terra amanhã com uma máquina de produção nunca vista pela humanidade. O vídeo abaixo é uma prova: ele cria uma batida apenas colocando e tirando a agulha de um mesmo vinil, deixando Kanye West e No I.D. embasbacados. Se não J. Dilla ou Madlib, Q-Tip provavelmente é o produtor favorito do seu produtor favorito.

O reino intocável do hip hop está ruindo

Daniel Ganjaman está assustado. O trap em formato de diss do cantor Zé Felipe, em resposta a um comentário do jornalista Evaristo Costa sobre a esposa, foi suficiente para ativar os gatilhos de Ganjaman. Em tom alarmante, como quem vê o hip hop agonizando numa maca e sem o poder de ajudá-lo, o produtor do MPB-Rap de Criolo foi ao Twitter fazer seu protesto, relembrando os velhos e longínquos tempos de quando o hip hop era respeitado.

Em homenagem a Ganjaman e em luto prévio pelo hip hop (não morreu ainda, mas a gente sabe que tá muito perto), aqui uma seleção de três vezes em que o hip hop foi respeitado. F no chat.

Romário e Edmundo – Rap dos Bad Boys (1995)

Sérgio Mallandro e Faustão – Rap do Ovo (1991)

Rap da PM

O Detroit BR está indo longe demais

Fagocitar outros gêneros musicais é inerente ao rap, mas até eu que gosto da bagunça, sinto que as coisas estão indo um pouco longe demais. Se alguém te dissesse que misturaram pagode com rap, você provavelmente pensaria em algo como Luccas Carlos ou Poesia Acústica, certo? Mas não, dessa vez uniram pagode com Detroit. Numa letra que faz referência de Thiaguinho a Negritude Júnior e interpola Tim Maia e Péricles, a música de Belsin é tão confusa quanto um rapper de Belo Horizonte fazer um clipe com a camisa do Palmeiras. Eu não sei o que sentir.

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