Você provavelmente se lembra de Carly Rae Jepsen, aquela menina que lançou o mega hit Call Me Maybe, o single mais vendido de 2012, aquela música que muita gente de respeito que aprecia o Pop mais disseminado legitimamente elogiou (e quem gosta de pagar de irônico/malandro fazia questão de dizer que curtia). O que talvez ainda não saiba é que seu novo álbum, Emotion (ou E•MO•TION), deu uma levantada em seu som, que ficou com uma cara mais contemporânea e bacana, com ajuda de nomes como Ariel Rechtshaid, Dev Hynes (Blood Orange) e Rostam Batmanglij (membro da banda Vampire Weekend) no grande elenco de produtores.
Se a primeira pergunta que te vier à mente for “mas por que?”, a resposta pode ser mais simples do que você imagina. Já se o caso for “mas por que isso agora?”, as possibilidades são um pouco mais amplas. De qualquer forma, é curioso observar a escolha da canadense e de sua gerência para este seu terceiro álbum – que saiu nesta sexta, 21, em todo o Ocidente, dois meses após os japoneses já estarem dançando as novas faixas.
Antes de entrar nos argumentos para o disco, vale a pena ressaltar a parábola que ilustra a carreira da artista: Ela despontou no Canadá após ficar em terceiro lugar no programa de TV Canadian Idol em 2007 e lançou seu primeiro disco no ano seguinte. Após o lançamento do álbum Kiss e seu hit Call Me Maybe, ela viu sua persona ser uma das mais frequentes na mídia ao redor do mundo inteiro em um dia e motivo de piada pelo insucesso já na manhã seguinte, visto que sua carreira não teve o mesmo pique do single. Ou seja, era hora de se reinventar.
De volta às questões: Por que escolher esses produtores? Porque é isso mesmo o que a música Pop faz e sempre fez: Pegar as referências do que a vanguarda cria e dissolvê-las de uma maneira mais palatável, mais consumível, à grande massa. Um exemplo é a carreira de Madonna, que costuma chamar algum produtor de renome em um nicho em ascensão para trabalhar com ela – Diplo foi o caso mais recente. Mas, na real, essa história se repete espantosamente por todo o mainstream e a “Rainha” é apenas uma das tantas artistas que trabalham assim. Apostar em uma produção assim, portanto, seria uma escolha segura.
O problema fica mais denso quando perguntamos o porquê de fazer isso agora, com um som que, sabemos, não vende tanto quanto o Popzão de sempre. Resumindo muito, é um bom momento para o meio chamado de Alternativo, já que ele apresenta-se lucrativo para tantos (ainda mais quando não é vanguardista de fato, mas também já diluído, como os trabalhos aos quais esses produtores estão associados – Sky Ferreira, Haim, Charli XCX e Brandon Flowers, entre muitos outros). Rende menos grana do que Call Me Maybe? Com certeza, mas ainda gera uma boa receita. O melhor exemplo disso foi o que Lana Del Rey fez pouco antes de Carly estourar na mídia: Ela não deu certo como Lizzie Grant fazendo um som mais afinado no mainstream e reinventou-se para ser Lana no tal “Alternativo”.
Enquanto muitos ficarão surpresos com a reinvenção de Carly Rae Jepsen, ela ganha um novo fôlego na carreira. Seu ponto mais alto nesta fase não tem chances de repetir o sucesso do passado, mas é certamente muito mais alto do que o de tantas cantoras por aí, em parte porque ela já possui um acesso aberto ao grande público e porque, como você deve suspeitar, o novo disco veio caprichado.