Melancolia em Poesia Pop e Samplers de Blues

Moby deu um tom orgânico à música Eletrônica com seu “Play” em 1999 e garantiu doze milhões de cópias vendidas ao redor do mundo e um disco que marcou época

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Moby – Play

Antes de correr para meu serviço de streaming preferido e mergulhar em Innocents, o mais novo álbum de Moby, achei melhor revirar o baú (na verdade, minha estante) e tirar de lá uma empoeirada cópia (mas nem tanto assim, vai) de Play, álbum que ouvi incessantemente quando ele saiu, em 1999, e diversas vezes nos próximos anos.

Meu fascínio pelo disco veio como consequência da época em que ele chegou. Com o peso do som de nomes como Prodigy e The Chemical Brothers dominando as cenas (e as paradas de sucesso), eu buscava alternativas mais Pop dentro do gênero, como You’ve Come a Long Way Baby de Fatboy Slim (uma boa ideia para um próximo Fora de Época), ou como a Eletrônica influenciou mais que positivamente o Pop, com Madonna e seu Ray of Light (opa, mais uma boa) sendo o maior exemplo disso.

Daí veio o careca franzino de Nova York e roubou minha atenção com um som mais orgânico que qualquer outro desses. Mais ou menos o que Daft Punk propôs em seu Random Access Memories, o tal “give life back to music”, mas menos focado nos instrumentos e mais concentrado no recorta/cola dos samplers. Por mais “feito no computador” que o disco seja, ele tem uma aura artesanal facilmente notada e um aspecto “mela cueca” que atraía facilmente qualquer recém-adolescente como eu.

Moby soube escolher muito bem canções perdidas nos anais fonográficos norte-americano, com fortes raízes Folk e Blues, para criar suas composições (algumas delas, grandes hits) e garantir as doze milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. Elas contam ainda com algumas guitarras espertas, um ou outro piano bem bonito e o vocal também “magrelo” do músico.

Ele entoa poemas (If Things were Perfect, The Sky is Broken), canta arrastado (Porcelain) e faz dueto com Gwen Stefani (South Side), mas seu maior mérito fica como o regente de samplers, efeitos e instrumentistas que o acompanham ao longo das 18 faixas, todas elas licenciadas para algum uso em publicidade ou trilha sonora – e essa foi a primeira vez que um álbum viu todas as suas músicas serem aproveitadas dessa forma.

Isso aconteceu porque as faixas são muito variadas entre si (do dançante pesadinho de Bodyrock e Machete ao som etéreo de My Weakness, passando pelo instrumental orgânico e abafado de músicas como Guitar, Flute and String), mas principalmente por elas possuírem uma qualidade Pop muito evidente, aquela agrabilidade que consegue atingir um grande público e tanto incomoda os alternativos mais radicais.

Mas a impressão que eu tenho é que, por mais plástico que ele seja às vezes, se você passar o disco em uma peneira, o que vai ficar é uma dose boa de coração. É nas músicas mais tristes que Moby mostra seu valor como compositor, conseguindo reunir uma coletânea que sabe tirar uma resposta emocional do ouvinte.

É a melancolia presente, às vezes apenas nas entrelinhas, em faixas como Rushing, Inside, Find My Baby e Downslow, além dos sucessos Why Does My Heart Feel so Bad? e Porcelain, que dá o tom do disco e divide nossa atenção com os samplers simpáticos de Natural Blues, Honey e Run On, por exemplo.

Marcou a época, mas não soa datado. Vale mesmo o play.

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ARTISTA: Moby
MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.