Johnny Cash ao vivo em Folsom Prison

Não é todo dia que um (bom) álbum é gravado em um presídio

Loading

Fotos: Michael Ochs Archives/Redferns

Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

At Folsom Prison

Pense só por um minuto, se hoje em dia, na era do tribunal do Facebook (como bem batizou Tom Zé), o bafafá que seria um artista anunciar que gravaria um disco ao vivo em um presídio? Dá só para imaginar o número de textões e petições online que surgiriam do dia para noite por amantes e haters deste artista fictício.

Mesmo que não foi o primeira a ter a ideia, é fato que Johnny Cash conseguiu o mais bem sucedido disco dentre os que tentaram tal feito com seu At Folsom Prinson (1968). Ali, naquele ambiente, ele esteve diante daqueles que inspiraram diversas de suas canções e retribuia o favor ao dar-lhes momentos de escape através de histórias similares aqueles que habitam suas músicas.

Cash abre com a canção que leva o nome do presídio de segurança máxima, com seu solo fácil de cantarolar e letra que era ingresso garantido para conquistar a empatia do público). Cocaine Blues, outra que figura entre as mais conhecidas do compositor e que ganhou uma cena no filme que conta sua história, lançado em 2005, é destas que empolgam e devem ter preocupado os responsávei pela segurança e contenção dos presidiários naquele dia. Sua letra, que conta uma história violenta de vingança, toca em um dos pontos presentes em diversas outras letras – a da solidão não só do cárcere mas também a que já havia antes dele – e o registro da empolgação durante sua execução está ali, entre frases gritadas por eles.

Send a Picture of Mother fala sobre alguém que conversa com seu companheiro de cela no dia em eu que ele será solto. Além de lamentar a partida de alguém que se tornou praticamente um irmão, o personagem pede para que ele entregue uma foto a sua mãe e para que fique mais momento antes de partir.

Uma das mais tristes entre as diversas baladas, The Wall narra a situação de um homem que passava seus dias encarando a parede que o separava da liberdade e que vivia planejando uma fuga. Quando esta acontece e ele é morto durante o ato, vem o desfecho do observador que sabia que, na verdade, ele procurava o suicídio.

Em Jackson, June Carter, que aparece brevemente em Greystone Chapel, sobe ao palco para o famoso dueto, dois meses após o casamento com Cash. Antes de começar, é difícil não sorrir com o músico interronpendo um dos momentos de stand up comedy de June com um “ok, vamos começar a música”.

Momento antes de encerrar a gravação, I Got Stripes chega com sua narrativa alucinada da rotina de um presidiário hiperativo, por assim dizer, e que no embalo crescente da música narra visitas e tentativas frustradas de fuga.

Imaginar algo similar hoje em dia, talvez, não seja tão difícil assim, já que própria repercussão garantida que citei no começo do texto poderia ser um grande atrativo. Mas combinar a oportunidade com uma figura emblemática como o lendário artista Country, sua contravenção, as letras de uma honestidade tremenda (voltadas para o sentimento daquelas pessoas e não para a política da situação), aí já é algo bem mais complexo de acontecer de novo.

Loading

ARTISTA: Johnny Cash
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Videomaker, ator e Jedi