Nick Drake: O que o Tempo Não Levou

Quarenta anos após seu falecimento, conjunto da obra revela músico genial e atemporal

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“O tempo me disse para não pedir por mais, pois um dia nosso oceano encontrará sua praia” – É interessante como, antes dos 30 anos, Nick Drake escreveu tanto sobre a figura do tempo. Em sua breve discografia, marcada por três obras, assim como nos lançamentos póstumos, o tema se repete na ironia de uma vida tão breve, que mal teve oportunidade de ver o tempo passar de fato.

Recentemente, seu nome tem sido mais frequente, já que o 25 de novembro de 2014 marcou os 40 anos do seu falecimento. As quatro décadas foram tempo mais do que o suficiente para que o oceano de suas composições encontrasse as praias de inspiração para tantos músicos que, em diferentes continentes e períodos, reconhecessem a genialidade e talento do compositor – algo que ele nunca viu em vida e que, pelo que contam, contribuiu com a depressão que levou sua vida.

Não se sabe se ele errou a dose dos remédios naquela noite de propósito ou não. Gabrielle Drake, sua irmã mais velha, disse certa vez que preferia que fosse decisão dele, não um acidente tão trágico que poderia ser evitado. Ela é a única membra viva da família e tem, além da carreira consagrada como atriz na Inglaterra, o trabalho de perpetuar a memória do irmão – incluindo os recentes lançamentos de raridades do músico.

Sua história é melhor apreciada assim, de trás pra frente. Fica a impressão de que contemplar sua obra a partir de sua morte é mais do que finalmente valorizá-la devidamente, mas encontrar uma nova melancolia em suas composições. Sim, elas são de uma beleza que dói, mesmo quando não se apresentam tristes. E, sim, revelam uma mente que não poderia mesmo pedir por mais tempo (como a letra da música diz), porque já havia suportado mais do que conseguia.

O que ficou foi uma beleza que chega a doer em cada uma de suas faixas, tenham elas muitos timbres (cordas, sopro etc) ou apenas voz e violão. Nick sabia como poucos desenhar linhas melódicas para cada voz em arranjos que impressionam não pelo tamanho, mas justamente pela simplicidade. É como se ele fosse reger uma orquestra inteira e a sinfonia coubesse em um sussurro. Dádivas da timidez crônica.

É estranho falar em “aniversário do falecimento”, já que a primeira palavra carrega uma carga festiva imediata. Comemoremos, entretanto, sua obra e a inspiração rendida sem data de validade para acabar. É impressionante a quantidade de bandas que citam Nick Drake como influência. De tão breve, sua vida permanece jovem hoje e sempre. E a melancolia presente nisso tem tudo a ver com sua música. E é bela.

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ARTISTA: Nick Drake
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.