Entrevista: Céu

“Tropix”, mais novo álbum da cantora, é pauta em conversa ao site

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A música contemporânea do Brasil tem um capítulo todo reservado à paulistana Céu, cantora que trabalha uma identidade bastante própria em estética impecável já há mais de uma década.

Por telefone, ela falou ao Monkeybuzz sobre o processo por trás do excelente e recém-lançado Tropix, disco que explora novas nuances do som que ela chamou de “retrô contemporâneo”, além de comentar sobre sua discografia e a música brasileira de hoje.

Monkeybuzz: Como foi o processo de criação por trás de Tropix?
Céu: Bom, eu começo a pensar em um novo disco quando eu tenho essa vontade de contar histórias novas e transitar por um outro universo dentro da minha forma de compor. Nesse caso, eu lembro de iniciar ao escrever em um caderninho “beat tropical”. Eu estava com vontade de flertar com as máquinas e com beats, eu já tinha feito isso no primeiro disco, mas queria trazer uma coisa mais sintética, mais “robozinha”, mas sem deixar de lado o Brasil, o jeito que escrevo, as minhas raízes, a tropicalidade toda. Vem daí a história de Tropix, de “trópico” com “pixel”, uma leitura digital dos trópicos.

Mb: Você acabou de citar o primeiro disco e repetir um pouco dele agora. Ao preparar um novo disco, você tem uma percepção da sua maturidade, de conseguir fazer hoje algo que não faria antes?
Céu: Acho que existe uma noção do que você está conquistando, do que a estrada te deu e como você mesmo se encara na música. No meu caso, eu sempre fui uma pessoa que foi de mansinho com tudo, por sempre ter tido uma personalidade mais introspectiva, mais na minha, fui resolver toda essa minha timidez no palco. Sempre tive um jeito de observar com calma o que eu mesma estava querendo mudar e fazer. Não é que eu faço uma estratégia do quanto eu amadureci e posso agora fazer um disco de tal forma, acho que é uma coisa um pouco intuitiva em que eu vou desenhando a personalidade do próximo disco. É um pouco subjetivo, mas é natural, vai acontecendo tijolo a tijolo. Minha maneira de compor e de começar esse disco começou por querer usar sintetizador, eu queria usar arpeggiator – na minha cabeça, se o pixel tivesse um som, seria tipo um arpeggiator. Eu sou assim, com um jeito muito louco e de formatar um conceito de álbum. É como uma parede de colagens, você vai colando coisas e, daqui a pouco, tem aquilo ali.

Mb: Interessante. Dá para perceber que os discos vêm para você mais como um conjunto fechado de músicas do que uma coleção de músicas mais aleatórias.
Céu: É isso mesmo. Eu acho que existe um todo com o qual eu quero trabalhar, eu acho que isso também fala um pouco sobre o fato de que eu sempre curti fazer muitas coisas diferentes. Quando eu era menor, eu gostava de desenhar, sabe? Existem aspectos da minha personalidade que são assim, eu sou uma pessoa que curte cozinhar, por exemplo, e acho que fazer um disco tem esse mesmo traço, de juntar temperos (risos), um temperinho daqui e outro de lá. O disco também tem uma cartela de cor, assim como um desenho ou uma pintura. Essa é minha forma de trabalhar.

Mb: Essa suspeita das ideias virem muito em conjunto também é o fato de você lançar clipes que carregam em si as capas dos discos, mostrando a coesão de toda a obra, um cuidado com esse aspecto.
Céu: É, porque eu acho que um trabalho artístico é sobre isso. Você está colocando o seu nome, eu acho legal você dar atenção aos detalhes todos. Eu sou uma pessoa detalhista e acho bonito assinar podendo dizer que fiz bastante coisa com aquele material.

Mb: Sobre sua discografia, seu último lançamento não foi o Caravana Sereia Bloom, mas um DVD ao vivo, que deu conta da sua carreira como um todo até então. Lançar um disco após algo assim é também começar um novo ato, depois do anterior já ter sido resumido?
Céu: É engraçado, o jornalismo me trouxe essa reflexão. As pessoas, assim como você, me fizeram essa pergunta muitas vezes, se eu me sentia ao final de um ciclo. E eu não me sentia assim, de jeito nenhum – e não me sinto nem no fim de um, nem no início de outro. O DVD veio quando foi possível ser realizado e calhou depois de ser na fase do Caravana. Vendo por essa ótima, acho interessante pensar em um fim e em um novo ciclo. Mas também acho que é claro que, depois de um DVD, a gente faz outro disco. Então, não sei se eu filosofo tanto sobre essa questão. Já existia uma carreira de três discos, era uma boa hora.

Mb: Você hoje se enxerga dentro de algum movimento ou algum momento da música brasileira específico? Céu: Olha, eu não tenho esse olhar distante de mim mesma, ou até a longo prazo, para conseguir identificar sobre o que se trata o que está acontecendo hoje na música brasileira. Mas eu acho que tem uma coisa muito bonita sobre as mulheres comporem. Isso é muito interessante, aconteceu de alguns anos pra cá com mais frequência do que antes. Isso eu identifico, mas sobre uma cena ou coisa específica… Enfim, me sinto uma filha do tropicalismo, me sinto parte de uma continuidade disso. Mas eu não consigo ter um olhar frio para dizer se isso é um movimento ou não. Eu acho bacana olhar para o lado e ver que tem muita gente boa. Isso me inspira.

Mb: Sobre esse olhar para o lado, dá para ver que você tem um diálogo com alguns outros músicos – Tulipa Ruiz canta com você em uma das faixas de Tropix, por exemplo. Céu: Sim, eu acho isso maravilhoso. O Brasil sempre foi um país muito diverso em estilos, vozes e de artistas no geral. Para mim, seria muito chato estar sozinha no barco. É muito mais legal olhar para o lado ver todo mundo junto e a favor. Acho a Tulipa maravilhosa, a Karina Buhr é incrível, Clarice Falcão… tem muita gente interessante.

Mb: Sobre isso de ser filha do Tropicalismo, eu observo na sua música uma relação muito interessante com o tempo, com seu som sendo contemporâneo também à medida em que é nostálgico. Qual sua relação com essa passagem do tempo na música?
Céu: Eu sou desconfiada de gente que só quer ser moderno, eu acho impossível você criar qualquer coisa que já não tenha sido feita, de uma certa maneira. Talvez em 1960 ou 70, ainda tinha algo totalmente novo, mas a gente começou a voltar em ciclos depois. E isso não é ruim não, é bom, a gente consegue renovar, fica diferente. Eu olho muito para o passado para buscar coisas novas, acho difícil fazer algo totalmente fresco sem nenhuma referência do passado. Talvez seja por isso que você sinta esse eterno retrô, um “retrô contemporâneo” (risos) no meu trabalho, porque eu vou sempre olhar para trás de uma certa maneira e vou trazer essa bagagem da raiz para fazer uma outra digestão e mudar.

Mb: E o que podemos esperar do show de Tropix?
Céu: Então, o show está bastante baseado no disco. Estou muito feliz, os músicos são maravilhosos e a gente está animado. Acho que teremos shows lindos no SESC Pompeia*.

Shows de lançamento de Tropix*: SESC Pompeia (SP) 28, 29 e 30 de Abri. Venda online no site da rede SESC.

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ARTISTA: Céu
MARCADORES: Entrevista

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.