Entrevista: Cachorro Grande

Vocalista Beto Bruno contou sobre as escolhas da banda para o disco “Costa do Marfim”

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Fotos: Cisco Vasques

Cachorro Grande é aquela banda que todo fã de música contemporânea no Brasil conhece – seja por causa de um clipe, de um show que já viu ou por este nome percorrer desde as mídias mais obscuras até a presença marcada na antiga MTV, o que prova o alcance que o grupo gaúcho conseguiu ter ao longo destes quinze anos de carreira.

Sua novidade da vez é o álbum Costa do Marfim, seu sétimo lançamento, produzido por Edu K. Desde que saiu a ótima Como Era Bom, fiquei curioso para ver o que a banda aprontaria para o disco. Agora que ele saiu, nos deparamos com uma obra bem diferente de tudo aquilo que estávamos acostumados a associar ao quinteto.

Para entender melhor o trabalho, conversei hoje (17) à tarde com o (simpaticíssimo) vocalista Beto Bruno por telefone, que explicou melhor as escolhas que Cachorro Grande teve no estúdio para este trabalho.

Monkeybuzz: Costa do Marfim saiu há dois dias. Como vocês avaliam as primeiras respostas que o álbum teve?
Beto Bruno/Cachorro Grande: Incrível. Acho que, desde quando lançou o single (Como Era Bom), nosso trabalho nunca foi tão divulgado, nunca teve uma repercussão tao legal, tão positiva. Estamos sorrindo de orelha à orelha. Foram anos e anos de luta e agora a gente tá vendo nosso trabalho reconhecido, é uma alegria incanculável.

Mb: Comparando ele com Baixo Augusta, tenho a impressão de que, enquanto seu anterior parecia mais um disco “convencional”, com as músicas mais prontas para os shows, este tem mais cara de um trabalho de estúdio.
Beto: É exatamente isso. Eu acho que a grande diferença pra esse disco e pra todos os outros é a maneira de gravação. Nos outros, nós chegávamos com os arranjos prontos, muito ensaiados. Nos trancávamos um mês antes, chegávamos no estúdio com os arranjos todos definidos. Era uma “gravação oficial”, era reproduzir as demos e o que tinha feito nos ensaios. Este a gente deixou pra criar no estúdio, aí ficou mais experimental. Todas as coisas aconteceram ali e o resultado ficou mais viajadão, as músicas ficaram maiores, mais com elementos que a gente inventou na hora. Acho que esse é o grande valor deste disco, a gente deixou as coisas acontecerem, nada foi definido antes. Agora que terminou o disco e a gente vai começar a fazer os shows, agora é que a gente tá ensaiando e quebrando a cabeça – porque é dificil essa música, velho! (risos) Vai ter programação junto, o que a gente nao tinha nos outros shows, nas outras turnês. Tem alguns overdubs, tem bateria eletrônica com bateria normal junto. Tá o disco perfeito, só que com mais peso, que é a característica no show.

MB: E como foi o trabalhar com Edu K na produção?
Beto: Ele é um dos responsáveis por a gente ter a mentalidade de deixar as coisas pro estúdio. Ele ajudou a arranjar o disco como se fosse da banda. Se envolveu, não saiu de cima, foi o produtor mais incrivel com quem a gente já trabalhou. A gente nunca deixou alguém se envolver tanto, nunca foi assim. Ele é um dos culpados pela nova sonoridade da banda, quero fazer mais uns dois discos com ele, como David Bowie com Brian Eno em Berlim, que também foi influência pra esse disco. Já avisei ele que vamos entrar em estúdio de novo no meio do ano que vem.

Mb: Na sua perspectiva, você sente que Marcelo Gross trouxe alguma coisa diferente para o estúdio depois de seu disco solo?
Beto: Uma das coisas mais legais é que ele conseguiu separar bem uma coisa da outra. As músicas do disco solo remetem às coisas antigas da Cachorro Grande. É um trabalho que não tem nada a ver com a banda hoje, ele diferenciou bem as coisas. Mas quando eu lançar o meu solo, vou dar um pau no dele (risos).

Mb: Opa, então existem esses planos de um disco seu?
Beto: Sei lá, inventei agora (risos).

Mb: Tá bom, mas eu vou publicar mesmo assim.
Beto: Tudo bem, a responsabilidade é sua, você é quem tá falando (risos).

Mb: Então, voltando ao assunto, você enxerga Costa do Marfim dialogando com a música de hoje em dia?
Beto: Sim, principalmente com Kasabian, que a gente tem ouvido há muito tempo, e discos solos do Ian Brown (The Stone Roses). Tem um pouco de Primal Scream aqui e ali, porque a banda se reinventou no disco novo, e a gente é muito chapado em Tame Impala, que levou o Rock pra outro lado, mais “viajandão” de novo. Tem tudo isso junto.

Mb: Como que você mede a dimensão que Cachorro Grande tem hoje?
Beto: Quanto a popularidade, é o seguinte: Disco a disco, a gente dá uma crescidinha. A gente cresce em equipamento, palco, equipe e público de ano em ano, sempre foi assim. A gente tem o nosso espaço que a gente construiu, independente de estar na mídia ou não. Já musicalmente, acho que não tem ninguém fazendo isso que a gente fez no Brasil. É algo novo pra Cachorro Grande e pro Rock no país. Mas, não me leve a mal, não estou sendo metido, só acho que a dimensão musical é melhor que a popular.

Mb: Não dá pra negar as variações que o disco tem de faixa pra faixa…
Beto: A ideia era essa, acho que isso faz muito bem pra um disco. Sabe o Jardim Elétrico dos Mutantes? Cada música parece uma banda diferente. Acho isso muito doido e a gente sempre quis fazer isso. Foi um dos assuntos principais meus e do Edu antes de entrar no estúdio, a gente quis diferenciar uma música da outra.

Mb: Sim, mas existe um grande risco em fazer isso, quem ouve da primeira à última faixa pode cansar da jornada de ir de um lugar ao outro em cada música, né?
Beto: Estamos correndo o risco (risos). É muito louco. Ele não é tão fácil, é pra quem gosta de música mesmo, mas a gente não pode pensar quando tá gravando ou quando tá criando em não fazer o que a gente gosta, ainda mais com a propriedade que a gente tem, que pode fazer coisas diferentes. Se é pra fazer um disco doido, vamos fazer louco mesmo porque loucura pouca pra mim é bobagem. Tem o risco dos fãs estranharem, de nos shows quem nao ouvir o disco não entender, mas não importa. A gente não é obcecado pelo sucesso, mas por música boa.

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MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.