Cadê – Rita Lee – Rita Lee (1980)

Disco da cantora traz alguns dos maiores hits de sua fase pós-Mutantes

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A década de 1980 começou mais cedo para Rita Lee. Na verdade, desde que saiu de Os Mutantes em 1972, Rita foi impulsionada para frente – era uma popstar nata, uma cantora talentosa, bonita e inteligente. Quando deixou sua antiga banda, já contava com dois discos solo, na verdade, trabalhos assinados por ela, mas compostos e com participação dos Mutantes, a saber, Build Up (1970) e Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida (1972). Como sua saída não se deu de maneira harmoniosa, muito pelo contrário, com acusações de expulsão por parte dela, uma vez que Os Mutantes enveredavam pelo Rock Progressivo, além de Arnaldo Baptista, marido de Rita e cérebro pensante do grupo, ter sofrido sérios problemas por conta do uso de drogas, o que levou a relação de ambos ao fim. Rita saiu deprimida e sem saber o que fazer, mas não restava dúvida que ela era uma estrela, apenas esperando o momento certo.

O primeiro indício de recuperação veio com o duo formado por Rita e Lucia Thurnbull, chamado As Cilibrinas do Éden, em 1973. Não funcionou muito bem, mas a dupla foi a origem do Tutti Frutti, a novíssima banda que acompanharia Rita no seu próximo disco, Atrás Do Porto Tem Uma Cidade, lançado no ano seguinte. Seriam quatro discos com o Tutti Frutti, entre 1974 e 1978, num ritmo frenético de composição, com direito a um álbum ao vivo, gravado com Gilberto Gil, Refestança, em 1977. Naquele momento, Rita já conhecera o grande responsável pela chegada antecipada da nova década, o guitarrista Roberto de Carvalho. Ele surgiu como integrante da banda em 1976, justo quando Rita sofrera uma crise de estafa durante as sessões de mixagem de Entradas e Bandeiras. Rita e Roberto se apaixonaram mas enfrentariam um episódio truculento, típico da ditadura civil-militar, ainda no poder àquela época. Rita seria presa, grávida de três meses, por conta de uma suposta posse de maconha. Proibida de se apresentar e sob custódia da justiça, Rita ficou em regime domiciliar por um ano. Quando se viu livre, excursionou com Gil (que sofrera truculência semelhante em 1976) na turnê Refestança.

A presença de Roberto de Carvalho foi modificando o som produzido por Tutti Frutti até 1977, quando o guitarrista Luis Carlini abandonou a banda, mas levou consigo o nome, registrado por ele. Rita seguiu sozinha e, com Roberto sempre ao seu lado, compôs, produziu e lançou aquele que seria o maior sucesso de sua carreira, o disco homônimo de 1979, puxado pelo hit nacional Mania de Você. Esse trabalho inauguraria uma série de discos com influência nítida do Pop americano praticado na época, com teclados, baterias suingadas e composições cheias de arranjos dançantes. O segundo álbum, também homônimo, lançado sob essa nova orientação, chegou ao patamar de 800 mil cópias vendidas.

Com apenas oito canções, Rita Lee, o disco, teve todas as suas faixas tocadas no rádio. Algumas, como é o caso de Nem Luxo Nem Lixo, Bem-Me-Quer, Caso Sério e João Ninguém foram hits nacionais importantas, mas Lança Perfume (com andamento chupado integralmente de What A Fool Believes, de The Doobie Brothers), Orra Meu e Baila Comigo foram verdadeiros mamutes musicais na época. Em todos os cantos do país essas canções chegaram e fizeram sucesso além da conta, sendo que a última ainda foi inspiração definitiva para a novela das oito, escrita por Manoel Carlos, um ano depois. A participação de músicos como Lincoln Olivetti (teclados, arranjos), Robson Jorge (guitarra), Jamil Joanes (baixo), Bidinho (trompete), Oberdan Magalhães (Saxofone), entre outros, estabeleceu um nível altíssimo de competência para o disco, posicionando Rita numa espécie de vanguarda Pop nacional, lugar onde ela reinava absoluta, contando com o apoio do público. A crítica especializada não aprovou sua guinada Pop, geralmente acusando Roberto de pasteurizar demais os arranjos e limar suas conexões com o Rock que ela praticava com Os Mutantes e com Tutti Frutti. Estavam errados, obviamente. Rita seguiu inspiradíssima até 1985, quando lançou Rita e Roberto, tendo em Flerte Fatal (1987), seu último grande disco de material original. Seu período Pop é riquíssimo e merece muita atenção e redescoberta.

Rita Lee (1980) foi lançado em CD em meados dos anos 1990 e relançado recentemente, estando fora de catálogo há tempos. Mesmo assim, é possível encontrá-lo à venda em sites da internet por valores razoáveis, entre R$ 30,00 e R$ 50,00.

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ARTISTA: Rita Lee
MARCADORES: Cadê?

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.